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Municipalização é caminho para melhorar a Educação
Por Vanessa Fajardo
Do Diário do Grande ABC
16/02/2009 | 06:02
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Cada vez mais, o caminho para alcançar um ensino de qualidade passa pela municipalização, assim como já fizeram as prefeituras de São Bernardo e São Caetano com parte do Ensino Fundamental.

Profissionais da área consideram que a proximidade dos gestores às escolas facilita as decisões e qualifica o processo de aprendizagem. Outra vantagem é o fato dos professores geralmente serem moradores das cidades onde lecionam, permitindo a busca de alternativas para a sala de aula que estejam dentro da realidade da comunidade.

Em cinco cidades do Grande ABC, a rede de ensino é resultado de parceria entre municípios e Estado - a exceção fica em São Bernardo e São Caetano que municipalizaram o ciclo um do Ensino Fundamental (de 1ª a 4ª séries). Juntas, elas atendem cerca de 103 mil estudantes. As duas administrações afirmaram ter interesse em expandir a rede municipal, assim como Diadema que estuda a possibilidade.

Pedagoga e doutora em Educação pela PUC (Pontifícia Universidade Católica), Helena Machado de Paula Albuquerque, explica que a municipalização é um caminho interessante para o Ensino Fundamental pois o centro de decisões fica mais próximo da escola. "Porém, o Estado tem de assumir a sua parte e pensar na Educação do País de uma forma mais séria."

A professora da Faculdade de Educação da Unicamp, Maria Márcia Sigrist Malavasi, diz que levar a responsabilidade do ensino para as prefeituras é uma forma de agilizar as mudanças. "Uma escola municipal deteriorada, por exemplo, pode receber verbas para os consertos em até uma semana. E as transformações não estão vinculadas somente à reforma física, e sim em relação à compra de livros, curso de formação e plano de carreira aos professores." Maria Márcia lembra que para boa camada da população brasileira, a escola é o único canal de formação de princípios éticos e conceitos de cidadania, por isso é fundamental que seja estruturada.

A auxiliar administrativa de Santo André, Meire dos Santos, 37 anos, conta que sua filha Thaís, 12, sempre estudou em escolas públicas. "Até a 4ª série estudava na rede municipal. A escola era limpa e os professores, dedicados. Faz dois anos que ela foi para a rede estadual. Gosto do ensino e acho que não deixa a desejar para nenhuma particular."

Acesso à cultura beneficia estudos de alunos da rede privada

Especialistas em Educação defendem que a maior vantagem da rede particular perante a pública é o aluno quem recebe.

Como geralmente são estudantes da rede privada que têm mais acesso ao teatro, cinema, biblioteca e cultura de um modo geral, educadores defendem que estas crianças apresentam melhores resultados se comparadas às que não têm a mesma oportunidade.

"São alunos supridos pelas famílias e alimentados por espaços fora da escola. Acontece que quando a unidade escolar não se nutre desses bens, trabalha sozinha. Não é a escola que fez mais ou menos pelos alunos. Muitas vezes temos escolas públicas fazendo mais do que as particulares", diz Maria Márcia Sigrist Malavasi, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.

O professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), Vitor Henrique Paro, concorda com a especialista. Ele diz que o aluno de escola particular inicia o conhecimento em casa. "As unidades privadas escolhem a elite e não fazem a parte educativa, só a vigilância."

Mais de 97 mil estudantes estão matriculados nas 408 escolas particulares do Grande ABC. A média mensal de mensalidade é de R$ 500. Para muitas famílias, pagar ensino particular é investimento. Caso da moradora de Santo André, a monitora de robótica, Silvana Bartholomeu Marques Monteiro, 47 anos, mãe de Angélica, 19, e Leonardo, 13. Os dois sempre estudaram em escola particular desde bebês, mas, há alguns anos, por problemas financeiros, Silvana teve de apelar temporariamente à rede pública de ensino.

"Matriculei minha filha em uma escola estadual de Santo André, mas ela ficou só um dia. Apesar do pouco tempo sentiu muita diferença. Faltou professor e havia muitos alunos. Assim que fui buscá-la, ela me disse: ‘mãe não quero nunca mais entrar nesta escola.'" Silvana conseguiu uma bolsa de estudos na rede particular e transferiu a filha novamente. O garoto estudou por um ano na rede municipal de Santo André e depois também foi beneficiado pela bolsa. "Me sinto aliviada em poder ter dado isso a eles. Sabemos da falta de estrutura das escolas públicas."

O presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, José Augusto de Mattos Lourenço, diz que mesmo a melhor escola pública está aquém da particular. "É uma concorrência desleal, porém, ter qualidade na particular é obrigação, pois caso contrário ela sai do mercado."

‘A escola parou no século 14', critica professor

O formato atual das tradicionais salas de aula com professor explicando a matéria na frente de uma classe repleta de alunos sentados é um método falido e ultrapassado na opinião do professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Henrique Paro. "Era assim que se ensinava na Idade Média. A escola parou século 14 e não sabe mais ensinar", critica.

Paro considera que o ensino tem de envolver, além das disciplinas tradicionais, conteúdos como artes, filosofia, comportamento, crenças e valores de um modo geral. Além disso, na fórmula ideal do professor, os ensinamentos devem ser feitos a grupo pequenos com monitores que interajam e levem em conta cada fase de desenvolvimento das crianças. "A escola fracassa porque pretende passar só conhecimento. A melhor maneira de ensinar uma criança é permitir que ela seja ela mesma e brinque. Mas, não, ao chegar na escola ela é proibida de brincar." 




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