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Paralisação afeta 30 mil passageiros de 13 linhas de ônibus de S.Bernardo

Motoristas e cobradores protestaram contra desconto no salário considerado abusivo

Por Natália Fernandjes
Renata Rocha
09/05/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Cerca de 30 mil pessoas foram afetadas, na manhã de ontem, por paralisação de motoristas e cobradores das empresas Viação Riacho Grande, Triângulo e Imigrantes, responsáveis pela operação de 13 linhas de ônibus de São Bernardo. Os trabalhadores cruzaram os braços à 0h depois de terem descontado do salário o valor relativo ao número de passageiros idosos e com deficiência transportados pelos coletivos.

As linhas paralisadas partem de São Bernardo em direção à Capital, como o Terminal Sacomã e a região da Saúde, e para Diadema. Apesar de a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) ter acionado a empresa MobiBrasil para reforçar a sua frota, passageiros tiveram de procurar caminhos alternativos, como trólebus, táxis e metrô para chegar ao trabalho.

“Moro na Avenida Capitão Casa e pego o ônibus Sacomã, mas hoje (ontem) tive de embarcar numa linha municipal até o Terminal Ferrazópolis e, depois, pegar o trólebus até o Jabaquara e, de lá, usar o Metrô”, destaca a promotora Soraya Maria Bernades, 33 anos, que trabalha no Ipiranga. A moradora de São Bernardo só chegou em tempo no trabalho porque saiu de casa com uma hora e meia de antecedência.

Já a estagiária Marina Freire, 21, não teve a mesma sorte. “Eu não sabia da greve e fiquei mais de uma hora esperando o ônibus que vai para a Saúde. Usei meu celular e, pelo Facebook, descobri o que estava acontecendo”, comenta. A alternativa encontrada pela jovem foi pagar R$ 41,20 pela corrida de táxi até a empresa.

PROTESTO

Conforme explica um cobrador da Viação Riacho Grande, de 62 anos, os funcionários foram avisados pela diretoria das empresas há cerca de dez dias de que não estavam mais autorizados a permitir que idosos ou pessoas com deficiência passassem pela catraca. “Está difícil de trabalhar porque o idoso coloca o cartão e eu digo que não posso validar a passagem por ordem da empresa. Me descontaram R$ 90 por dois dias em que liberei a catraca, mas teve colega que deixou todo mundo passar e foi descontado em mais de R$ 250”, conta.

Os profissionais decidiram parar depois de receberem notificação sobre o número de pessoas com gratuidade que passaram pela catraca e o valor a ser descontado do pagamento mensal. “É um absurdo essa medida. A empresa quer que eu deixe os idosos na parte da frente do ônibus, mas não tem lugar para sentar. Qualquer freada que eu der eles (idosos e deficientes) podem cair e se machucar”, protesta um motorista da Viação Riacho Grande, 44.

O grupo de funcionários permaneceu em frente à garagem da Viação Riacho Grande entre 3h e 11h, quando foi realizada reunião entre a direção responsável pelas três empresas, representante do Sintetra (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Grande ABC) e comissão de trabalhadores. A paralisação foi encerrada por volta das 13h30, quando os funcionários retornaram ao trabalho. Ficou acertado que a medida de barrar quem utiliza o cartão especial estava cancelada, as horas de paralisação dos profissionais não serão descontadas e os motoristas e cobradores serão ressarcidos pelas cobranças realizadas.

FISCALIZAÇÃO

A EMTU destacou que a gratuidade aos idosos e pessoas com deficiência é garantida por lei e, em fiscalizações recentes nas linhas do Grande ABC, foi constatado que os usuários são orientados a embarcar e desembarcar do ônibus sem passar pelo validador. Além de autuadas, as empresas responsáveis – que não tiveram os nomes revelados – foram advertidas e orientadas a adotar os procedimentos corretos.

A gratuidade no sistema de transporte intermunicipal é garantida a idosos com idade igual ou superior a 65 anos, conforme prevê a lei federal 10.741, de 2003. O benefício também é destinado a pessoas com deficiência cuja gravidade comprometa sua capacidade de trabalho, bem como aos menores de 16 anos com deficiência, conforme resolução vigente.

Empresário alega existência de máfia e acionará Justiça

O empresário Baltazar José de Souza, responsável pelas empresas Viação Riacho Grande, Triângulo e Imigrantes, justificou que a proibição do uso dos cartões de gratuidade, utilizados por idosos e deficientes, foi realizada após ter observado prejuízo em seu caixa. “Existe uma máfia em que cobradores e motoristas estão envolvidos. Eles cobram as passagens das pessoas, usam o bilhete da gratuidade e ficam com o dinheiro”, destaca.

Segundo o empresário, em apenas uma semana as empresas sofreram desfalque de cerca de R$ 8.000 devido ao suposto esquema que envolve “maus funcionários”. “Os cobradores andam com os bolsos cheios de cartões de deficientes e idosos. Isso eu não aceito. Assim eu quebro”, revela.

Questionado sobre punições aplicadas a funcionários que participam do suposto esquema, Souza destacou que entrará na Justiça na tentativa de resolver o problema, em breve.

O presidente do Sintetra (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Grande ABC), Francisco Mendes da Silva, o Chicão, destacou que a situação é de intransigência por parte do patrão em relação aos funcionários. “O idoso tem direito de entrar pela porta da frente e passar pela catraca, até porque não há espaço para que permaneça na frente. Infelizmente a paralisação foi a única alternativa encontrada pelos funcionários”, observa.

Categoria decreta estado de greve por reajuste salarial de 10%

Os cerca de 7.200 profissionais das 26 empresas de ônibus que operam no Grande ABC decretaram, na manhã de ontem, estado de greve. A categoria rejeitou a proposta patronal de 5,62% de reajuste nos salários, a ser aplicada em quatro parcelas. Motoristas e cobradores pedem 10% de reajuste.

De acordo com o presidente do Sintetra (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do ABC), Francisco Mendes da Silva, o Chicão, será realizada assembleia na quarta-feira para decidir se os profissionais cruzarão os braços a partir da 0h de quinta-feira.

“Sabemos que a greve é um transtorno para a população e que é um momento delicado, porque pode haver oportunistas que usem a situação para tumultuar. Mas observamos alta em tudo, como preços do aluguel e nos alimentos, menos nos salários”, destaca.

O gerente jurídico do SETC (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do ABC), Francisco Bernardino Ferreira, ressalta que a entidade não foi informada oficialmente sobre a rejeição da proposta de reajuste nem sobre a decisão de decretar estado de greve. “Não trabalhamos com a hipótese de paralisação, já que não fomos comunicados oficialmente sobre isso”, sustenta. 




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