Setecidades Titulo Dificuldade
Pílula do dia seguinte só
é distribuída com receita

Diário percorreu 20 postos de saúde do Grande ABC; regra
estabelecida pelo Ministério da Saúde ainda não é cumprida

Thaís Moraes
Do Diário do Grande ABC
22/04/2013 | 07:00
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Mulheres que necessitam da pílula do dia seguinte - método de emergência que previne a gravidez - enfrentam dificuldade para conseguir o medicamento na rede pública da região. As UBSs (Unidades Básicas de Saúde) desrespeitam protocolo do Ministério da Saúde, que determina a distribuição do remédio sem a exigência da receita médica.

A equipe do Diário visitou 20 postos de Saúde nas quatro cidades mais populosas do Grande ABC. Em todos os locais foi exigida a receita médica.

Nas unidades de Santo André, São Bernardo e Mauá, a pílula estava disponível. No entanto, os postos requisitam, além do pedido médico, que os pacientes façam cadastro e conversem com o clínico geral ou enfermeira para receber orientações. Já em Diadema, nenhuma das cinco UBSs visitadas possuía o medicamento.

As unidades de São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra foram contatadas por telefone, mas não forneceram informações.

MUDANÇA - O Ministério da Saúde afirma que desde o início do ano foram distribuídas 175 mil cartilhas nas unidades de Saúde para orientar médicos e enfermeiras sobre o novo procedimento. A mudança foi anunciada publicamente na semana passada, quando foi lançado protocolo que pretende tornar mais ágil a distribuição do medicamento.

Antes da elaboração da cartilha, na retirada da medicação era exigida a receita médica. Para isso, a paciente deveria marcar consulta com o ginecologista, o que, por conta da demora, colocava em risco a eficácia do remédio. A pílula do dia seguinte deve ser usada até no máximo 72 horas após a relação sexual e é indicada para evitar a gravidez indesejada, seja por ausência ou falha de método de prevenção e em casos de violência sexual.

Segundo o ministério, o fim da obrigatoriedade da receita não significa a falta de rigor no fornecimento da pílula. Para que a mulher receba a medicação, ela primeiro deverá conversar com um médico ou enfermeiro que questionarão o porquê da procura pelo remédio.

Os dois profissionais deverão agir conforme as orientações do "Protocolo Levonorgestrel" (nome do medicamento). A prática inclui ouvir e analisar a história da paciente, orientá-la sobre o uso da pílula e até fazer agendamento para ações de planejamento reprodutivo.

A entrega da medicação de emergência nos postos não tem restrição de idade. De acordo com o protocolo "o acesso é um direito das mulheres adultas, jovens e adolescentes e deve ser amplo e livre de preconceitos e prejulgamentos".

 

Prefeituras garantem se adequar para atender protocolo

A Prefeitura de São Bernardo informou que as cartilhas do Ministério da Saúde ainda não chegaram e que o município só tomou conhecimento das novas determinações na quarta-feira. No dia seguinte, as orientações foram passadas aos farmacêuticos da rede.

Mauá aguarda o recebimento oficial do protocolo e das cartilhas para realizar a adequação. Diadema, por sua vez, afirmou que estuda maneiras de cumprir a determinação e que, provisoriamente, a pílula não está disponível na rede pública porque a Prefeitura aguarda o envio da medicação pelo Ministério da Saúde.

Contatada, a administração de São Caetano disse que mudanças estão sendo feitas para que todas as UBSs passem a fornecer o medicamento. Hoje, a distribuição é feita no Caism (Centro de Atenção Integral à Mulher), Centro de Saúde Doutor Manoel Augusto Pirajá da Silva e Hospital São Caetano.

Ribeirão Pires informou que todas as UBSs e USFs (Unidades de Saúde da Família) disponibilizam a pílula e que as novas normas do Ministério da Saúde estão sendo passadas às equipes.

Santo André e Rio Grande da Serra não se manifestaram sobre o assunto.

 

Especialista vê mudança como positiva e alerta para uso contínuo

O ginecologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC Rodolfo Strufaldi considera positiva a nova determinação do Ministério da Saúde.

"Sempre me posicionei contra a exigência da receita médica para a retirada da pílula. Isso limita muito o acesso porque não é sempre que existe um médico disponível, e a medicação exige urgência."

Apesar de a pílula poder ser ingerida em até 72 horas após a relação sexual, o ideal é que o medicamento seja tomado o mais rápido possível. "Se a mulher utilizar em até 24 horas, a chance de eficácia é de praticamente 100%. Mas conforme esse o tempo vai passando, o efeito também diminui", alerta Strufaldi.

Existem dois tipo de pílula do dia seguinte. Uma é disponibilizada em apenas um comprimido de 1,5 mg de levonorgestrel e a outra em dois comprimidos de 0,75 mg da mesma substância, que podem ser ingeridos de uma vez ou com um intervalo de 12 horas.

"A dose corresponde a mais ou menos oito comprimidos de um anticoncepcional normal. O que o medicamento faz é despreparar a parede do útero para a fecundação. No entanto, o uso repetitivo do remédio reduz a eficácia. Não deve ser utilizado sempre", esclarece o ginecologista.

Para que a procura pela medicação não seja banalizada, Strufaldi acredita que o mais importante é a orientação. "A enfermeira pode acolher a queixa e, conforme a situação, indicar a substituição ou a adesão a método preventivo mais eficaz."

O medicamento carrega alta dose de hormônio e pode causar efeitos colaterais como náuseas e vômitos. O protocolo informa que a anticoncepção de emergência não provoca sangramento nem altera significativamente o ciclo menstrual.

 

 




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