Cultura & Lazer Titulo
De volta ao lado do bem
Por Mariana Trigo
Da TV Press
19/10/2008 | 07:05
Compartilhar notícia


Fábio Assunção parece pisar em ovos quando conversa sobre Heitor, seu protagonista em Negócio da China. Distante das novelas desde que viveu o mocinho Daniel, em Paraíso Tropical, no início deste ano, o ator passou por uma fase avessa ao perfil de seus personagens do bem. Foi flagrado pela polícia num flat com um traficante, que estava com drogas. Visivelmente tenso para não ser abordado sobre o assunto, o paulistano de 37 anos só relaxa mesmo quando reflete e avalia que sua carreira não foi abalada com os rumores negativos. Pelo contrário. Fábio foi convidado por Roberto Talma, diretor geral da trama de Miguel Falabella, para encarnar mais um galã em seus 18 anos de carreira.

Na pele do acomodado mas apaixonado Heitor, Fábio se mostra envolvido pelo personagem que faz um curioso par romântico com Lívia, de Grazi Massafera. Na história, o casal tem um filho de 11 anos, interpretado por Eike Duarte e, apesar de ainda ser apaixonado, se depara com uma série de fatores que os mantêm separados. "Este personagem foi irresistível, assim como o convite sedutor do Talma para a novela. Estou muito focado na minha carreira e esse papel é um dos mais leves que já fiz. É um cara absolutamente comum."

Paixão por cinema - Após tantas atuações em longas, Fábio Assunção já planeja estrear como diretor de cinema. "Não tenho vontade de dirigir uma peça ou novela. Mas preciso de uma idéia que mexa comigo e com o público. Isso ainda vai acontecer no cinema, onde o tempo é mais tranqüilo", avalia.

Nos intervalos da novela, o ator tem filmado o longa Do Começo Ao Fim, de Aloísio Abranches. Na história, Alexandre, personagem de Fábio, é casado com uma médica (Júlia Lemmertz), com quem tem dois filhos. "Esse trabalho conta a história de amor desses irmãos. O meu personagem e o da Júlia vão envelhecer 15 anos", adianta, empolgado.

Antes de protagonizar Negócio da China, você foi escalado para atuar em A Favorita, fez as primeiras leituras, mas deixou a trama em seguida. O que aconteceu?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Deixei a novela porque precisava estar bem para fazer direito um personagem. Tem horas na vida que você não está disponível para fazer bem. Não vou entrar numa novela sem estar inteiro e nem fazer sem o nível de qualidade que considero mínimo, entendeu? Acho que só agora estou pronto para me entregar para um personagem e fazê-lo da melhor maneira.

O que o levou a aceitar o papel em Negócio da China, num horário que a audiência estava baixa e numa novela do Miguel Falabella, com quem você nunca trabalhou?
ASSUNÇÃO - O Maurinho (diretor Mauro Mendonça Filho) e o (Roberto) Talma são meus amigos. Já dei muitas festas com o Maurinho e trabalhei com o Talma em 1992 (em De Corpo e Alma). O Talma me convidou de uma forma muito sedutora. Foi bacana. Logo falei: "estou dentro". Além disso, tinha curiosidade de fazer algum trabalho do Miguel. Era uma oportunidade de fazer comédia em um horário diferente. Estou amarradão!

Que características do personagem mais chamaram sua atenção?
ASSUNÇÃO - O que é mais legal no Heitor é que ele é um cara comum. Viveu um grande amor com a mãe do filho dele. Se conheceram quando ela era muito nova. Depois, se separaram e ele continua apaixonado pela ex. Isso que é legal, tem humor também. Ele continua querendo a Lívia de volta e ela fica insegura. Sem falar no tom cômico das mães de ambos, superprotetoras. Isso cria confusões, é divertido.

Quais referências você trouxe para esse mocinho, que é meio mimado e acomodado?
ASSUNÇÃO - Tento fazer com que o público se identifique com ele. Tento deixá-lo humanizado, verdadeiro. O público quer ver conflito e verdade. Isso ele tem. Mas é um mocinho diferente dos outros que fiz. Não tem nenhuma ambição, trabalha no negócio da mãe. Ainda não se coçou para ter um apartamento. O bacana é que, apesar de anos focado nesse amor, a paixão ainda tem um frescor. Gosto do exemplo que o Miguel deu sobre essa relação com a Lívia, de uma tesoura que não corta, mas machuca. Também nunca tinha feito um personagem bairrista, que praticamente só grava em cidade cenográfica. Fazia mais papéis ricos, com muitas cenas de estúdio.

