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‘Eu pego no pesado até no Natal’
Célia Maria Pernica
Luciana Yamashita
Especial para o Diário
24/12/2007 | 07:01
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Uma data familiar e caseira para uns, dia de plantão de Natal para outros. Alguns serviços não podem parar e os trabalhadores também não.

“Ossos do ofício, não tem outro jeito”, dizem uns. “É normal e tranqüilo”, afirmam os que trabalham.

Enquanto a maioria das pessoas está em clima de festa na véspera e no dia de Natal, muita gente está dando duro.

Várias profissões não permitem que os funcionários folguem em datas comemorativas. Porteiros, médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros, garçons, cozinheiros e muitos outros profissionais são privados deste momento em família por causa dos empregos.

Quem foi escalado para faz o que pode. Alguns já estão acostumados e se adaptaram à rotina de trabalho longe da família.

Solução - O maitre Mariz Ferreira de Andrade, 59 anos, trabalha durante a ceia há 24 anos. A solução é reservar espaço para toda a família no restaurante.

O porteiro Domingos Ferreira da Rocha, 36 anos, conta que o difícil é passar o Natal longe da mulher e dos dois filhos pequenos.

A pediatra e neonatologista Elaine Maturana Bertaglia, 31 anos, já passou quatro natais ajudando bebês a chegar ao mundo. “É como um presente para todos”, afirma a médica.

O gerente de farmácia Marco Roberto Dias da Silva, 37 anos, já se acostumou a passar a data longe de família. São 12 anos nos plantões de fim de ano.

Conheça um pouco mais da história de cada um deles que, assim como outros, estarão a postos em seus cargos durante a ceia ou o almoço de Natal.

Solitário - Porteiro de um edifício no bairro Jardim, em Santo André, há quatro anos, Domingos Ferreira Rocha, 36 anos, diz que sempre passa o Natal ou o Ano-Novo trabalhando. Virou rotina.

“Estou nesta profissão há oito anos, sempre tenho de trabalhar em épocas de festas familiares e em feriados”, explica.

Os filhos Leandro, 8 anos, e Daniel, 5, são os que mais sofrem com a falta do pai no dia de Natal. “Eles ainda são crianças. É mais difícil para eles entenderem a minha ausência”, diz o porteiro.

Domingos é morador de Ribeirão Pires e sua mulher, Maria Lúcia, também não gosta de ficar sem a presença do marido nessas épocas, mas entende que faz parte de sua profissão.

No prédio onde trabalha, Domingos é muito querido por todos, mas “quando os moradores estão com suas famílias, felizes e festejando nem se lembram que o porteiro existe”, brinca. “Na verdade, sempre há alguns que se lembram de mim.”

O porteiro conta que é difícil acostumar a ficar longe da família neste dia, mas garante que “é melhor trabalhar no Natal do que não ter emprego.”

Em família - Faz 24 anos que o maitre Mariz Ferreira de Andrade, 59 anos, trabalha na ceia de Natal do restaurante São Francisco, em São Bernardo. E faz 24 anos que a ceia da família é feita no mesmo restaurante.

Os filhos e os netos passam o Natal no local de trabalho de Andrade. Para este ano, os lugares já estão reservados. Mas é só depois da meia-noite que o maitre deixa a chefia dos garçons e ocupa o posto de pai para aproveitar a ceia.

“Minha família nunca faltou a nenhum Natal. Criei meus três filhos aqui dentro, com o que consegui com meu trabalho”, afirma.

O maitre não acha ruim trabalhar na data. “Antigamente, era diferente. Agora é casa lotada, é festa. As coisas mudaram, ainda bem que para melhor”, diz.

O gosto pelo trabalho é tanto que Andrade não pensa em se aposentar tão cedo. “Até os 90 anos, ou quando eu não puder mais pegar em um prato. Sempre fiz isso e adoro o que faço”, conta ele, que já tentou trabalhar em uma fábrica, mas não deu certo.

“Amo o que faço hoje. Espero que todos tenham um feliz Natal.”

Grande família - Este será o quinto plantão na noite de Natal na vida da pediatra e neonatologista Elaine Maturana Bertaglia, 31 anos. Na data de comemoração do nascimento do menino Jesus, a médica presencia a chegada de novas vidas. “A vida não pára nunca”, diz.

A médica trabalha na UTI neonatal do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. Da primeira vez que ficou no plantão de Natal Elaine estranhou. “Foi um pouco triste porque eu sempre passava com a família, mas depois me acostumei”, afirma.

Grávida de quatro meses, Elaine não acha ruim fazer plantão em um horário não-convencional. “Os pacientes precisam de cuidados e é a profissão que eu escolhi.”

Em todos os plantões que fez, Elaine sempre teve trabalho. “A mãe fica feliz com o nascimento do filho. O nosso espírito fica diferente e é gostoso”, afirma.

A comemoração do Natal fica para depois. “A família é bem compreensível. A gente se fala por telefone e comemora a data em um outro dia. O bom é que a equipe do hospital acaba sendo uma grande família também”, conclui.

Emergência - Marco Roberto Dias da Silva, 37 anos, é gerente da farmácia Rede Farma Fórmulas no bairro Santa Terezinha, em Santo André, há quatro anos, mas conta que está na área há quase 13.

O gerente diz que faz 12 anos que não passa um Natal em casa. “Minha família já está acostumada com o fato de eu ter de trabalhar nessa época.”

Marco Roberto afirma que sente falta de participar das festividades da família, mas entende que fazer plantão no Natal e em outros feriados faz parte do seu trabalho, principalmente porque está ligado à saúde das pessoas, que não podem ficar sem atendimento.

O gerente, morador de São Bernardo, conta que uma cliente prometeu levar algumas guloseimas de Natal para o pessoal da farmácia neste ano.

Marco Roberto explica que os medicamentos mais procurados no dia 25 são os analgésicos para dor de cabeça, para as pessoas que beberam um pouco a mais, além de remédios para combater azia, queimação e má digestão, para as pessoas que abusaram da comida.

“Entendo que é difícil resistir às comidas típicas do Natal.”



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