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'A arte me salvou'

Artista plástico de São Caetano, Aleksandro Reis se prepara para festival de arte na África

Miriam Gimenes
04/02/2019 | 07:09
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Celso Luiz/DGABC


O artista plástico de São Caetano Aleksandro Reis, 44 anos, nem conseguiu ainda arrumar suas malas. É que na quinta-feira ele viaja para a África, para participar do Ipaf (Festival Internacional de Arte Pública) na Cidade do Cabo, e está se desdobrando para entregar trabalhos assumidos aqui e pensar no projeto a ser feito, junto a mais 13 artistas do mundo todo, em solo africano. “Estou trabalhando no projeto até de madrugada”, diz.

Mas ‘fazer arte’ em tempo integral não é problema para o muralista, que tem obras espalhadas pelo Grande ABC. Em São Caetano, por exemplo, onde mora desde 1997 – nasceu em Adamantina, Interior do Estado –, está um de seus maiores trabalhos, o do ginasta Arthur Zanetti, no Centro Digital, na Avenida Goiás. A imagem foi pintada especialmente para passagem pela cidade da Tocha Olímpica dos Jogos do Rio, em 2016.

Reis, que sempre busca um sentido para suas pinturas – tem como marca o colorido intenso e elementos típicos brasileiros, como a estampa de tecido chita – gosta de ver sua marca impressa aos quatro cantos. Quer fazer isso na África, a exemplo do que fez também há pouco na Bósnia, onde pintou o tenor Luciano Pavarotti. “Soube que ele fez show para as crianças afetadas pela guerra (em 1995), era uma pessoa adorada por eles. Mas usei elementos daqui, para que os brasileiros que passem por lá logo identifiquem que se trata da obra de um artista do Brasil.” O dinheiro arrecadado no show do músico italiano, junto com o U2, foi usado para construir o Centro de Música Pavarotti na cidade de Mostar.

E assim como a arte ajudou as crianças por lá, também salvou a vida de Aleksandro. Por conta das despesas da casa – era ele, mais oito pessoas na família – começou a trabalhar, aos 10 anos, como boia-fria. “Fiz colheita de tudo que imaginar, melão, melancia, cebola, muitas, mas a mais difícil era de algodão. Nessa época já gostava de desenhar, mas não tinha nem como me dedicar à arte”, lembra. Depois foi auxiliar de pescador e fazia bicos aos fins de semana como guia turístico, até que teve de se mudar com o pai, que era empreiteiro e havia ficado sem serviço, para São José do Rio Preto. “Fui até lá ajudar ele. Só que a situação estava difícil. A gente estava dormindo no carro. Ele não aguentou, voltou para o Interior e mandou eu ficar lá e, quando conseguisse algo, mandar dinheiro.” Sem ter onde dormir, passou noite na rodoviária da cidade e as demais em terreno baldio. “Cheguei a ficar uma semana sem comer. Ia doar sangue no hospital da cidade para conseguir o lanche depois.”

Foi então que começou a ajudar um letrista da cidade. O homem conseguiu uma vaga para ele em uma pensão, que pagou após um mês de trabalho. “Foi uma época muito difícil. Tinha gente de todo tipo nesse lugar.” Começou a pintar camisetas e alguns comércios por lá, até achar que a cidade não tinha mais a oferecer. Mudou-se para São Caetano, na casa de uma tia, onde firmou morada. “A minha sorte é que a arte, quando você nasce com isso, automaticamente tem algo em si diferente. Ela me salvou de tudo. Inconscientemente acabou sendo uma bolha, me protegeu e me manteve no foco.”

Por isso, é o ar que respira. Depois de voltar da África, Reis pretende se dedicar a pinturas que rementam à obra de Chico Buarque, de quem é fã, e de textos da literatura brasileira, outra de suas paixões.  




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