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Nascimento do novo
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19/09/2008 | 07:00
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Linha de Montagem, de Renato Tapajós, traz de volta um momento crucial da história recente do País - os movimentos grevistas no Grande ABC entre os anos 1979-1980. O filme retorna em cópia restaurada e de muito boa qualidade, feita a partir do negativo original de 16 mm. Realizado em 1981, acompanha as greves dos metalúrgicos, comandadas pelo então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula é figura central do documentário, embora este não queira ser personalista. Impossível fugir ao carisma do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, de sua presença nas assembléias de Vila Euclides, em São Bernardo. Lula é visto no calor da hora, comandando assembléias.

O filme é a descrição de um processo contextualizado. Vivia-se a ditadura militar e greves não eram toleradas. Os movimentos do Grande ABC foram um desafio frontal ao regime e não apenas um incômodo para os empresários. Como naquela época uma greve poderia ser colocada na ilegalidade, era importante caracterizar o movimento como puramente reivindicatório. Os operários queriam aumento de salários - e só.

A partir de certo momento, não é mais o salário que importa, mas a reabertura do sindicato sob intervenção e a libertação das lideranças. Como a paralisação se alonga, é preciso organizar o fundo de greve, para que os trabalhadores e famílias sobrevivam sem os salários. Essa rede de solidariedade gera a capilaridade social.

Outro capítulo importante são os shows de arrecadação de fundos, que mobilizam artistas e intelectuais. Essa convergência social dá à greve um caráter político inequívoco. Não por acaso, o processo redunda na formação de um partido político, o PT. Por tudo isso, o título do filme é muito feliz. Ele não se refere apenas à esteira em que as peças são dispostas para formar uma nova mercadoria - fala na paciente montagem de uma realidade social alternativa ao regime militar. Naquele momento, era o novo que surgia.




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