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Grupo cria protótipo que ajuda a andar

Alunos desenvolvem projeto com base na experiência de mobilidade reduzida de um deles

Thaís Moraes
do Diário do Grande ABC
01/04/2013 | 07:00
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Quando algo de ruim acontece, as pessoas costumam dizer que, futuramente, o motivo será revelado. Foi exatamente isso que o engenheiro recém-formado Luiz Alberto de Lima Alves, 23 anos, vivenciou. Em maio de 2011, quando ainda cursava o 4º ano do curso de Engenharia da Computação na Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo, Alves sofreu um acidente de trabalho que o impossibilitou de andar normalmente por nove meses.

Embora esse período tenha sido difícil e repleto de desafios que ele não imaginava, serviu para despertar no jovem a vontade de ajudar pessoas que possuem dificuldades de locomoção. Alves e mais dois colegas de faculdade, Ronaldo Candido Neves, 25, e Fernando Augusto Dias Rocha, 26, escolheram como tema do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) o desenvolvimento de um dispositivo ortopédico, chamado exoesqueleto. O aparelho possui a finalidade de auxiliar aqueles que possuem comprometimento parcial do movimento de membros inferiores, o que dificulta o ato de caminhar.

"Apesar de ser um tema inovador, o que conta pontos para o trabalho, a principal motivação é poder ajudar as pessoas. Quando sofri o acidente, senti na pele as dificuldades encontradas por deficientes em atividades que consideramos rotineiras, tais como subir escadas, ter acesso a transporte público, entre outras coisas", relembra Alves.

EQUIPE

Foi em setembro de 2011 que o grupo deu início ao projeto. Cada integrante ficou responsável por uma parte do trabalho, cujo desenvolvimento envolveu três áreas da engenharia: mecânica, eletrônica e software. "Quando apresentamos a ideia, os professores reagiram de forma positiva, mas disseram que seria um grande desafio. Muita gente duvidou da nossa capacidade, mas conseguimos mostrar do que somos capazes como profissionais", garante Neves.

Além das matérias básicas ligadas ao curso da área de Exatas, que eles já cursavam, o grupo precisou estudar a biomecânica e a funcionalidade do corpo humano para ter noção real dos movimentos executados pelos membros inferiores ao caminhar. Pouco a pouco, foram criando, com o auxílio de um programa de computador, as peças que formariam o protótipo - projeto em fase de testes.

Somente após nove meses de criação é que as peças foram para a confecção. Tanto esforço foi satisfatório: os recém-formados receberam nota máxima da banca examinadora no projeto. A meta do grupo agora é desenvolver as pesquisas para, assim, levar o produto ao mercado e torná-lo acessível às pessoas que mais precisam.

Dispositivos são testados pelo Exército

O dispositivo ortopédico, com 18 quilos e 80 centímetros, foi construído pelo grupo de estudantes com alumínio naval. Possui quatro motores de vidro de carro, sendo dois para cada lado do quadril e dois para os joelhos. Para os tornozelos, foi desenvolvido sistema de transmissão de molas que ajuda na movimentação dos calcanhares.

Os quatro motores funcionam com a energia de um microprocessador ligado a bateria. Os comandos são feitos por um controle, também desenvolvido pelos alunos da Universidade Metodista. "O maior problema quando se constrói um protótipo é a bateria, tanto no tempo de duração quanto na logística. É preciso pensar como transportar tudo isso", explica Luiz Alberto de Lima Alves.

O responsável pelos comandos que partem da placa e seguem para os motores foi Fernando Augusto Dias Rocha, que cuidou da parte de software. "Tivemos que aprender uma linguagem nova de computação que não estávamos habituados a usar."

Dispositivos que auxiliam na movimentação do corpo não são projetos inéditos. Os Estados Unidos são pioneiros nesse tipo de invenção, no entanto, a maioria dos protótipos não é comercializada porque possui fins militares. Com uma máquina dessas, um soldado é capaz de transportar mísseis pesadíssimos sem sentir quase nada, pular mais alto e correr mais rápido. Normalmente as baterias ficam armazenadas em mochilas.

Engenheiros buscam interessados em investir

O custo total do projeto do exoesqueleto ficou em torno de R$ 3.500. O valor, considerado alto, não é tão expressivo se comparado a protótipos americanos, que podem chegar a US$ 150 mil. Já os dispositivos japoneses e chineses são mais baratos, entre US$ 30 e US$ 40 mil.

"Nosso projeto não está pronto para ser utilizado por pacientes. Precisamos melhorar o sistema de controle e diminuir o peso do exoesqueleto. Mas, para continuar os estudos, precisamos do investimento de algum órgão público ou privado, pois o custo é muito alto", ressalta o engenheiro Luiz Alberto de Lima Alves.

Conforme o grupo, a ideia é que o dispositivo seja produzido em massa e se torne economicamente mais acessível que os encontrados no mercado atualmente. "Esse trabalho pode trazer uma perspectiva diferente do que as pessoas com dificuldade de locomoção enfrentam", destaca Ronaldo Candido Neves, responsável pela área de mecânica.

Alves, encarregado da parte de eletrônica, acredita que, apesar da grande dificuldade, o objetivo foi atingido. "Abdicamos de muita coisa, mas a nossa principal meta é ajudar as pessoas. Não visamos lucro."

O programador Fernando Augusto Dias Rocha salienta que o desenvolvimento do protótipo lhe deu mais flexibilidade para atuar em outras áreas. "Trabalho com software, mas tive que aprender mais sobre diversos assuntos. Isso me deixou preparado para várias oportunidades, independente do ramo."




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