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Cai mito do cigarro light menos nocivo
Marco Borba
Do Diário do Grande ABC
30/09/2006 | 19:07
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Especialistas em pneumologia derrubaram o mito criado pela indústria do tabaco de que os cigarros light são menos nocivos à saúde que os que concentram maior teor de nicotina e alcatrão, substâncias que causam dependência.

Conforme explicou o pneumologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Sérgio Ricardo Santos, para suprir a quantidade de nicotina exigida pelo organismo, sem se dar conta o dependente passa a fumar mais.

Segundo o médico, que coordena o Prev-Fumo, órgão ligado à Unifesp e que oferece ajuda a quem quer abandonar o vício, os cigarros de maneira geral têm 4.720 substâncias que causam doenças, entre elas, o câncer. “Desse total, apenas três não estão presentes nos ditos light. Não adianta reduzir as substâncias. Todas são tóxicas. Criou-se a falsa impressão de que o light é mais seguro.”

De acordo com o professor de pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC, Adriano César Guazzelli, inconscientemente, o fumante dos cigarros light cria mecanismos para equilibrar a dosagem de nicotina. “Dá tragadas mais profundas e segura a fumaça por mais tempo para que a nicotina seja mais absorvida.”

Mesmo os que começam a fumar os lights, explica, com o tempo podem vir a fumar mais caso se torne dependente da nicotina. “Ela vicia como outras drogas e aí pode ocorrer de o organismo pedir uma quantidade maior.”

Segundo a diretora do Programa de Tratamento do Incor (Instituto do Coração), Jaqueline Scholz Issa, exames de urina comprovam que pesoas que fumam os lights acabam fumando mais. “Na comparação com os que fumam outro tipo, os exames não apontam diferença. A quantidade de nicotina é a mesma.”

A dona-de-casa Jesimar Gonçalves da Silva, 28, se considera uma das que “caíram na ilusão” de que correria menos riscos. Fumante há 12 anos, conta que por oito anos fumou uma marca de cigarro de filtro amarelo. “Há quatro mudei para um mais suave. Só que agora fumo um maço (20 cigarros) por dia. Antes, era no máximo dez cigarros”, disse, depois de ser flagrada fumando na plataforma de embarque da estação Santo André da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na última quinta-feira. “Mudei de cigarro também por causa do cheiro. O do filtro amarelo é mais forte”, justifica.

Os chamados light foram criados no início dos anos 70 após a comprovação de que o cigarro causa o câncer, entre outras doenças. Foi uma maneira, avaliam os estudiosos, que as empresas encontraram para manter as vendas.

“Para a indústria pouco importa a embalagem, se é light ou não. Importa vender, independentemente do teor”, aponta a psiquiatra Luizemir Lago, diretora do Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), ligado à Secretaria da Saúde do Estado e que capacita agentes de saúde para o atendimento a fumantes que querem abandonar o vício.

Na última segunda-feira, a Justiça norte-americana aceitou uma queixa coletiva contra várias companhias de cigarro, entre elas a Philip Morris e a R.J. Reynolds, por propaganda enganosa na venda dos cigarros light.

O juiz federal dos EUA, Jack Weinstein, permitiu que o caso aberto em 2004 por Barbara Schwab, reunisse outros consumidores que tenham comprado cigarros com rótulos “light” em qualquer período desde que tais cigarros tenham sido postos no mercado no início dos anos 70. O processo acusa as empresas de enganarem os consumidores ao colocarem no mercado cigarros com essa classificação e promoverem o produto como menos prejudicial à saúde que os normais.

Os autores da ação reclamam indenização de US$ 200 milhões, soma correspondente aos lucros obtidos com a venda dos maços.<EM>

A Souza Cruz também deverá pagar R$ 500 mil por danos morais à família da ex-fumante paranaense Clara Espiguel de Oliveira. A decisão é da 5ª Vara Cível de Maringá. Clara morreu em 2004, aos 84 anos. Advogados da família garantem que perícia médica concluiu que ela era dependente da nicotina. A empresa só vai se pronunciar quando a decisão for publicada oficialmente no Diário Oficial, o que deve ocorre na próxima semana. A Souza Cruz terá 15 dias para recorrer.

O tabagismo é responsável por 30% das mortes por câncer no país. Dados do Ministério da Saúde apontam que em 2004, 17.492 pessoas morreram vítimas do câncer causado pelo hábito de fumar.

CPTM – Com base em reclamações de 295 usuários feitas ao longo de 2005, a empresa lançou em janeiro campanha proibindo o cigarro nos trens e estações de trem. Do total, 44 eram manifestações de usuários da linha D, que serve a região, incomodados com a fumaça.

A empresa buscou amparo na lei federal 9.294/96 para adotar a medida. No entanto, há quem ainda insista em driblar a norma. “Sei que é proibido. Acendi para conter a ansiedade”, disse o estudante A.J, 20 anos, na estação de Santo André.

Embora a lei já exista há 10 anos, o gerente do Serviço de Atendimento ao Cliente da CPTM, Sérgio de Carvalho Júnior, não admitiu o atraso na adoção da medida. “O usuário estava habituado a outro padrão de serviço. Com a criação da CPTM, há 14 anos, passamos a investir em melhorias.”

A campanha foi dividida em três etapas: emissão demensagens sonoras dentro das composições, abordagens aos fumantes nas plataformas e instalação de banners e adesivos.

Segundo Sérgio de Carvalho, houve redução de 70% dos casos de pessoas flagradas fumando nas estações desde o início da campanha.



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