Nascido na pequena cidade Boraceia, no interior de São Paulo, o operário e ex-sindicalista João Avamileno (PT) confessa que tem “sonhos recorrentes” com Celso Daniel, seu correligionário e companheiro de chapa, de quem fala com admiração. “São quatro, cinco vezes por ano. Sonhei, inclusive, no fim do ano passado. Ele me disse nitidamente que voltaríamos a governar Santo André para retomar alguns projetos”, alega. Ex-vice, Avamileno tomou posse ao cargo no dia 22 de janeiro de 2002, substituindo Celso, morto dois dias antes. Posteriormente, foi reeleito em 2004.

Atualmente secretário de Direitos Humanos de Santo André, na gestão Carlos Grana (PT), Avamileno conta que Celso frisa “nos sonhos” que quer finalizar aquilo que não conseguiu completar à frente da Prefeitura. “É sempre muito perfeita e nítida a imagem do Celso. Chega a impressionar. Não lembro de nada que remete ao passado. A fala é como se estivéssemos no presente e ele conversa comigo”, reitera, ao acrescentar que possui “sentimento de trauma” até hoje. “Perdura. É difícil explicar essa perda ao vir à mente o que ele sofreu. Enfrentei barra grande para dar prosseguimento”, diz, com voz embargada.

O ex-vice-prefeito tinha 57 anos à época do assassinato. No discurso de posse, Avamileno fez, comovido, duras críticas à Segurança pública. Ele mantém a sua avaliação sobre a morte. “Diante de tudo o que já foi noticiado em investigações pela Polícia Civil e Ministério Público, acredito que foi crime comum, de verdade”, afirma, citando que necessita voltar ao jazigo 39 de Celso no Cemitério da Saudade, na Vila Assunção, na cidade. “Preciso retornar lá, ir no túmulo e fazer orações para ele.”

Avamileno menciona que a figura de Celso faz falta no cenário político do País. “Ele era diferenciado, inteligente, tinha projeto, que foi interrompido abruptamente aos 50 anos. Pessoa com futuro promissor nos âmbitos estadual e nacional.”

PRÓXIMOS
Nesta segunda gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), quadros próximos a Celso Daniel, coordenador da campanha presidencial de Lula em 2002, perderam status de alto escalão na Esplanada dos Ministérios. Cargo de confiança do ex-presidente e ex-secretária de Administração e Habitação de Santo André, Miriam Belchior (PT) saiu da Pasta de Planejamento, dando lugar a Nelson Barbosa. Ex-mulher de Celso, ela deve integrar a presidência da Caixa Econômica Federal.

Ex-secretário de Governo andreense, Gilberto Carvalho (PT) deixou a Secretaria-Geral da Presidência. Ele era considerado fiel escudeiro de Lula e tinha papel de articulação com movimentos sociais. Foi trocado por Miguel Rosseto (PT). Agora, presidirá conselho do Sesi (Serviço Social da Indústria).