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Cigarro: apague esta chama
Fábio César dos Santos
Especial para o Diário
26/05/2008 | 07:04
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Na noite de 26 de março de 2000, celebrou-se a 72ª festa do Oscar. Na ocasião, como em tantas outras em que essa festa foi celebrada, sagrou-se um grande vencedor: o filme Beleza Americana. Fiquei um tanto decepcionado. Não pelo resultado superpositivo deste longa-metragem, mas pela ausência de estatuetas para o filme O Informante. Para mim, ele foi o grande campeão moral da noite. Digo moral na acepção da palavra, pois o filme retrata a trajetória de Jeffrey Wigand (Russell Crowe), ex-biologista da Brown & Williamson (uma das gigantes do ramo do tabaco), e do produtor Lowell Bergman (Al Pacino), que o convenceu a falar em público sobre as substâncias que as empresas de tabaco colocam em seus produtos para viciarem os usuários.

O filme foi baseado em uma história real de 1994, na qual um ex-executivo da indústria do tabaco deu entrevista polêmica ao programa jornalístico 60 Minutos, da rede norte-americana CBS.

Que o tabagismo causa inúmeros problemas - entre eles, o vício -, todos os leitores sabem. Talvez o que não saibam são os números marcantes deste vício e a dificuldade de apagá-lo da vida de seus usuários.

O tabagismo é considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) a principal causa de morte evitável em todo o mundo. A entidade estima que um terço da população mundial adulta, isto é, 1,2 bilhão de pessoas (entre as quais, 200 milhões de mulheres), sejam fumantes. O total de óbitos devido ao uso do tabaco atingiu a cifra de 4,9 milhões de mortes anuais, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia.

No Brasil, a incidência de tabagistas é maior entre homens e em capitais de regiões mais industrializadas. Estima-se que cerca de 200 mil mortes por ano são decorrentes do tabagismo. Destes, o maior número de óbitos é provocado por câncer de pulmão, por doenças cardiovasculares e cerebrovasculares (infarto e derrame), e por doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema).

Além disso, os fumantes apresentam, em geral, menor resistência física, menor desempenho sexual, pior aparência, resultando em pior qualidade de vida.

Pior ainda é sabermos que os fumantes passivos - adultos e crianças que convivem com os tabagistas em locais fechados - também terão alterados todos esses índices mesmo sem fumar um único cigarro.

Derivados- O problema não é apenas com o cigarro. Todos os derivados do tabaco que podem ser usados por meio de inalação (charuto, cachimbo, cigarro de palha etc), aspiração (rapé) e mastigação (fumo-de-rolo) também são nocivos à saúde.

Quando esses derivados são consumidos, são introduzidas no organismo mais de 4.700 substâncias tóxicas, incluindo nicotina (responsável pela dependência química), monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso que sai do escapamento de automóveis) e alcatrão, que é constituído por aproximadamente 48 substâncias pré-cancerígenas, como agrotóxicos e substâncias radioativas.

A nicotina, ao ser ingerida, produz alterações no sistema nervoso, modificando o estado emocional dos indivíduos, da mesma forma como ocorre com a cocaína, a heroína e o álcool. Depois que atinge o cérebro, entre sete e nove segundos, ela libera várias substâncias (neurotransmissores) que são responsáveis por estimular a sensação do prazer, o que explica a satisfação do usuário ao fumar.

Com a ingestão contínua, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses cada vez maiores para manter o mesmo nível de satisfação que tinha no início (dependência).

O pior é que aditivos, como a amônia, podem interferir nas características químicas do tabaco, aumentando a quantidade de nicotina absorvida. E outras substâncias, como o mentol, podem mascarar a aspereza do cigarro, tornando-o mais ‘aceitável'.

Tratamento - O que fazer então para apagar essa chama? A primeira alternativa que usamos em nossos consultórios deve ser a abordagem cognitivo-comportamental, visando a educação do indivíduo com relação aos males do tabaco, através de diversas técnicas para a cessação do vício.

A farmacoterapia atual usa, principalmente, os repositores de nicotina (gomas, adesivos, sprays), os antidepressivos (bupropiona) e os não-nicotínicos e não-antidepressivos (vareniclina), que atuam em conjunto com a terapia comportamental aumentando sua eficácia.

Outros métodos, como a hipnose, a acupuntura e a aromaterapia, ainda estão em análise com relação à eficácia.

