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Caso Alcina: cinco anos depois

Família busca forças na fé em Deus para superação

Por Yara Ferraz
26/09/2016 | 07:00
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Anderson Silva/DGABC


O dia 22 de setembro de 2011 marcou para sempre a vida da família de Milton Evangelista Nogueira e Elenice Mota, ambos de 47 anos. Hoje, mãe e pai de Davi Mota Nogueira, que na época tinha 10 anos, têm na fé em Deus o refúgio para continuar. “A vida seguiu, mas tive de escolher viver ou desistir. Graças à nossa fé, principalmente. A saudades só aumenta. Perder um filho é como ter um machucado na mão. Ele até cicatriza, mas tudo acaba batendo em cima e abre aquela ferida, doendo outra vez”, disse Elenice, emocionada.

A família vive no mesmo apartamento, que fica a dez minutos da Escola Municipal de Ensino Professora Alcina Dantas Feijão, no bairro Mauá. Foi lá onde Davi atirou na professora Rosileide Queiros de Oliveira, 43, e se matou em seguida. Ele tinha escondido a arma do pai, que é GCM (Guarda Civil Municipal) na mochila.

Os pais afirmam que no dia, Davi se portava normalmente. “Quando percebi que minha arma tinha sumido, imediatamente liguei para minha mulher. Depois fui falar com meus dois filhos (o irmão de Davi, Gleison Mota Nogueira, atualmente com 21 anos e estudante de Educação Física, também era aluno da escola) e eles garantiram que não estavam com ela. Depois, saíram juntos, abraçados. Foi a última vez que o vi.”

Carinhoso, religioso, prestativo e cativante. Os elogios que definem o garoto são muitos. Davi nunca foi alvo de reclamações e sempre manteve boas notas. Desde bem novo gostava de tocar bateria nos cultos da Igreja Presbiteriana. É o menino que os pais lembram por pedir R$ 5 quando via uma família pobre na rua.

“Não perdi só o meu filho, foi também meu melhor amigo. Às vezes, levantava cedo para levar meu marido no trabalho e ele fazia questão de ir comigo. Sempre estava atento a tudo e gostava de conversar com toda a família”, contou a mãe. Elenice deixou o emprego de babá, cursou um ano de Psicologia e atualmente trabalha em metalúrgica. “Não vou falar que estou bem todos os dias. Lembro dele sempre e não sinto vontade de sair, mas me obrigo a fazer isso. Não sinto mais prazer em cozinhar e assar um bolo, porque penso nele. Mas, tenho que fazer”, disse.

“A gente sabe que vai morrer, mas quando o ciclo se inverte não conseguimos lidar com isso. Nenhum pai está preparado para enterrar um filho”, contou Nogueira, que continua trabalhando na guarda. A família afirmou que foi atrás de fazer contato com a professora Rosileide, atingida de raspão. “Nós tentamos pedir desculpas e dar força para ela continuar, mas não conseguimos nem um abraço. Procuramos a diretoria, mas ela não quis contato”, disse.

Fotos de Davi, cartas de estranhos que se solidarizaram com a família, a agenda escolar e Bíblias estão entre os objetos que fazem parte do lar do casal. Há cinco anos, o filho mais novo, tão querido, não está mais com eles. Mas, de certa forma, nunca deixa de estar presente na vida dos pais. “Foram dez anos de bençãos com Davi. Não consigo explicar o que aconteceu, não sei dizer mesmo. Tem gente que não imagina como estamos de pé, mas a gente sofre diariamente e muito. Nosso remédio é Deus”, concluiu o pai.

Tragédia marcou história de escola
Em 22 de setembro de 2011, a Escola Municipal de Ensino Professora Alcina Dantas Feijão, que sempre foi conhecida pelo bom desempenho no ensino, virou cenário de tragédia. David Mota Nogueira, 10 anos, atirou na professora Rosileide Queiros de Oliveira, 43, e se matou.

O caso aconteceu por volta das 15h50, pouco depois do término do intervalo. Estudantes e docentes ainda se acomodavam nas salas de aula, quando o estudante do 4º ano do Ensino Fundamental pediu para ir ao banheiro.

Quando ele voltou, estava com o revólver calibre 38 em punho e disparou contra a professora. Ela foi ferida na região lombar, no lado esquerdo, e precisou ser resgatada pelo helicóptero da Polícia Militar. Rosileide foi submetida a cirurgia e se recuperou. Havia cerca de 25 crianças dentro da sala.

Após o tiro, Davi andou alguns metros até a escada, apontou a arma contra a cabeça e atirou. O menino foi enterrado no Cemitério das Lágrimas. Na volta às aulas, uma semana depois, os estudantes soltaram balões coloridos e pediram paz.

O Diário tentou falar com a professora, porém não conseguiu localizá-la. Ela não dá mais aulas na unidade.Quando o fato completou um ano, a reportagem também tentou contato com Rosileide, que na época residia em Diadema, mais uma vez sem sucesso. Parentes da docente não quiseram se pronunciar, já que afirmaram que tudo estava superado e ela estava bem de saúde.

Inquérito foi arquivado pela Polícia
A investigação do fato, realizada pelo 3º DP (Nova Gerty), apontou que não existiram responsáveis. Com isso, o inquérito policial foi arquivado com o fim das investigações. De acordo com a delegada titular à frente do caso, Lucy Mastellini Fernandes, após vários depoimentos, a conclusão foi a de que ninguém poderia ser processado criminalmente. “A gente apurava se tinha alguém que facilitou ou induziu o acesso do menino à arma. Porém, não concluímos nada disso. Infelizmente, foi uma fatalidade”, disse.

A arma que era do pai Milton Evangelista Nogueira, 47 anos, ficava guardada fora do alcance dos filhos, em cima de um guarda-roupa. “Saí bem cedo, para pegar um remédio, mas foi rápido e deixei eles dormindo. Quando os levei para escola, por volta das 12h40, até peguei a mochila dele e coloquei nas costas. Logo quando voltei, dei falta da arma”, afirmou.

Nogueira, que é GCM (Guarda-Civil Municipal), continua trabalhando no patrulhamento da cidade. “Sempre amei o que faço e pedi para continuar no meu trabalho. Hoje, a gente vê que ele teve uma proposta aqui na nossa vida.” Segundo a delegada, o caso é um dos mais lembrados na delegacia. “Tivemos pouca parte de investigação policial, por não se tratar de um crime, de fato. Mas, sem dúvidas, marcou bastante a todos”, disse.




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