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Cubanos surpreendem no Heineken Concerts
Do Diário do Grande ABC
10/04/1999 | 11:43
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Se depender do resultado do show Afro Cuban All Stars, na segunda noite do Heineken Concerts, no Tom Brasil, em Sao Paulo, sexta-feira (09), a música cubana tem tudo para repetir no Brasil o fenômeno internacional que tem registrado em outros países. Numa combinaçao de surpreendente vitalidade, carisma, simpatia, habilidade nos instrumentos, ritmos contagiantes e criatividade nos improvisos, um grupo de músicos veteranos sintetizou em mais de três horas de boa música a idéia do festival deste ano, que é unir a música de Cuba, Brasil e Estados Unidos.

Casa lotada, a noite mais concorrida do festival começou com Compay Segundo y Sus Muchachos. Misto de John Lee Hooker com Jamelao. O cantor, compositor e violonista de 91 anos impressionou com a firmeza da voz e a habilidade com o intrigante instrumento que soava como viola caipira, mas que chama de armunico, com sete cordas, uma delas dupla.

Com o impecável quarteto, formado por guitarra, baixo e instrumentos de percussao, Compay fez um pouco de tudo. Interpretou músicas do disco Lo Mejor de mi Vida, recém-lançado no Brasil num pacote da WEA, recuperou cançoes do século passado e do início deste, fez ironia sobre boleroes com letras do tipo "Estou longe de você, nao posso esquecê-la", cantou em duo com Omara Portuondo, mostrou as influências americanas, cortejou a platéia elogiando a música brasileira: "É a mais linda para mim. Linda e complicada."

A Afro Cuban All Stars, com 15 músicos, reeditou os tempos das big bands de son, da era pré-salsa e pré-revoluçao cubana. Um a um, músicos como os pianistas Rubén González e Guillermo Gonzalez Camejo, o cantor Ibahim Ferrer foram alternando-se em solos memoráveis e coesas participaçoes em conjunto, criando versoes revitalizantes para clássicos da música cubana e citaçoes de temas conhecidos, como Samba de uma Nota Só, de Tom Jobim, a quem dedicaram o show, e Summertime, de Gershwin.

A bem-quista cafonice latina marcou presença nao apenas no vestuário extravagante, mas em letras derramadas, que muitas vezes, repetitivas, apenas cumpriam a funçao rítmica.

Ao contrário de se resumir a um museu de grandes novidades, uma vez que músicas e músicos, na maioria, eram desconhecidos por aqui, o show superou o caráter exótico, de excentricidades na vitrine. A alta média de idade dos artistas foi mero detalhe vencido pelo profissionalismo.

Isso justificou um certo excesso de reverência da platéia. Teve até gente envolvida na bandeira cubana, fumando charuto e gritando "Viva Cuba!"

Com a qualidade do som um pouco melhor que na noite de quinta-feira (08), a dos cubanos acabou em grande baile, com um coro uníssono em Quizás, Quizás, Quizás, puxado pela cantora Omara Portuondo, a presença feminina de um desfile do que se chama de "lendas vivas". Para os que ficaram de fora, restou o consolo de um telao instalado no bar do Tom Brasil. Para quem nem chegou a ir, restam os ótimos discos lançados recentemente no Brasil. A torcida para que estréie logo o documentário Buena Vista Social Club, de Win Winders.




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