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Greve nas federais afeta
carreira de universitários

Na UFABC e na Unifesp Diadema, alunos mantêm pesquisas
para diminuir prejuízo; não há previsão de fim da paralisação

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
10/08/2012 | 07:00
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A greve dos docentes e técnicos administrativos das universidades federais, que já dura 84 e 59 dias, respectivamente, traz prejuízos aos estudantes da região. Alunos da UFABC (Universidade Federal do ABC) e do campus Diadema da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) são obrigados a repensar planos e adiar projetos, como a entrada no mercado de trabalho ou prosseguimento da vida acadêmica. Há receio ainda quanto à possibilidade de perda de estágio e bolsas de estudo, já que não há previsão de fim da paralisação nacional.

Nas universidades esvaziadas, o único movimento é de alunos que mantêm pesquisas acadêmicas que não podem ser interrompidas. Há também quem aproveite a paralisação para avançar nos estudos e trabalhos de conclusão de curso.

Na Unifesp Diadema, a estudante do último semestre do curso de Química Rubia Yano, 23 anos, terá de adiar o ingresso no mestrado, que começa em setembro. "Não fosse a greve estaria formada. Agora já não sei se vou poder dar continuidade com o mestrado ou se vou ter de esperar até o próximo ano", destaca. Para piorar a situação, a bolsa de iniciação científica que a moradora de Santo André recebe termina em agosto. Depois deste período, precisará da ajuda dos pais para se manter enquanto conclui a graduação.

A sorte de Stephanie Amarillis do Espírito Santo, 24, também aluna do último semestre de Química da Unifesp, é que sua bolsa de iniciação científica acaba apenas no fim do ano. A jovem usa a verba para manter os estudos e sua permanência em república no Centro de Diadema, que divide com outras oito pessoas. Até lá, a esperança é que a vaga no mestrado seja mantida e ela consiga ingressar no curso.

O principal prejuízo para a estudante de Engenharia Nuclear na UFABC Caroline Rodrigues, 22, foi a perda de estágio, considerado importante para a carreira. "Queria ter passado de 30 a 40 dias na Usina Nuclear de Angra dos Reis (RJ), mas os técnicos que cuidam da documentação estão em greve", comenta. Ela torce para que a oportunidade esteja disponível em dezembro. Enquanto isso, continua se dedicando em projeto de pesquisa iniciado há um ano pelo menos três vezes por semana.

A estudante Ariane Gabriel, 25, está no último ano do curso de Engenharia Ambiental e Urbana e faz estágio há dois anos. Ele teme perder a chance de efetivação e não conseguir ingressar em programas de trainee por não ter diploma em janeiro, como esperado. "Se isso acontecer, terei de esperar um ano por outra chance", observa. No emprego atual, a briga será pela efetivação a partir do diploma do curso de BC&T (Bacharelado em Ciência e Tecnologia), já obtido.

Já a aluna do 4º ano do curso de Química da UFABC Viviane Bianchi, 21, tenta correr contra o tempo para concluir uma das fases de sua pesquisa. O estudo relaciona a análise da água de esgoto de determinada região com a incidência do consumo de cocaína - traços da droga podem ser identificados nos dejetos. Por conta da greve dos técnicos administrativos, o período de uso dos equipamentos dos laboratórios de graduação foi reduzido, o que atrapalhou os estudo. "Tenho congresso no fim de setembro e ainda não tenho resultado das análises."

Paralisação é mal necessário, diz estudante

Apesar das consequências negativas que já começam a aparecer, a greve dos docentes e técnicos é vista como "mal necessário" pelos estudantes. Tanto os que desejam seguir carreira acadêmica quanto os que optam pelo mercado de trabalho ressaltam que a paralisação é importante para melhorar as condições de trabalho. Eles responsabilizam o governo pela longa duração da paralisação e pelo pouco interesse em negociar.

"A gente já esperava ser afetado pela greve, mas não por tanto tempo. O problema é que a paralisação não afeta a população nem o andamento do País. Por isso, o governo não dá importância", destaca Viviane. Já para Caroline, os educadores lutam para melhorar a carreira que ela também escolheu. "Os alunos mais velhos têm sentimento mais aflorado pela universidade e, por isso, entendem a greve. Acho que os mais revoltados são os ingressantes de maio, que não tiveram nem uma semana de aula", observa.

Com a mesma visão, integrantes do Comando Local de Greve dos Estudantes da UFABC destacam que o aluno tem meios para driblar a ociosidade durante o período. Além de sala de estudos e de informática, há possibilidade de participar de festas temáticas, aulas públicas no pátio com temas gerais, projeto de cineclube e das manifestações promovidas em apoio a técnicos e educadores. "Ainda assim muita gente que não é daqui voltou para casa neste período", destaca Gabriel Camaro, 20 anos, estudante do 2º ano do BC&T (Bacharelado em Ciência e Tecnologia).

Quem aproveita a paralisação para dar prosseguimento ao projeto desempenhado é a jovem Mariana Pereira da Silva, 19, aluna do 2º ano do BC&H (Bacharelado em Ciências e Humanidades) da UFABC. Ela previa se formar em 2015, no entanto, a conclusão do estudo para poder optar por seguir na carreira acadêmica ou no mercado de trabalho é incerta.

Sindicatos trabalham para avançar nas negociações

A Fasubra (Federação de Sindicatos dos Trabalhadores em Universidades Brasileiras) se reúne hoje com o governo para outra reunião, onde rejeitará proposta apresentada na segunda-feira. Foi oferecido aos servidores reajuste salarial de 5% em três anos, mas a reivindicação é por aumento de 22,08%.EM
Já o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) trabalha na tentativa de conseguir reabrir negociações.

O Ministério da Educação informou, na sexta-feira, que encerrou conversa com os sindicatos que representam os docentes e que enviará projeto de lei ao Congresso tendo como base a última proposta apresentada aos grevistas, com oferta de aumento entre 25% e 40% até 2015 e plano de carreira com 13 níveis. No entanto, o acordo foi assinado apenas com um sindicato, o Proifes (Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior) - representante de sete instituições de ensino.

Segundo o Andes, 57 assembleias nas universidades federais já deliberaram pela continuidade da paralisação. A categoria considera que a proposta do governo não atende a principal reivindicação: reestruturação da carreira.




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