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'Quem sou eu para sacrificar alguém?', diz Volpi
Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
09/03/2009 | 07:01
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Grande líder do PV no Grande ABC e apontado como o pivô das discussões do partido em torno das possíveis expulsões do ex-prefeito de Mauá Leonel Damo e de sua filha, a deputada estadual Vanessa Damo, o prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi, demonstra tranquilidade ao rebater - e negar - as acusações.

Cheio de críticas quanto à postura adotada pela sigla em Mauá, Volpi confirma que o diretório da cidade precisa trocar de comando e condena a escolha de José Carlos Orosco, marido de Vanessa, para conduzir a legenda à reestruturação.

O prefeito reafirma que disputar uma eleição pelo Paço mauaense está em seus planos, mas descarta que esteja articulando parcerias contra a deputada, potencial candidata ao Paço em 2012.

Sobre o apoio de Vanessa ao candidato do PSDB em Ribeirão, Valdírio Prisco, na eleição do ano passado, Volpi diz não guardar mágoas e que o "dinamismo da política" permite que grupos sejam formados, independentemente de coligações.

De maneira discreta, o chefe do Executivo de Ribeirão atesta que possui, sim, uma preferência na região na disputa de vaga na Assembleia em 2010. Trata-se da presidente do PV em São Paulo, Regina Gonçalves, também vereadora em Diadema.

Por fim, Volpi avalia que Vanessa Damo encontrará dificuldades para conseguir recuperar sua imagem na política, após a administração de Leonel em Mauá.

DIÁRIO - Como coordenador regional do PV, o sr. foi apontado como responsável direto pela articulação para fazer com que o ex-prefeito Leonel Damo (PV) fosse expulso do partido. Essa movimentação realmente ocorreu?
CLÓVIS VOLPI - Não, isso não é verdade. Mantive conversas com o partido porque precisamos renovar o diretório de Mauá. Precisamos dar ao PV a oportunidade de se recompor. E não dá para recompor um partido, com as mesmas pessoas que estavam lá. Não trabalho pela expulsão de ninguém, mas sim pela renovação partidária em Mauá. Não deu certo lá, precisamos mudar. Se (Leonel Damo) quiser, sai do partido. Ele mesmo disse que se aposentou. Então, a renovação é um processo natural.

DIÁRIO - Leonel Damo foi convidado a participar de uma reunião na executiva amanhã para falar sobre os problemas que teve no gerenciamento de Mauá. O sr. como coordenador regional, participará deste encontro?
VOLPI - Não sei se estarei aqui. Vou até Jaú auxiliar um prefeito do PV, um grande amigo. Mas não vejo por que precise ajudar.

DIÁRIO - Vera Motta, presidente da comissão de ética do partido, disse que algumas decisões do PV de Mauá fizeram com que houvesse a necessidade de se suspender o diretório municipal e chamar essa reunião. Regina Gonçalves, presidente estadual, disse que todas as comissões do estado estavam suspensas. Um dos motivos para a necessidade de mudança é que, em Mauá, o diretório estava ligado diretamente ao ex-prefeito?
VOLPI - Todas as cidades terão a possibilidade de fazer uma renovação. Todas as nominatas estão suspensas. Mas, inicialmente, onde houve problemas, há necessidade dessa renovação.

DIÁRIO - Quem assumiu o diretório em Mauá foi o marido da Vanessa, José Carlos Orosco Júnior. O sr. acredita que mantê-lo na presidência ajudará na reestruturação partidária?
VOLPI - Não. Como é que vou renovar o diretório se coloco o meu filho ou a minha nora para presidi-lo, se sou o maior líder político? O Orosco representa a continuidade. Sou contra a permanência dele. É necessária uma oxigenação no comando do partido.

DIÁRIO - Quem apareceria na cidade como uma nova liderança do partido?
VOLPI - Temos dois vereadores, temos suplente. Vamos discutir, isso é importante para o partido.

DIÁRIO - O sr. está em seu segundo mandato, e seu vice, o Dedé, é de outro partido, o PPS. Como funcionaria a dinâmica da eleição para 2012 em Ribeirão? O PV sairia com nome próprio?
VOLPI - O PV tem um bom quadro, mas nada impede que tenhamos uma composição política. Se não tivermos um candidato com um bom perfil, nomearemos um para vice. Não podemos deixar de estar em uma chapa majoritária. Porque temos um grupo político e, dentro dele, diversos líderes. Mas somente em 2012 discutiremos isso. Não descartamos a possibilidade de ter um candidato próprio, como não descartamos apoiar alguém que possua perfil para ganhar uma eleição, mas que também precise do PV para que isso aconteça. A política é muito dinâmica.

