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Tiago Santiago, o homem das novelas
Por Márcio Maio
Da TV Press
22/04/2008 | 07:00
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Apesar de se gabar dos números de audiência que alcança com Caminhos do Coração, na Record, Tiago Santiago não parece estar no melhor dos mundos. O autor tem sido alvo de uma série de críticas dos outros autores da emissora por conta de sua atuação como consultor de teledramaturgia. Por indicar modificações em sinopses entregues pelos outros autores, Santiago tem deixado insatisfeitos profissionais experientes como Lauro César Muniz e Ana Maria Moretzsohn.

Com média de 17 pontos no Ibope há mais de dois meses, Caminhos do Coração está próximo do recorde de audiência da nova fase de teledramaturgia emissora, que pertence a Prova de Amor, também escrita por Santiago. Por causa do atual sucesso, a emissora decidiu fazer uma continuação da trama, chamada de Caminhos do Coração – Os Mutantes, e colocá-la às 21h, para enfrentar a substituta de Duas Caras, na Globo, A Favorita. A nova ‘fase’ estréia em 2 de junho e não tem data prevista para terminar. “Estamos pensando em algo como 150 capítulos, mas pode virar uma série”, adianta, sem esconder o sorriso de satisfação.

Enquanto sinopses de outros autores sofrem ajustes ou são reprovadas na Record, sua novela ‘termina’ em maio, mas terá uma continuação, Caminhos do Coração – Os Mutantes, apresentada em um horário mais cedo. O fato de você ser consultor de teledramaturgia da emissora tem alguma coisa a ver com isso?

TIAGO SANTIAGONão pedi para ser consultor da Record. Fui convidado em 2004 e aceitei. O que importa para que uma novela seja esticada ou tenha uma continuação é o retorno que dá. E o histórico de Caminhos do Coração só perde na Record para o de Prova de Amor, que também é de minha autoria. Alguns autores podem estar chateados com isso, mas minha novela já foi planejada para ter uma continuação. 

Como consultor, você interfere nas sinopses entregues pelos outros autores. Isso tem gerado desconforto entre eles. Existe algum limite para essa interferência?

SANTIAGONão mexo no texto dos autores, como alguns profissionais já comentaram. Apenas emito opiniões sobre sinopses que podem ou não ser aprovadas pela emissora. Resumindo: só aponto certos elementos que costumam fazer sucesso nas nossas produções e que a gente quer manter. Tenho de pensar no retorno que o texto pode trazer.

Mas alguns autores da Record criticam a sua postura nos veículos de comunicação. Como você recebe essas críticas?

SANTIAGO Isso me incomoda. Primeiro, porque não tinha de ser discutido fora da empresa. E principalmente porque eu sou o primeiro a incentivar a contratação de autores na emissora. Levei o Lauro César Muniz e a Ana Maria Moretzsohn para a Record. Não teria sentido eu ser injusto com eles agora. O que eu acho engraçado é que lá ninguém fazia isso.

Lá onde, na Globo?

SANTIAGOSim. Fica parecendo que existe um caos na área de roteiristas da Record, mas não é verdade. Tivemos problemas que se tornaram maiores porque chegaram até a mídia e ganharam uma proporção que não deveriam. O que temos na emissora é uma estrutura hierárquica semelhante à usada na Globo. Os autores que hoje protestam na Record também tiveram sinopses reprovadas na Globo e não agiram assim.

 

Caminhos do Coração – Os Mutantes irá ar às 21h, com estréia no mesmo dia e horário de A Favorita, nova novela das nove da Globo. Isso amedronta você?

SANTIAGONão, mas é possível que a minha novela perca pontos no Ibope. Pelo menos, no primeiro momento. Só que existe uma grande possibilidade de conseguirmos aumentar o índice geral de audiência da Record. Isso vai ser bom para a emissora, mas pode diminuir o sucesso da minha história. Sou autor, mas a minha função de consultor pesa aí também. O que está em jogo é o interesse da Record em elevar a audiência e eu tenho de acatar.

Você trabalhou mais de 15 anos na Globo, mas nunca conseguiu escrever uma novela como titular. Por quê?

SANTIAGO Isso me levou a uma crise. Quando fiz 40 anos e vi que continuava como colaborador comecei a achar que não merecia mais que aquilo, que não era bom o suficiente. A falta de oportunidades mexe com a auto-estima das pessoas. Aí veio o convite da Record e não tinha como recusar. Quase emplaquei duas novelas naquela época, mas a primeira foi substituída por Quem É Você? e a segunda foi adiada. Tratava-se de um remake de O Profeta, que eles colocaram no ar em 2006.

O que a direção da Globo alegava ao negar suas sinopses?

SANTIAGO O discurso era sempre o mesmo. Falavam que não dava, que ficaria para o futuro. Sempre foram gentis e educados comigo, mas nunca confiaram. Acho que hoje podem estar arrependidos. Mas eu entendo que o Mário Lúcio Vaz prefira o texto de um autor de sucesso. Eles têm muitas opções, podem fazer isso. Acho que foi melhor para mim porque hoje consigo uma repercussão na Record que não teria na Globo. E a gratidão que guardo é maior do que a mágoa que sinto por não ter sido tão valorizado. Mas o saldo é positivo.



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