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Região exporta crédito de carbono
Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
27/02/2005 | 16:41
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A companhia Lara, de Mauá, será a primeira empresa do Grande ABC e uma das primeiras do Brasil a fechar contrato para se beneficiar do mercado internacional de créditos de carbono. A empresa, que opera aterro sanitário no município, deverá assinar nos próximos dias contrato de US$ 2 milhões para a venda antecipada de créditos, o que será possível devido ao projeto de captação e queima (eliminação) de gás metano.

O diretor da empresa Arquipélago Engenharia Ambiental (responsável pelo projeto da Lara), René Büchler, não revelou o nome da companhia para a qual serão vendidos os créditos, mas adiantou apenas que é uma empresa privada estrangeira de grande porte. Ele acrescentou que a recente assinatura do Protocolo de Kyoto ajudou a dar impulso às negociações para o fechamento do acordo.

Pelo protocolo, os países desenvolvidos (excluindo Estados Unidos e Austrália) admitiram ter responsabilidade pelo aumento da concentração dos gases do efeito estufa – que elevam a temperatura atmosférica e alteram o regime das chuvas – e se comprometeram a baixar – entre 2008 e 2012 – em 5,2% os níveis de emissão observados em 1990.

Além das ações que terão de realizar internamente, os países do Primeiro Mundo poderão atingir os níveis de redução das emissões buscando nos países em desenvolvimento o complemento das metas que têm a cumprir. Por meio desse expediente, empresas no Brasil, por exemplo, poderão receber dinheiro em troca da concessão de MDLs (mecanismo de desenvolvimento limpo ou créditos de carbono), que são certificados de projetos para a substituição de gases poluentes. Com isso, a empresa estrangeira usará o crédito obtido no Brasil como meio de atingir mais rapidamente a meta que tem de cumprir.

Além da Lara, a Nova Gerar, de Nova Iguaçu (RJ), e a Vega, de Salvador (BA), estão entre as primeiras do país com programas para ingressar nesse mercado. O aterro da Lara recebe mensalmente mais de 40 mil toneladas de resíduos domiciliares (lixo) de seis dos sete municípios da região – a exceção é Santo André.

O gás metano originário do lixo depositado é um dos grandes causadores do efeito estufa – gera 21 vezes mais efeito estufa que o CO2 (dióxido de carbono). Com o projeto de queima do gás, a companhia poderá, dessa forma, ganhar dinheiro por meio do acordo de venda dos créditos para grupos privados ou governos dos países industrializados.

A Lara estima que deverá reduzir em 450 mil toneladas a emissão de metano ao longo da vida do projeto (21 anos). “Calculamos em 10 milhões de créditos de carbono nos próximos 21 anos”, disse Büchler. Hoje, o crédito está cotado no exterior entre US$ 4 e US$ 6 a tonelada do dióxido de carbono.

Fase inicial – O diretor da Arquipélago afirma que a etapa inicial do projeto, orçada em US$ 2 milhões, será implementada até julho deste ano e consistirá da captação e queima de 8 mil m³ por hora de gás metano, por meio de compressores ligados à rede de tubulação para fazer a sucção do gás, e um flare (uma espécie de torre) para a queima (destruição) do metano. Ao longo dos anos, a captação deverá ser ampliada. A meta é chegar a 16 mil m³ por hora.

A Lara deverá ainda investir neste ano US$ 1,2 milhão para colocar em operação uma usina de geração de energia. A intenção é aproveitar o gás metano captado e reduzir gastos com o consumo de eletricidade. “O custo da energia deve cair pela metade”, disse Büchler. A meta inicial é gerar 1 MW de energia elétrica para consumo da própria companhia.

Segundo o diretor da Arquipélago, se houver possibilidade de vender eletricidade a preço competitivo no mercado livre – para uma instituição financeira ou um shopping center, por exemplo – a empresa poderá aplicar até 2007 mais US$ 7,8 milhões para produzir o total de 10 MW de energia. “Tem de ser pelo menos a R$ 50 o MW/hora. Abaixo disso é difícil ter retorno”, diz.

Potencial – Para a gerente de projetos da área de mudanças climáticas da ICF Brasil, Christianne Maroun, em 2005, com o impulso dado pelo Protocolo de Kyoto, o mercado internacional de venda de créditos deverá movimentar US$ 3 bilhões. O Brasil tem perspectivas animadoras, segundo ela. “Acreditamos que o Brasil poderá ter 20% desse mercado, o que representará US$ 600 milhões”, disse.

Segundo o especialista no tema e pró-reitor acadêmico do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, Roberto Aguiar Peixoto, o Brasil pode se beneficiar de recursos originários de projetos de queima de metano e também da utilização de combustíveis alternativos, como o biodiesel. Ele ressalta apenas que, no caso dos veículos, falta metodologia de aferição para medir a redução real de emissão dos poluentes.



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