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Mauá suspende exames de sangue
Illenia Negrin
Diário do Grande ABC
13/05/2005 | 08:06
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A falta de tubos de ensaio compromete há cerca de um mês a coleta de sangue para exames de rotina nas 20 UBSs (Unidade Básica de Saúde) e USFs (Unidade de Saúde da Família) de Mauá. Portadores de doenças crônicas, que necessitam de acompanhamento regular, como diabetes, hepatite e hipertireoidismo, estão sem atendimento. Com exceção das unidades Sônia Maria, Capuava e São João, todas as outras informaram que não havia kits no estoque nem previsão para normalização do serviço. Ainda assim, funcionários das três unidades de saúde não deram qualquer garantia de que o paciente teria sucesso na empreitada. A indicação era para que “tentassem a sorte”, já que, nelas, “era possível fazem um encaixe”. Até exames de gravidez estão sendo protelados, segundo funcionários do setor.

A reportagem do Diário telefonou para todas as UBSs e UFSs e perguntou sobre a possibilidade de fazer o exame de sangue. Em todas as ligações recebeu a mesma resposta, com o tom descrente da funcionária do outro lado da linha. “Não tem o vidrinho para colher o sangue e não tem previsão” foi a frase mais ouvida, repetida mecanicamente por elas. Na UBS Central, a atendente chegou a fazer piada com a necessidade pelo exame e, grosseiramente, sugeriu que a repórter pagasse pelo procedimento do próprio bolso.

Os exames de sangue são prescritos pelos médicos do Programa Saúde da Família para o tratamento de doenças crônicas e precisam ser realizados periodicamente antes que os sintomas se manifestem e o quadro, evolua. O descontrole do hipertireoidismo, por exemplo, pode provocar pressão alta e, a longo prazo, problemas cardíacos e até renais. A diabetes, colesterol alto, ácido úrico e hepatite também precisam ser rigorosamente acompanhados, sob risco de danos irreversíveis aos pacientes como arteriosclerose e isquemia de membros. A Prefeitura de Mauá, mais uma vez, recusou os pedidos de entrevista com a secretária de Saúde, Sandra Regina Vieira. Em nota de duas linhas, disse que a falta dos tubos de ensaio foi provocada por um atraso na entrega da mercadoria e que a situação já foi normalizada.

A “normalização” alegada pela Prefeitura, no entanto, não havia beneficiado nenhum paciente que procurou a USF Feital na tarde desta quinta. O Diário acompanhou o pedreiro Ademar Emanoel Silva , 58 anos, até a unidade para sa ber se os kits já haviam chegad o. O exame de sangue foi prescr ito em 25 de abril para detectar níveis de glicemia, colesterol e ácido úrico. Ademar é hipertens o e já perdeu as contas de quan tas vezes procurou o serviço. “J á cansei de ir lá no postinho.

Tenho que voltar no médico no próximo dia 31 para mostrar os exames. Mas vou de mãos abanando. Quer dizer, vou legar a guia do exame de volta.”

Nem o carimbo de “urgente” foi suficiente para que a dona-de-casa Maria José Lopes dos Santos, 40 anos, conseguisse realizar o hemograma completo pedido pelo médico. “Passei mal a semana toda. Sou hipertensa e nem assim eles me ajudam. Preciso saber se a medicação que eu tomo é a mais certa ou se está fazendo mal em vez de bem”, conta ela, que também recorreu a UFS Feital. Do outro lado da cidade, no Jardim Anchieta, Maria Basílio, 50, telefona todos os dias para a UBS Vila Assis na esperança de que os kits para a coleta de sangue tenham chegado. Até esta quinta, nada. “Faz mais de um mês que peguei a guia e ninguém sabe me dar nenhum prazo. É um desrespeito muito grande, é humilhante até”, protesta a dona-de-casa, que sofre de hipertireoidismo.

Diálogo

Veja abaixo a transcrição da conversa da reportagem com uma atendente na UBS Central

Repórter – Alô? Por favor, eu sou moradora do Jardim Feital e queria saber se a UBS Central faz hemograma.

Funcionária da UBS Central – Hemograma? Pra que?

R – Eu tenho diabetes e a médica pediu que fizesse um hemograma completo. Mas na unidade aqui perto de casa disseram que não tinha o vidrinho pra colher o sangue.

F – É, está em falta mesmo. Em todo lugar, há mais de um mês já.

R – E agora?

F – E agora o que?

R – O que eu faço? Preciso fazer logo esse exame...

F – (rindo) O que você faz, meu bem? Senta e chora.

R – Como assim? Que absurdo!

F – Paga um hemograma do seu bolso num laboratório particular. É baratinho.

R – O que? Não tem nem previsão de quando chega o tal vidrinho da coleta? Eu não tenho dinheiro.

F – Não faço a mínima idéia de quando chega o kit para o exame. Disseram que foi um problema na licitação.

R – Como é que vocês demoram tanto para comprar tubo de ensaio?

F – Não sei. Isso não é problema meu. Não gostou? Vai reclamar com o prefeito.




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