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Vanderlei lembra superação na maratona em Atenas-2004

Ex-maratonista recorda de momento em que foi agarrado pelo padre irlandês na Grécia

Por Felipe Simões
Do Diário do Grande ABC
15/06/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O dia 29 de agosto de 2004 é lembrado até hoje com pesar pelos brasileiros. Muitos podem até não se lembrar do que estavam fazendo naquele fatídico dia, mas todos se recordam do fato que chocou o País. Vanderlei Cordeiro de Lima liderava com folga a maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas quando, no quilômetro 36, foi agarrado pelo padre irlandês Cornelius Horan, o que minou suas chances de se tornar o terceiro brasileiro a conquistar a medalha de ouro para o Brasil no atletismo, atrás somente do lendário saltador Adhemar Ferreira da Silva e de Joaquim Cruz. Seria a primeira medalha dourada na maratona. Abalado, o paranaense de Cruzeiro do Oeste seguiu na prova, mas terminou na terceira posição. Nada que o desanimasse – o público viu o aviãozinho, sua marca registrada, planar os últimos metros no Estádio Panathenaico, como se nada tivesse acontecido. Foi justamente essa imagem que ajudou o atleta a superar as dificuldades e completar a corrida.

“Eu me preparei em Paipa (na Colômbia) e, sempre que ia treinar, passava um filme na minha cabeça com eu chegando no estádio brigando por uma medalha. Psicologicamente, isso me ajudou a superar o incidente e persistir na busca do objetivo”, comentou o ex-atleta em bate-papo com o médico Dráuzio Varella, na Capital, o qual o Diário presenciou.

“Nem passou pela minha cabeça desistir, muito por causa daquele filminho. Quando cheguei no estádio, nem lembrava o que tinha acontecido. O estádio inteiro me ovacionou. Depois, passou o filme da minha vida na minha cabeça. Foi mais um obstáculo da minha vida. Nada acontece por acaso”, relembrou ele, emocionado.

Alguém mais crítico pensará que a frase é mais um clichê do meio esportivo, mas basta olhar para a história de Vanderlei Cordeiro de Lima para saber da veracidade da afirmação.

O ex-maratonista começou a praticar o atletismo ainda na escola, pois seu objetivo era viajar para outras cidades e conhecê-las durante as competições. Só começou a levar a sério quando chegou em 24º uma prova em que os 20 primeiros ganhavam medalhas. “Foi aí que eu comecei a treinar duas ou três vezes na semana. Eu já trabalhava na roça. A gente acordava 4h e pegava o transporte às 5h. Na volta eu abria mão do trator para voltar correndo. A vontade era maior que tudo”, afirmou.

Anos mais tarde, o princípio continuaria o mesmo – afinal, naquela prova em 2004, muitos teriam desistido ou reclamado da injustiça. Mas não Vanderlei. Àquela altura ele já havia conhecido o mundo, corrido na Europa, na América do Norte e do Sul e havia ganho dois ouros em Jogos Pan-Americanos, em 1999 e 2003. Faltava mesmo a medalha olímpica, cuja cor ele e todo o Brasil gostaria que fosse dourada, não acobreada, como a de bronze que acabou conquistando.

Meses mais tarde, o brasileiro foi agraciado com uma premiação que até então só nove atletas haviam tido a honra de ter concedida: a medalha Pierre de Coubertin, destinada àqueles que demonstram alto grau de esportividade e espírito olímpico. Curiosamente, a honraria é feita em ouro, como se a História quisesse que o paranaense tivesse tido essa felicidade em Atenas.

Vanderlei Cordeiro de Lima se aposentou em 2008, mas não parou. Ainda disputa provas festivas, geralmente com a renda destinada a causas sociais, mas, claro, sem a mesma intensidade. Ainda tem tempo de se dedicar ao IVCL (Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima), que ensina a prática do atletismo a crianças com o objetivo de transformar a vida delas através do esporte, e é padrinho da equipe BM&F/Bovespa, de São Caetano, uma das principais referências no atletismo do País. Prova de que nenhum padre irlandês poderia impedir que ele, pelo esforço, determinação e perseverança, se tornasse um dos maiores nomes do Esporte brasileiro.

Afinal, como ele mesmo diz, nada acontece por acaso.




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