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Três anos depois do Lehman, economia mundial derrapa
16/09/2011 | 07:00
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Três anos depois do colapso do banco Lehman Brothers, o mercado financeiro e a economia dos Estados Unidos ainda não curaram suas cicatrizes. Um dos principais índices do mercado acionário americano encontra-se atualmente ainda em torno de 5% abaixo do nível de fechamento que antecedeu o anúncio da quebra do banco, que simboliza a crise financeira de 2008. O número de desempregados está congelado em níveis elevados e a confiança do consumidor americano deteriora-se mês a mês.

"Estamos vivendo ainda a ressaca da crise financeira de 2008, da qual a quebra do Lehman Brothers foi um dos capítulos mais importantes", disse à Agência Estado Kenneth Goldstein, economista da Conference Board, responsável pela elaboração do índice de confiança do consumidor dos Estados Unidos. "Vai levar muito mais tempo para curar de tal erupção dos mercados globais, quando o sistema financeiro mundial esteve à beira de um colapso completo."

A taxa de desemprego nos Estados Unidos ficou em 9,1% no mês passado, apenas 1 ponto porcentual abaixo do nível mais alto desde o início da crise e ainda bem acima da taxa de 6,2% registrada em setembro de 2008, o mês em que a crise se alastrou pelo mundo. O índice de confiança do consumidor, termômetro de desempenho de um setor que representa um terço do Produto Interno Bruto (PIB) americano, caiu para 44,5, o menor em mais de dois anos, e bem abaixo do índice de setembro de 2008, de 59,9. Já o índice Standard & Poor's (S&P) 500, principal referência do mercado acionário dos Estados Unidos, fechou ontem a 1.188,68 pontos, abaixo do fechamento de três anos atrás, de 1.251,69 pontos.

Para Goldstein, há 50% de chances de a economia americana resvalar para uma recessão. Contudo, mesmo que isso venha a ocorrer, ressaltou, não será uma retração da mesma magnitude que a ocorrida após a crise financeira de 2008. O problema, segundo ele, é que a economia americana padece de uma "fadiga de estímulos", visto que os programas de estímulos fiscal e monetário implementados pelo Tesouro americano e pelo Federal Reserve (Fed) depois do colapso do Lehman Brothers não conseguiram colocar a economia nos trilhos do crescimento, apesar dos trilhões de dólares gastos neles.

"O problema é que o pessimismo dos consumidores americanos deve provavelmente persistir em relação ao futuro da economia americana, o que prejudicará mais ainda o nível de gastos, podendo empurrar a economia de volta para a temida recessão", explicou Goldstein. Ele citou como evidência da deterioração no sentimento dos consumidores o índice de vendas ao varejo nos Estados Unidos em agosto, que ficou surpreendentemente inalterado em relação a julho e abaixo da expectativa dos analistas de um modesto crescimento.

Em relatório intitulado "A que distância estamos da crise pós-Lehman?", o economista Marcelo Cirne de Toledo, da equipe do Bradesco, comparou o desempenho de algumas variáveis hoje com o nível registrado em 2008, atribuindo ao indicador o patamar de 100% se a situação de determinada variável estiver ainda tão grave quanto em 2008. Quanto mais baixo for o indicador, melhor será a situação.

"Até o momento, estamos a cerca de 10% do impacto da crise pós-Lehman nas variáveis que transmitem mais diretamente as condições externas para a economia brasileira", afirmou Toledo no relatório. No item desempenho da indústria, por exemplo, o relatório afirma que o setor está a 10% de distância da crise pós-Lehman, ou seja, em plena recuperação. Já o Ibovespa encontra-se em situação pior: o índice da Bolsa de Valores brasileira está a cerca de 40% da potência da crise de 2008. Os preços de commodities estão a apenas entre 5% e 20% do impacto da crise de 2008 e 2009, segundo a nota.

Toledo argumenta que, no tocante ao funcionamento dos mercados bancários nos Estados Unidos e na Europa, os bancos estão com mais capital do que em 2008 e há provisão ilimitada de liquidez pelo Fed e Banco Central Europeu (BCE), embora o sistema bancário nessas duas regiões ainda estejam em processo de recuperação e de recomposição de suas bases de capital. "Os bancos dos Estados Unidos e da Europa continuam sendo um evidente ponto de atenção", afirmou.




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