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Sítio Joaninha recebe melhorias a conta-gotas

Urbanização do loteamento precário de Diadema foi iniciada em 2012, mas está longe de terminar

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
21/01/2019 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


As obras de urbanização do Sítio Joaninha, área mais precária de Diadema, na região do Eldorado, segue a passos de tartaruga. Sete anos depois de a Prefeitura anunciar que, enfim, as melhorias no local seriam iniciadas, o sonho de tornar-se bairro consolidado ainda está longe de ser concretizado.

A promessa inicial, anunciada em 2012, era a de que as obras, divididas em duas etapas – de infraestrutura e construção de moradias –, fossem concluídas em 2015. Isso só aconteceu depois de cinco anos de espera e cobrança daquela população. Na época, eram 520 famílias, hoje o número dobrou, com 1.500 lares.

A equipe do Diário percorreu as dez ruas do loteamento na sexta-feira. A população, entretanto, ressalta não ter mais esperança sobre a novela que vivem. Isso porque as melhorias são feitas ‘a conta-gotas’ e, segundo os moradores, quando a Prefeitura volta para realizar novo serviço, o que foi feito anteriormente já está com problemas.

Além de energia elétrica, o Sítio Joaninha já conta com água encanada e calçadas, mesmo que ainda sem acabamento. Entretanto, somente as ruas da parte central – denominadas um, dois e três – tiveram instalação de coleta de esgoto. As vias quatro e seis foram pavimentadas, mas ainda não há saneamento. As demais seguem sem qualquer infraestrutura, além de luz elétrica e água encanada.

As melhorias prometidas estão previstas no contrato do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal. O investimento foi de R$ 14 milhões para obras de pavimentação, ligações de água e esgoto, drenagem, contenção de encostas e eliminação de áreas de risco. Entretanto, o convênio assinado em 2012 ainda não teve todas as obras finalizadas. O projeto total, avaliado em R$ 22 milhões, conta com R$ 8 milhões de contrapartida municipal.

O autônomo José de Jesus, 54 anos, mora no local há 16 anos. Para ele, falta muito para o Sítio Joaninha tornar-se bairro. “A coleta de esgoto que colocaram nas ruas um, dois e três, por exemplo, já causou o entupimento das caixas por causa da terra que acumula em dias de chuva. Não tem asfalto e, quando chove, a lama entope os canos. O cheiro é horrível.”

Outra reclamação é que o encanamento para a coleta de esgoto não está subterrâneo. Além disso, buraco foi cavado para que todo o esgoto seja despejado. “Quando chove, aqui alaga tudo e vira lama. Só que, agora, o buraco onde cai o esgoto transborda e vira um piscinão de esgoto.”

A líder da rua dois, Clécia da Silva, 36, ressalta que há 30 anos – tempo que mora no loteamento – pisa na lama. “Aqui não tem unidade de Saúde, creche, ponto de ônibus. Até quando vamos viver esquecidos?”, questiona. Para ela, a esperança já não existe. “Não acreditamos mais que algum governante vá olhar para nós. Ninguém aparece aqui para negociar.”

Ela complementa que nada adianta ter pavimentação sem esgoto encanado. “A Prefeitura vai fazendo obra picadinha. Aí colocam esgoto na parte de baixo e asfalto em outra parte. Ninguém sabe quando voltam para fazer o restante.”


Especialista cobra priorização de saneamento e itens sociais

Para o professor e gestor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Enio Moro Júnior, o loteamento Sítio Joaninha é caso emblemático no Grande ABC. Para o especialista, “o mínimo que a Prefeitura poderia fazer seria a conclusão das obras de saneamento, com a devida regularização completa da área, somada à inserção de equipamentos sociais, como escola e unidade de saúde.”

O especialista avalia que, apesar de o bairro estar parcialmente asfaltado, ainda há áreas sem a devida estrutura, o que traz sofrimento para a população, ainda mais com as chuvas de verão.

Moro destaca que o investimento via PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) reúne entraves em todos os contratos. Ele acredita que o repasse deveria ser imediato ao município. “A cidade tem o recurso mas não tem acesso a ele. Por isso, uma das soluções é que mudem os critérios da Caixa. Ou alteram-se as prioridades e o social fica à frente do financeiro ou esses problemas nunca terão solução.”

Prefeitura diz que entraves burocráticos atrasaram obras

Questionada sobre a demora nos avanços do processo de urbanização do Sítio Joaninha, a Prefeitura de Diadema justificou que o contrato do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi assinado em 2012 mas, com a morosidade para a licença ambiental da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que foi liberada em 2014, as melhorias só tiveram início em 2015.

A administração afirmou ainda que, em 2017, a Secretaria de Habitação fez recadastramento das famílias residentes na área e que, durante este período, foi necessária suspensão da obra a pedido da empresa que realiza as intervenções. Os serviços foram reiniciados seis meses depois e, conforme a Prefeitura, seguem “cronograma previsto”.

Segundo o Paço, o loteamento recebeu instalação de água, iluminação, linhas de ônibus e, estão em fase de conclusão, as obras de infraestrutura com instalação de guias, sarjetas, calçamento, asfalto e drenagem. Não foi informado, entretanto, novo prazo para que os serviços sejam concluídos. 




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