De janeiro a março o setor dos bancos amargou saldo negativo de 1.354 postos de trabalho. Em todo o País, as instituições bancárias desligaram 8.236 bancários e contrataram 6.882, de acordo com estudo elaborado pela Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Segundo os organizadores do levantamento, a fusão ocorrida entre Itaú e Unibanco em novembro do ano passado puxou boa parte dos resultados, não sendo, portanto, a crise financeira internacional a culpada pelos cortes.

Curiosamente, houve uma inversão do resultado observado no mesmo período de 2008: saldo positivo em 3.139 vagas, quando foram demitidos 10 mil funcionários e admitidos 13 mil.

Além de haver um número maior de encerramento nos postos de trabalho, se compararmos com o ano passado, neste trimestre a diferença salarial entre os demitidos e os contratados atingiu 54,4%. A remuneração média dos desligados era de R$ 3.939,84; a dos novos funcionários, de R$ 1.794,46. Em 2008, essa diferença já era significativa, de 34,3%.

CRISE NÃO É CULPADA - "Demitir não custa caro, como sempre alegam os empregadores. Se custasse, o saldo deste ano não seria maior do que o do ano passado. E as demissões não têm nada a ver com a crise", afirmou Carlos Cordeiro, presidente da Contraf.

Para Cordeiro, embora eles não tenham acesso aos números de cada uma das 160 instituições bancárias - a pesquisa é feita com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mede o emprego formal no País -, é possível tirar conclusões com o que têm.

"Como a região Sudeste foi a que mais demitiu (- 1.255) e é lá que estão os seis maiores bancos, deu para chegar ao um consenso". De acordo com Cordeiro, o Banco do Brasil não fez cortes durante o período - mesmo tendo adquirido a Nossa Caixa também em novembro de 2008 - e a Caixa Econômica Federal encerrou o trimestre com saldo positivo de 1.340 postos.

O sindicalista avisou que vai reclamar ao Cade - órgão federal responsável por barrar ou permitir as junções de mercado. "Por enquanto nenhuma agência foi fechada, mas não se sabe se isso vai continuar assim".

Gheorge Vitti, diretor-executivo do Sindicato dos Bancários do ABC, concorda e reforça. "Se levarmos em conta apenas o pequeno centro de São Caetano, existem quatro bancos que vão se tornar Santander. Será mesmo que vão manter as agências? Acho difícil, embora haja demanda para todas elas", questionou, referindo-se à fusão do Santander com o ABN-Amro no final de 2007.

REGIÃO - As instituições bancárias, na opinião de Vitti, são muito gananciosas, pois se há alguns anos pagavam 40% da folha de pagamento com as tarifas bancárias, hoje conseguem pagar duas folhas de pagamento.

Com base na contribuição sindical de cada um dos bancários do Grande ABC - o que não reflete 100% da situação, mas dá uma ideia -, o saldo de vagas entre março de 2008 e março de 2009 foi maior do que no mesmo intervalo entre 2007 e 2008, com 31 postos a mais. "Embora o resultado seja positivo, isso não representa melhora, pois antes sequer havia demissões no setor, que é de intermediação. Era muito estável".

Segundo Vitti, muitos dos demitidos não voltam mais ao mercado, pois são pais e mães de familia. "Eles contratam pessoas mais novas e, muitas vezes, não põem para atender o público, mas para vender produtos".

O perfil dos demitidos, segundo o estudo, é de funcionários antigos, sendo 30% com anos de casa e 84% com nível superior. O dos demitidos é de jovens entre 18 e 24 anos, com baixo índice de escolaridade e recebendo o piso da categoria.