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A grande família

Instituto localizado em S.Bernardo promove mudança na vida de 3.000 pessoas, entre crianças e idosos

Por Bia Moço
Especial para o Diário
10/06/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Idealizado sob a ótica da necessidade de inclusão e transformação social no Grande ABC, o Instituto Jêsue Frantz completa 36 anos de atuação atendendo 3.000 pessoas, entre crianças em creche até idosos em oficinas ocupacionais. Com 12 unidades distribuídas entre São Bernardo e Diadema, o trabalho realiza cerca de 15 mil atendimentos por ano. De forma gratuita, projeto pretende dar às pessoas de baixa renda abrigo e aconchego dignos de uma grande família.

A ideia é que os assistidos possam construir base sólida para vislumbrar e desfrutar de futuro próspero sem esquecer a mensagem de que unidos e solidários são mais fortes.

O projeto – sonho de infância da fundadora, Ilda Batista Dias, 69 anos, de acolher a população em situação de vulnerabilidade – tornou-se realidade em 1982, quando ela e o marido, Reginaldo Antônio Dias, 70, mais conhecido como Rad, deram o primeiro passo para a criação do ‘lar escola’.

Com largo sorriso, Ilda ressalta a necessidade de promover o bem, apesar das adversidades da vida. A Madrinha, como é chamada por todos os colaboradores, perdeu a mãe quando tinha 5 anos. Em consequência do abandono do pai, a caçula de 11 filhos passou a perambular de casa em casa entre os irmãos mais velhos. Tudo para não morar em abrigo.

Ilda relembra que, na tristeza da solidão da infância, pensava sobre as crianças abandonadas e na população que carece de base familiar. Com apenas 11 anos deu início à sua missão social. “Aos 12 eu presidia um grupo solidário. A gente distribuía alimento aos moradores de rua e fazia curativos em pessoas acamadas que não podiam pagar cuidadores”, revela.

Ilda idealizava a criação de espaço em que frequentadores pudessem chamar de lar. A ideia sempre foi manter uma grande família. A conquista se deu pouco a pouco. Durante 20 anos o instituto se manteve por conta própria, com uma só sede, na Pauliceia, em São Bernardo. Há 16 anos, entretanto, as prefeituras de São Bernardo e de Diadema tornaram-se parceiras com termos de colaboração, subsidiando a folha de pagamento dos 117 funcionários e o material pedagógico. O valor estimado é de R$ 5 milhões ao ano. A contrapartida, cerca de R$ 3 milhões, fica por conta da casa. O apelo é para que mais gente seja voluntária, tendo em vista que atualmente apenas 72 pessoas ajudam a manter o local.

Hoje, além de creche para crianças de zero a 3 anos, há também Educação Especial, atendimento psicossocial, oficinas de cultura e lazer, além de atendimento em Saúde, com psicóloga, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional. O instituto oferece também projeto de atendimento a crianças e adolescentes que sofreram ou sofrem abusos sexuais e exploração do trabalho infantil.

Para ir além do acolhimento e entender melhor sobre o universo da vulnerabilidade, Ilda fez graduação em Psicologia e pós-graduação em doenças mentais. “O que falta muito em nossa sociedade é a base afetiva. O alimento da vida são o carinho e o acolhimento e, infelizmente, são o que mais falta. Por esse motivo tantas pessoas caem nas drogas e se perdem na vida. Aqui (instituto) é um local de entrega e de criar um elo para dar a essas crianças a oportunidade de um futuro melhor.”

A fundadora critica os governantes por não pensarem no futuro, em especial quando se fala na Educação. “Nosso País, infelizmente, olha pouco para os miseráveis. A criança que hoje vai ao farol é o futuro mendigo. O que precisa é a mudança do olhar, pois se mudarmos o início da história (das crianças) teremos um futuro diferente.”

 

Espaço oferece atividades para toda comunidade

Embora o foco do Instituto Jêsue Frantz seja para as crianças, o trabalho também promove mudança de vida de adolescentes, idosos e, consequentemente, entre as famílias.

A assistente de vendas Geana Batista Barbosa da Costa, 40 anos, adotou o pequeno Paulo, 3, há apenas três meses. Para ela, o lar, como costumam chamar o instituto, tem auxiliado também na adaptação da família. “O Paulinho já me chamava de mãe antes mesmo de vir para casa. Mas desde que passou a frequentar o <lar as coisas têm acontecido naturalmente. Ele está mais falante, mais aberto e cada vez mais feliz”, conta, emocionada.

Geana relata que não poderia deixar de trabalhar para cuidar do menino, no entanto, não conseguiu vaga na rede municipal. Como o instituto é conveniado à Prefeitura, Paulinho conseguiu a vaga. “Quase gritei de felicidade quando me ligaram dizendo que ele poderia vir para cá (Jêsue Frantz). Trabalho aqui perto e sempre ouvi falar do quanto esse lugar é mágico.”

Para ela, o sentimento em ter seu filho no lar é de tranquilidade. “Precisamos deixar nossos filhos em um lugar de confiança. O instituto é de fato um lar, uma casa, uma grande família acolhedora. A energia daqui, o ambiente e o amor que as pessoas têm no que fazem são contagiantes. Estou realizada.”

 

TERCEIRA IDADE

Não é diferente com o grupo de idosas que frequentam o instituto. As oficinas de dança, artesanato e ginástica são o impulso diário do grupo. Cheias de alegria, as senhoras contam sobre como se sentem melhor.

“Tenho amigas, converso, me divirto, dou risada e brinco muito”, diz Maria Irene Catro, 75. A senhora revela que os dez netos estudaram no instituto e, desde quando eram pequenos, ela participa de todas as atividades do local. “Esse lugar é tudo na minha vida. Meus netos tiveram muito amor aqui e eu, já com idade, me sinto renovada quando estou em atividade.”

A fundadora, Ilda Batista Dias, 69, conta orgulhosa que, graças ao trabalho oferecido, já tiraram, inclusive, idosos que estavam em situação ‘de cama’ devido à doença. “Costumo dizer que o projeto é um plano de vida. A pessoa chega bebê e, ao longo da vida, faz parte do trabalho. Justamente por criarmos uma família.”




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