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Os riscos dos entregadores de pizza
Por Deh Oliveira
Do Diário do Grande ABC
08/06/2009 | 07:05
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Ao longo de um dia extenuante de trabalho, Anderson Costa, 32 anos, vê tudo acabar em pizza. Não se trata de uma expressão ligada a escândalos que ficam sem investigação. Também não se trata de um consumidor voraz pela iguaria italiana. Mas sim de um dos trabalhadores que fazem literalmente esse mercado girar: o entregador de pizza.

Entre ruas mal iluminadas, driblando carros no breu da noite, em meio a riscos de acidentes e assaltos, a categoria é responsável em fazer com que o produto chegue aos consumidores. O ganho varia entre R$ 30 e R$ 50 por noite, mais as gorjetas, cada vez mais difíceis. A maioria é autônomo, sem garantia trabalhista.

Anderson já está nessa vida há seis anos. Como motoboy, lá se vão mais 12. A entrega de pizza é a segunda jornada, como a maioria dos que prestam o serviço. Pai de três filhos, o trabalho extra ajuda a complementar a renda. A rotina é estafante. "Saio de casa às 6h30 e depois venho direto para a pizzaria", conta. O pico de entregas, segundo os entregadores, é entre 19h30 e 22h.

A rotina se repete durante toda a semana, com uma folga. O dia de trabalho mais intenso é sábado, principalmente nos dias chuvosos. "Aí o telefone não para. E aumenta o risco", explica o entregador, que curiosamente tem o apelido de Molhado. A origem da alcunha, porém, não revela. "Tenho esse apelido desde moleque", desconversa, debaixo de risos debochados dos colegas.Aliás, a brincadeira com os companheiros durante a noite é o que ajuda a suportar o cotidiano. "A bagunça é o que segura a gente. E uma gozação danada um com outro", afirma.

O perigo mais óbvio para os entregadores são os acidentes, que podem derivar tanto da imprudência deles próprios quanto de outros motoristas. Outras vezes, também surgem da forma inusitada, como a que passou Anderson.

"Estava procurando o número da casa, quando uma bola travou o pneu", relembra. Consequência: o entregador caiu da moto e quebrou a clavícula.

Para quem trabalha como autônomo, porém, ficar parado é sinal de prejuízo. Ao invés dos três meses de recuperação recomendados pelo médico, Anderson votou às ruas dez dias após o acidente.

Não bastasse o perigo no trânsito, o risco de assaltos também é eminente. Os relatos de roubo são comuns. Nem sempre o alvo é a moto. Não raro, levam somente as pizzas. Para evitarem serem assaltados, os entregadores criam seus macetes. Um deles é entrar com os faróis apagados em favelas. "Dá um trabalho danado achar o número na rua toda escura", explica Anderson. Outra saída é ir em dupla fazer a entrega, em caso de suspeita.

Com menos tempo de serviço, o entregador Renato Colpi de Toledo, 24 anos, já sentiu na pele os perigos da profissão. "Fui entregar na favela, os caras colocaram a arma na minha cara e perguntaram: ‘é entrega mesmo?", conta. Felizmente, tudo ficou só no susto. "Depois, até me explicaram como tinha de fazer para chegar no endereço que procurava".

Assim como seus colegas, o pouco que recebe como entregador é grande para complementar o orçamento. "Já pensei nos riscos, mas não posso parar. Sem essa renda não consigo pagar minhas contas", explica.




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