Setecidades Titulo Tormento
Avenida Industrial volta
a sofrer com pancadão

Saneamento Ambiental prometeu, mas não cumpriu, e
bairro Campestre vive mais uma madrugada de insônia

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
22/01/2012 | 07:00
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O Saneamento Ambiental de Santo André prometeu, mas não cumpriu, e os moradores do bairro Campestre viveram mais uma madrugada de insônia. Carros equipados com potentes equipamentos de som promoveram novamente baile funk a céu aberto em plena Avenida Industrial, em frente à UniABC.

Das 0h às 3h de ontem, o Diário presenciou o claro desrespeito às leis no local. Além dos carros de som, meninas vestiam trajes mínimos, a maioria delas menores de idade. O consumo abusivo de bebidas alcoólicas, o uso livre de drogas, motoqueiros sem capacete realizando manobras radicais no meio da pista, ameaças a funcionários de estabelecimentos e até pequenas brigas foram vistas durante a noite.

A situação só mudou com a chegada da Polícia Militar. Com um efetivo pequeno, foi necessário esperar por reforço para enfrentar as mais de 200 pessoas que curtiam a festa. Alterados, muitos ofenderam e desrespeitaram os PMs, o que exigiu ações mais severas para controlar a situação.

Mesmo assim, até as 5h, alguns jovens permaneciam no local, irritados com o término do pancadão. "Isso aí é repressão, mano", disse um deles.

O saldo é de mais de 30 motos apreendidas pela polícia. A maioria dos frequentadores é dos mesmos locais: Zona Leste da Capital, Mauá, Diadema e até da vizinha São Caetano. "Lá é cidade de velho, se um bar fica aberto um pouco além da conta, eles (a Prefeitura) fecham. Só temos a Avenida Goiás e não vou pagar R$ 7 por uma breja", disse. Os três municípios têm lei seca, que impede a venda de bebidas após as 23h.

Além dos moradores do entorno, quem também sofre são os funcionários dos bares. Paulo César da Cruz, 20 anos, está há seis meses em um estabelecimento. "Não dá para trabalhar feliz. A gente só fica porque sabe que é temporário e que vai aparecer outra coisa melhor", disse.

Pai de uma menina de 17 anos, Antônio Oliveira Araújo, 47, não consegue acreditar que jovens da mesma idade se exibam daquela forma. "Fico com o coração partido. Que futuro tem uma pessoa dessas?", questionou.

A preocupação não existe do outro lado. A via é simplesmente fechada para as acrobacias. Nem um caminhão pipa da Prefeitura que passava por ali foi poupado e os funkeiros subiram nele por pura diversão.
"Lá em Parque São Lucas não tem nada o que fazer. Meu amigo (23 anos) me chamou pra vir aqui e topei. Ele compra as bebidas e a gente bebe", relatou uma garota de 15 anos, que disse ser atraída ao local pelo funk. Se a mãe dela sabia onde estava? "Sim, mas ela não se importa, pois confia no meu amigo", disse.

"Eles não são nossos clientes", diz dono de bar

Os donos de bares na Avenida Industrial dizem que também são vítimas do funk que atormenta o bairro Campestre. Impedem a entrada de pessoas com bebidas de fora e a venda de álcool a menores de idade, mas são ameaçados. "Não somos vilões, somos pais de família que precisam do sustento", diz um deles, há cinco anos no local.

Por volta das 2h, enquanto o funk atingia o seu ápice e meninas mostravam roupas íntimas, seu bar permanecia vazio. Às 3h, quando a polícia chegou, teve de fechar as portas correndo para não ser invadido. Por isso, mantém dois seguranças de prontidão, um deles na porta, para impedir a entrada dos menores. "Eles não são nossos clientes", definiu.

Para tentar melhorar as condições, teve de gastar. O investimento em porta de vidro e outros elementos de segurança foi de quase R$ 20 mil. Também deixou de oferecer serviços como música ao vivo, por não ter como competir com o volume dos carros na calçada. Isso o fez perder clientela que considerava fixa.

"O cara que quer vir aqui comer de noite, não virá justamente pela bagunça que irá encontrar", disse. Para ele, não existe outra opção. "Sou um restaurante, vendo almoço. Mas a faculdade fica fechada por cinco meses. O que vou fazer nesse período para me sustentar? Esses jovens compram bebidas em supermercados, não comigo", garantiu.




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