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Uma noite em 1967
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
30/07/2010 | 07:07
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Nos bastidores do Teatro Paramount, em São Paulo, a radialista Cidinha Campos arrasta o jovem Roberto Carlos pelo braço. Exige que o cabeludo, então com 26 anos, repita uma piada. Rindo, o homem que viria a se tornar ‘o Rei', diz que a final do 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, está comprometida, já que Edu Lobo não teria "viola pra cantar" (trecho da música Ponteio) porque o colega Sérgio Ricardo havia quebrado o violão momentos antes. O trecho, parte do documentário Uma Noite em 67, que estreia hoje apenas em São Paulo, exprime bem o espírito da produção, assinada pelos estreantes Renato Terra e Ricardo Calil: fazer uma leitura intimista e muito, muito bem-humorada daquele período do País.

A dupla de diretores se apoia no riquíssimo material de arquivo da Record, que acabou tornando-se parceira da empreitada. Mas, com olhar privilegiado de amantes de música, foram além, misturando as imagens das apresentações a impagáveis cenas de bastidores e entrevistas recentes com todos os finalistas - além de Roberto, Sérgio e Edu (o vencedor), Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque. "Mais do que tudo, a gente quis provocar uma experiência do que foi aquela noite", resume Terra.

A dupla privilegiou depoimentos de pessoas que lá estiveram, entre eles o jornalista (e jurado) Sérgio Cabral e o diretor da Record Paulinho Machado de Carvalho. Mais do que os próprios músicos, nervosos com suas apresentações, quem dá a verdadeira dimensão dos festivais são esses e outros personagens de bastidores. São eles as testemunhas próximas da plateia - que naquele ano estava especialmente disposta a vaiar.

Uma das vítimas da vaia generalizada foi Sérgio Ricardo, que teve um acesso de fúria depois que a pesada manifestação sonora do público o impediu de demonstrar Beto Bom de Bola.

Terra e Calil resolveram incluir no filme a sequência inteira da participação de Ricardo, que deixou clara a crescente pressão pela qual o compositor passou. "Foi justamente para as pessoas entenderem porque aquilo foi feito. Ele ficou marcado como uma pessoa temperamental. Mas não, foi um pioneiro da música brasileira e muita gente ainda lembra dele apenas como o cara que quebrou o violão. Isso é absurdo", diz Terra.

Redimir Ricardo, mostrar os primórdios do Tropicalismo, vislumbrar Chico Buarque subindo um patamar como compositor (com Roda Viva) e até Roberto Carlos sendo vaiado pela primeira vez. Tudo isso o filme mostra. Mas seu grande mérito é dar novo significado às já históricas imagens, com os olhares atuais dos protagonistas. No caminho, conseguem também arejar o tom documental. Essencial para os amantes da música.




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