DIÁRIO - Neste contexto, onde foi que Mauá pecou?
VOLPI - Eles abriram mão de tudo. O que se observou foi que o PV não era o carro-chefe de nenhum grupo, era um partido agregado. E não podemos sê-lo. A melhor coisa é manter um grupo. Em Ribeirão, temos um grupo grande de partidos no governo, queremos manter a unidade para vencer a eleição em 2012. Se entendermos que nessa situação não teríamos o melhor candidato, o que pode acontecer é escolhermos outro. Mas temos de entrar com um grupo forte para vencer.

DIÁRIO - O sr. mantém a posição de que se fosse convidado concorreria em Mauá?
VOLPI - Mantenho. Não posso dizer dessa água não beberei. Se houver um clamor popular, se houver falta de liderança partidária e se a legislação eleitoral permitir e tiver cumprido meus compromissos aqui. Sou um pretenso candidato, mas o que quero agora é recuperar a imagem do PV em Mauá. Isso é fundamental para mim. Tínhamos um grande espaço político para crescer, para mostrar às pessoas nossa capacidade e nosso quadro. Vincular nossa administração, que é boa, ao partido. A própria executiva estadual sente isso. Tínhamos dois prefeitos e pecamos por um gerenciamento que atrapalhou um pouquinho o caminho. Tenho todo um histórico em Mauá. Fui presidente da Câmara, deputado estadual com votação maciça, duas vezes vereador, deputado federal, secretário de Educação. Mas tudo dependerá da circunstância do momento.

DIÁRIO - O sr. vê na Vanessa Damo uma possível prefeita de Mauá no futuro?
VOLPI - Vejo. Ela tem possibilidades de crescer politicamente. Quem sou eu para sacrificar alguém?

DIÁRIO - Mas o sr. reafirma que não tem qualquer ação interna dentro do PV para expulsar a Vanessa?
VOLPI - Não. Sou contra expulsá-la do partido, ela tem de disputar a eleição dentro do partido. Proponho uma reforma político-partidária internamente. Essa reforma deve apontar para mudanças de diretrizes, não expulsões. Vamos mudar o perfil, mas não dá para mudar perfil com as mesmas pessoas. Não quero expulsar ninguém, quem se sente mal, que saia do partido.

DIÁRIO - Isso não criaria dificuldades ao redor de seu nome para a vaga?
VOLPI - Não. Eu disse que se houver clamor e falta de lideranças, estou disposto a ajudar o partido. Caso contrário, não preciso fazer isso. Continuarei a minha trajetória em outra área. Ela tem essa eleição agora, precisa fazer um bom trabalho, conseguir reformular o pensamento administrativo da marca deixada pelo pai dela. Vejo tantos políticos se recuperarem de uma má administração. Mas tenho outros nomes, tenho muito carinho pela Regina (Gonçalves, presidente estadual do PV e vereadora em Diadema). Gostaria que ela se elegesse deputada estadual pelo Grande ABC. Acho que o partido precisa de pessoas como ela, ativa, inteligente, tem tudo. Quero me dedicar aos candidatos da região. Se não for possível, buscaremos nomes de fora, como o Penna (José Luiz França Penna, presidente nacional do PV e vereador em São Paulo) para deputado federal. Mas, reitero, não pedirei a expulsão de ninguém. E não estou levando em consideração se ela (Vanessa Damo) ajudou ou não na minha reeleição. Nem darei o troco, pois a sigla precisa dela.

DIÁRIO - Ela não fez campanha com o sr. Aceitaria participar da campanha dela?
VOLPI - Depende da época. Não pedi a participação dela, mas se ela vier até aqui e conversar, posso fazer. Não lançarei ninguém como candidato, nem estadual e nem federal. Mauá tem de lançar. Eles têm muito mais probabilidade de vencer. Serei apenas um colaborador. Trabalharei para o partido.

DIÁRIO - O sr. acredita que ela realmente pode recuperar a imagem deixada pelo prefeito Leonel Damo em Mauá?
VOLPI - Não sei. Isso dependerá dela, como ela fará para recompor esse quadro. Já vi gente se recuperar do zero. Mas é um trabalho árduo.




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