Vontade - O que sabemos é que o desejo de parar de fumar é o ponto mais importante deste processo e que o número de cigarros por dia também está diretamente ligado ao sucesso.

Fumar mais de 20 cigarros por dia dificulta bastante todos os tipos de intervenção.

Aproveito para lembrar que a OMS escolheu o tema Juventude Livre do Tabaco para a celebração do Dia Mundial sem Tabaco 2008 (31 de maio). Aproveite este dia e livre-se dele!

No Japão, máquina ‘inteligente' decide se comprador pode fumar

Das Agências

A empresa japonesa Fujitaka lançou nesta semana uma máquina que identifica a idade do comprador de tabaco e decide se ele pode ou não fumar. A nova tecnologia baseia o veredicto na análise de rugas, pés-de-galinha, estrutura óssea e flacidez do rosto. Se este conjunto de evidências faciais apontar que o usuário tem menos de 20 anos, o sistema ‘inteligente' recusa a venda do cigarro.

No ato da compra, o freguês deve olhar para uma câmera instalada na máquina, que irá comparar os traços da face com os de outras 100 mil pessoas guardados na memória.

A margem de erro do sistema, no entanto, gerou críticas. Segundo Hajime Yamamoto, da Fujitaka, a invenção acerta em 90% dos casos. Os 10% restantes terão de inserir a carteira de motorista na máquina para comprovar a idade.

A medida visa reduzir o vício entre jovens. Pelas leis japonesas, a idade mínima para fumar é de 20 anos. O governo estima que até julho as 570 mil máquinas de cigarros do país já estarão adaptadas ao novo sistema de identificação de fumantes.

Consumo em local proibido terá multa de R$ 560 em SP

Da AE

O governador de São Paulo, José Serra, sancionou na última terça-feira uma lei estadual que prevê multa de aproximadamente R$ 560 para quem fumar nas áreas internas de repartições públicas, bancos, hospitais ou instituições de ensino.

A punição, a cargo das Ufesps (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo), vale tanto para o fumante quanto para o estabelecimento em que ocorrer a infração. Os ambientes em que o fumo passa a ser proibido devem ter avisos em locais visíveis e de fácil identificação.

A lei foi aprovada pela Assembléia Legislativa e entra em vigor a partir da data de publicação no Diário Oficial.

‘Cigarro me fez enfartar', diz ex-fumante

Heloísa Cestari

Fumante desde os 18 anos, o gerente de vendas José Waldomiro Weisshaupt Bibar, 46, de São Bernardo, teve de sofrer um enfarte e passar quase um mês no hospital para conseguir afastar o cigarro do seu dia-a-dia.

"Tinha vontade de parar de fumar, mas ficava adiando. Precisou acontecer uma coisa dessas para eu largar de vez", diz Bibar, que chegou a ter duas paradas cardíacas e passou inconsciente grande parte do tempo em que ficou internado no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. "Uma delas durou 25 minutos, entre paradas e reanimações. Eu podia ter sofrido seqüelas e até não ter voltado à vida."

Depois do susto, em fevereiro, Bibar recorre agora a chicletes, pirulitos e muita força de vontade para controlar a vontade de acender um cigarro e dar adeus ao vício, que o fazia consumir cerca de um maço e meio por dia. "No começo, eu masquei muitos chicletes. Agora, já diminuí bastante. Quando a vontade de fumar vem, eu procuro me distrair e ela vai logo embora. Não dura mais do que dez minutos e ocorre só em alguns momentos do dia."

O resultado foi uma melhor qualidade de vida e até de trabalho. "O cigarro prejudicava não só a minha saúde como a minha profissão. Como sou gerente de vendas de uma importadora de vinhos, preciso muito do olfato e do paladar para fazer as degustações, e o cigarro me prejudicava muito nesse sentido", observa Bibar, que já começa a desfrutar dos benefícios da abstinência.

"Além de sentir uma melhora tremenda no olfato e no paladar, estou mais disposto, mais resistente. Faço caminhadas e não sinto mais falta de ar", comemora o ex-fumante.

Até os seus irmãos se sentiram estimulados a deixar o vício. E para os que ainda persistem, Bibar dá o recado: "Se a pessoa quiser, ela pára de fumar. Dá para sair tranqüilo, mas é preciso ter força de vontade. Não espere levar um baita susto como o que eu levei para decidir que o cigarro não deve mais fazer parte da sua vida."




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