Você e a Grazi tiveram de regravar cenas do início da trama. Como você lidou com isso?
ASSUNÇÃO - As pessoas pensaram que iríamos regravar a novela inteira. Mentira. Regravei apenas duas cenas com ela. Sinceramente não sei porque isso aconteceu. Outros atores também tiveram de regravar cenas. Esse começo é difícil. A gente tem de achar um tom e já existe uma expectativa pelo horário. Estamos entrando no horário de verão. Não temos tempo de buscar o tom no meio da novela. Precisamos estourar no início. Também acho que regravar não é sinal de uma coisa ruim. Pelo contrário. É a busca de perfeição, de superação. Encarei isso de forma positiva.

Existe cobrança com a Grazi, por viver a primeira protagonista. De que forma isso interfere no seu trabalho?
ASSUNÇÃO - Minha maior preocupação com a Grazi é buscar intimidade para convencer como um casal que já tem um filho de 11 anos. Estou adorando trabalhar com ela. Acabei de conhecê-la, mas ela tem uma luz muito positiva, um riso verdadeiro, uma vontade de fazer bem e de arrebentar. Na minha opinião, ela está mandando muito bem. Cada um tem sua história. Ela tem tudo para ser uma grande estrela e tem talento. Isso já é suficiente. Sei o que é ser criticado. Falaram muito mal de mim no início da minha carreira. Mas era concentrado e o que me interessava era a resposta do público.

A estréia da novela deu média de 30 pontos, mas os números caíram nos capítulos seguintes. Esta audiência do horário das seis assusta você, que normalmente atua mais em tramas das oito, com números bem maiores?
ASSUNÇÃO - A gente fica torcendo para ser o maior sucesso. Moro em São Paulo e sei o quanto é difícil estar em casa às seis. Também sei que o público que vou ter não vai ser o mesmo do das oito. Quem está em casa neste horário geralmente não trabalha. Queremos não só manter o público que já existe, como trazer outras pessoas. Esse é o objetivo da Globo ao levar o Miguel para o horário. Geralmente temos obras de época, mais tranqüilas nesta faixa. Essa comédia, com ritmo acelerado, é uma intenção de fomentar mais interesse pelo horário. Estamos na torcida, mas também sabemos que não vamos conseguir lutar contra o horário de verão, por exemplo.

Você tem alguma identificação com esta temática da China, das lutas, das cenas de ação?
ASSUNÇÃO - A cada cena estou descobrindo um mundo diferente, leve, cômico. Esse ano comecei a virar meus olhos para a China com as Olimpíadas. Este país se destacou economicamente nos últimos tempos. Mas minha maior identificação agora é de não ter nenhum compromisso com a realidade. É tudo uma brincadeira.

Parece que tem sido bem diferente das tramas mais densas do Gilberto Braga, com quem você trabalhou em Paraíso Tropical, Celebridade...
ASSUNÇÃO - Totalmente. Quando o Gilberto me chama para alguma coisa, nem pergunto o que é. Devo fazer a próxima minissérie dele na Globo. Não faço a mínima idéia do que seja, mas sei que vou estar em família. Para mim isso é fundamental.

Com 18 anos de carreira e vários protagonistas, o que leva você a aceitar um convite para um papel?
ASSUNÇÃO - Cada trabalho tem aura e cor que precisam me agradar. Tem pessoas que não me instigam e aí não me interessa muito, mesmo que sejam grandes atores, autor consagrado e diretor maravilhoso. Acho mais legal estar num elenco divertido, com um amigo dirigindo, onde o trabalho seja mais familiar. É melhor que um trabalho com estranhos, mesmo que tenha uma expectativa maior de sucesso. Minhas opções sempre foram muito por aí.

Você teve problemas com drogas recentemente e, há pouco, foi convidado para o programa Mais Você, mas faltou e depois avisou que não iria. O que houve?
ASSUNÇÃO - Não queria falar sobre isso. Já foi. Vamos conversar sobre coisas boas e positivas.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;