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Desafios do pedestre

Em 1968, quando os Beatles ilustraram a capa do álbum Abbey Road com os quatro cruzando uma faixa de pedestres

Por Cristina Baddini
08/10/2010 | 00:00
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Em 1968, quando os Beatles ilustraram a capa do álbum Abbey Road com os quatro cruzando uma faixa de pedestres, as metrópoles já tinham motivos para se preocupar com o assunto. Este palco do eterno conflito entre motoristas e pedestres ficou mais uma vez evidente na pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A pesquisa demonstrou que as condições precárias das vias para pedestres custam muito caro.

Os gastos atingem R$ 2.500 por tropeço e representam R$ 3,1 bilhões por ano no País inteiro com a recuperação da saúde de pessoas que se machucam em calçadas. É preciso trabalhar e defender um tratamento justo e decente para todos e em todas as situações, inclusive para os que andam a pé.

Pelo Mundo
Nos Estados Unidos e no Canadá, a preferência é sempre do pedestre onde há faixas sem semáforos. Na Inglaterra, Austrália, Alemanha, França, Holanda e Suécia também há duas maneiras de atravessar a rua. A primeira é controlada pelos sinais. Nos cruzamentos onde não há semáforos, basta pôr o pé na faixa e os carros são obrigados a parar.

Acostumados a selvageria dos nossos cruzamentos, brasileiros que vão morar ou passear no Exterior ficam admirados e em princípio estranham o nível da civilidade urbana existente nos países. A faixa é respeitada e a penalidade ao motorista imprudente é grave e pode até levá-lo para a cadeia.

Decisão do STJ
Pedestre que evita passarela pode ter culpa em acidente. A pessoa que optar por não utilizar passarela ou passagem de nível para atravessar uma via pode ser responsabilizada caso seja atropelada. A conclusão é da Quarta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que, com base nesse entendimento, reduziu pela metade o valor da indenização paga à viúva de um ciclista, morto ao atravessar uma linha férrea em Praia Grande (SP). De acordo com o processo, Marianto dos Santos foi atropelado por um trem quando tentava atravessar de bicicleta os trilhos, em uma passagem aberta pelos pedestres próxima à Estação Jardim Solemar. O relator do processo no STJ, ministro Aldir Passarinho Junior, reconheceu que a legislação estabelece a obrigação de a ferrovia manter cercas, muros e sinalização adequada. Entretanto, para o ministro, o fato de o ciclista não ter utilizado a passagem de nível demonstra que ele preferiu "um percurso mais cômodo, porém evidentemente muito mais perigoso".

Boas cidades
A qualidade de vida de uma área é diretamente proporcional ao tamanho do espaço dedicado ao pedestre e inversamente proporcional à velocidade em que se movem os carros. Queremos áreas públicas seguras, agradáveis, com vias exclusivas para pedestres, calçadas largas com pavimento adequado e iluminação, parques, travessias seguras, ciclovias e ciclofaixas, restrição ao automóvel, prioridade ao transporte público, muitos quilômetros de corredores de ônibus, trens e metrôs integrados, transporte bom e barato.
Negar preferência aos que atravessam na faixa pode gerar multa de R$ 172,99 ao motorista apressado. Um valor até irrisório para castigar e ensinar os apressados ao volante.

Brasília fez uma ampla campanha de conscientização e combate aos excessos cometidos pelos automóveis e, no governo Cristóvão Buarque, conseguiu dos motoristas um comportamento invejável. Hoje, depois de muita multa e acidentes traseiros, os brasilienses se orgulham da civilidade da nossa Capital Federal.

O Grande ABC tem condições de liderar uma luta pela travessia segura nas faixas de pedestres brasileiras.




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