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Travessia atlântica em família
Por Especial para o Diário
01/07/2010 | 07:03
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Como dissemos na última edição do Turismo, viajar é uma grande experiência e desta vez a Família Goldschmidt resolveu experimentar algo diferente. Fizemos a travessia do Brasil à Europa em um grande navio e durante o percurso vivemos a experiência de conhecer novas cidades, costumes, sabores e culturas. Depois de contar como é a vida no navio e as cidades do Rio de Janeiro e Salvador, seguimos nossa viagem em direção ao continente europeu.

ILHAS CANÁRIAS
Nossa travessia do oceano demorou seis dias, que passaram rápidos como o vento. Quando demos por nós já estávamos ancorando nas Ilhas Canárias, província espanhola a 1.300 quilômetros da Península Ibérica. O arquipélago foi tomado pela Espanha em 1495 e desde então passaram por ali vários personagens históricos, como o Almirante Nelson, o naturalista Alexander Von Humboldt e Cristovão Colombo em uma de suas viagens ao continente americano. A ilha também ficou conhecida por ser a terra natal de Padre José de Anchieta, um dos personagens de nossa história.

Desembarcamos bem cedo em Santa Cruz de Tenerife, a capital do arquipélago e também a cidade mais populosa. Fizemos um rápido tour pelo centro e saímos para conhecer o interior.

Tenerife foi formada pelas erupções do vulcão Teide, majestoso cone nevado que se eleva a 3.718 metros no centro da ilha. É o ponto alto do arquipélago e de toda a Espanha. O Teide não é mais um vulcão ativo, embora a região seja afetada por terremotos com alguma frequência. Sua última erupção foi em 1909.

À sua volta encontramos uma paisagem quase marciana, sem vegetação e repleta de rochas coloridas (diversos minérios) e corridas de lava.

Com nosso carro circundamos parte do vulcão até chegar a um local com formações rochosas impressionantes. Ótimas fotos! O frio é que não estava nada bom. Havíamos deixado o porto com 22ºC e agora a temperatura havia baixado para 4ºC. E nós de camiseta.

Outro local que merece ser visitado é Puerto de la Cruz, cidade livre de impostos. Aqui, na costa africana, encontram-se produtos bem mais baratos do que na Europa e mesmo que na vizinha Santa Cruz de Tenerife.

Mas atenção: as principais lojas fecham das 13h às 16h para a siesta. Por isso, se você for passar somente uns dias na região, é bom iniciar o passeio cedo.

ILHA DA MADEIRA
Nossa próxima parada foi no arquipélago da Madeira, que está sob domínio de Portugal desde 1419, quando foi descoberto por Tristão Vaz, João Zarco e Bartolomeu Perestrelo. Desde então, a ilha passou a ser porto de parada para quase todo navegador português que viajava em direção à África, Índia ou Brasil.

Quando chegaram aqui no século 15, os primeiros exploradores se depararam com uma ilha desabitada, quase sem praias e coberta por espessa floresta Laurissilva. Para desbravar o interior, começaram a incendiar a mata nativa para espantar os animais e abrir caminho.

Dizem os historiadores que a ilha queimou durante sete anos seguidos. O clima tropical e o solo de origem vulcânica ajudaram a ilha a se recuperar desse desastre ecológico.

Hoje, Madeira está novamente coberta de verde. Parte por mata nativa, parte por mata recuperada e também milhares de pequenas hortas repletas de verduras, cana-de-açúcar e banana.

Como é uma ilha relativamente pequena, as pessoas plantam de tudo em quase todos os lugares. Vimos hortas na beira de precipícios e em cima de penhascos rochosos. Alguns lugares do interior se parecem com o Peru, pois os madeirenses fizeram suas plantações utilizando terraços de pedra, iguais aos usados pelos antigos incas.

O relevo da ilha é bem acentuado. É muito difícil encontrar partes planas. Quase toda sua superfície é coberta por montanhas, serras e vales profundos. Para vencer essa geografia, os madeirenses se fizeram valer da engenharia construindo pontes colossais e uma infinidade de túneis. Eles garantem haver mais de 150 túneis - o maior deles com três quilômetros de extensão.

O problema do relevo reapareceu quando o governo resolveu ampliar o aeroporto local para receber grandes jatos. Não havia terra suficiente, pois a pista terminava em uma grande baía. Solução? Construir aeroporto suspenso por pilares. Uma obra impressionante! Por cima, pista de três quilômetros de extensão que suporta até jatos 747. Por baixo, entre as imensas pilastras, um complexo esportivo, estacionamento e marinhas.

Depois de visitarmos o peculiar aeroporto suspenso por pilastras, fomos conhecer a Vila de Machico. Nessa pequena baía, desembarcaram no século 15 os primeiros portugueses e construíram ali um forte e uma pequena comunidade.

Hoje, Machico tem um patrimônio arquitetônico muito bem conservado e ruas simpáticas com restaurantes e cafés.

Seguimos então para o interior, atravessando florestas e montanhas que chegam a 1.500 metros de altura. Lá no alto, fomos apresentados a duas tradições locais. A primeira foi a Poncha, bebida típica que lembra um pouco a nossa caipirinha. É feita com aguardente de cana, limão e mel de abelha, e servida em bares e restaurantes de toda a ilha.

Na hora do almoço, paramos no Restaurante do Faísca, na região do Ribeiro Frio. Lá experimentamos a espetada, churrasco de lombo de vaca feito em espetos de louro, acompanhado de polenta temperada, salada e pão mouro com azeite e ervas aromáticas. Não deixe de experimentar o refrigerante local chamado Brisa. Uma delícia!

Depois do fabuloso repasto, voltamos para a estrada e retornamos à capital Funchal pelo lado Norte. No caminho, paramos para conhecer a região do Monte.

Essa parte da cidade foi habitada por imigrantes ingleses que iniciaram há mais de um século uma peculiar tradição: descer ao centro de Funchal dentro de cestos, como se fosse um trenó. O cesto não tem rodas, apenas duas lâminas de madeira untadas com banha. Dois homens conduzem cada cesto empurrando e freando quando é necessário.
Eles usam roupas tradicionais com chapéus parecidos aos dos antigos estudantes de Cambridge (Inglaterra), além de botas com solas feitas de pneus. O trajeto segue montanha abaixo por vias estreitas e não exclusivas, ou seja, junto com carros, motos e caminhões. Uma verdadeira emoção.

Nossa última parada na ilha foi no Cabo Girão, um promontório rochoso cuja parede vertical tem 580 metros de altura. É a segunda maior falésia do mundo e oferece incrível vista da cidade.

Infelizmente, chegou a hora de voltarmos para o navio. O tempo foi pouco para conhecer tanta beleza. Creio que percorremos apenas 20% de toda a ilha. Para quem visitar Madeira, recomendo ficar entre quatro e cinco dias. Há muito o que ver e aprender sobre este pedacinho de Portugal no meio no Atlântico. Agora seguiremos em direção a Lisboa, com parada em Cadiz, mas isto é uma história para nosso próximo encontro.

Peter Goldschmidt (consultor de turismo da Gold Trip)




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