Esportes Titulo Briga
Violência mancha
o desfecho do
Brasileirão de 2013

Torcedores de Atlético-PR e Vasco entram em
confronto na Arena Joinville e ofuscam futebol

Por Rafael Mendonça
Do Diário do Grande ABC
09/12/2013 | 07:00
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Heuler Andrey/AE


Era para ser apenas a última rodada que definiria o Brasileirão de 2013, com a definição de rebaixados e classificados para a Libertadores. Mas não se resumiu a isso. Briga, sangue e feridos em Joinville, palco da partida entre Atlético-PR e Vasco. Em confusão iniciada aos 17 minutos do primeiro tempo, torcedores das duas equipes barbarizaram e protagonizaram cenas de selvageria nas arquibancadas.

O saldo final: quatro feridos com gravidade e o futebol brasileiro manchado novamente, cada vez mais nas mãos de criminosos trajados de torcedores. No campo, durante a briga, jogadores, técnicos e dirigentes de ambos os lados assistiam incrédulos, em choque e muitos deles chorando por conta da barbárie.

Àquela altura, o futebol já estava em segundo plano. Nem mesmo o risco de o Vasco voltar à Série B em 2014 preocupava, já que o Furacão havia aberto o placar logo no início, com Paulo Baier.

Depois de uma hora e dez minutos de muita discussão entre arbitragem, dirigentes e policiamento, a partida retornou em meio a um clima pesado, cujo desfecho, com a goleada do Atlético-PR, por 5 a 1, apenas ratificou mais um rebaixamento da equipe de São Januário à Segundona.

Na Série B de 2014, além de Ponte Preta e Náutico, o Vasco terá a companhia do Fluminense, que fez história de maneira negativa. Pela primeira vez em todas as edições dos Brasileiros, o campeão é rebaixado no ano seguinte à conquista.

Para as equipes paulistas, a edição 2013 foi trágica. O melhor do Estado foi o Santos, que ficou em sétimo, com 57 pontos. Com 50 pontos cada, o São Paulo ficou em nono e o Corinthians em décimo. Portuguesa foi a 12ª, com 48, enquanto a Ponte Preta caiu, na vice-lanterna, com 37.

A última vez em que a Copa Libertadores ficou sem um dos quatro grandes paulistas foi em 2002, ano em que o São Caetano representou muito bem o Estado com o vice-campeonato. E caso a Macaca não conquiste a Copa Sul-Americana na quarta-feira, esta estatística aumentará. Desde 1998, pelo menos um time de São Paulo marcou presença na competição continental.

Por outro lado, os dois times de Minas Gerais têm motivos de sobra para comemorar. Para o Cruzeiro, o título antecipado em quatro rodadas consagrou elenco recheado de atletas que eram incógnita no início do Brasileirão.

Para o Atlético-MG, o oitavo lugar com 57 pontos, foi digno para uma equipe que conquistou a Copa Libertadores e se prepara para a disputa do Mundial de Clubes.

No Sul, o desempenho foi regular. Enquanto Grêmio e Atlético-PR estarão na Libertadores, Internacional, Criciúma e Coritiba confirmaram a permanência na elite nacional apenas na última rodada.

No Nordeste, o Náutico foi o lanterna, o Bahia terminou em 14º e o Vitória, que vislumbrava uma vaga no torneio continental, ficou só com a quinta colocação.


Torneio é marcado por brigas e punições

O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) teve bastante trabalho durante o Campeonato Brasileiro de 2013. Mas não foi em vão. Por mais que as punições tenham gerado algum tipo de contestação por conta da intensidade ou da brandura das penas, elas foram necessárias.

Algumas delas foram originadas pelo arremesso de objetos no campo, entretanto, boa parte veio em decorrência de briga entre torcedores dentro dos estádios.

Vasco e Corinthians perderam quatro mandos de jogo cada durante a competição pela confusão entre as torcidas ocorrida no Mané Garrincha, em Brasília, na 16ª rodada.

Durante o clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro, no Estádio Independência, na 28ª rodada, torcedores também entraram em conflito e os clubes receberam punições.

Na mesma data, o São Paulo foi outro que também perdeu mandos por confusão de seus torcedores dentro do estádio. No intervalo do clássico contra o Corinthians, os tricolores se confrontaram com a polícia.

Ontem, Atlético-PR e Vasco jogaram na Arena Joinville justamente devido à punição por briga entre duas facções uniformizadas do Furacão no clássico contra o Coritiba, no Estádio Durival de Britto.

Como mandante da partida contra os cariocas, o time paranaense optou pela contratação de 100 seguranças de uma empresa privada para atuar no interior da Arena Joinville durante a partida. Enquanto isso, policiais militares atuavam apenas no lado de fora do estádio.

Flávio Zveiter, presidente do STJD, confirmou que o órgão abrirá um processo para investigar os acontecimentos de ontem e que os clubes deverão ser punidos.

Nesta edição do Brasileirão, torcedores de pelo menos 17 dos 20 clubes se envolveram em algum tipo de confusão dentro ou fora dos estádios.

REPERCUSSÃO

A violência na partida de Joinville ganhou grande repercussão internacional. A capa do jornal espanhol 'Marca' de hoje estampa o título “barbárie”, enquanto que o português 'Record' se referiu ao incidente como “cenário de guerra”. Já o 'A Bola' noticiou o fato como “violenta batalha”.

Sites de países como Inglaterra, Espanha, Itália, França, Alemanha e Holanda também dedicaram grandes espaços para os acontecimentos durante o dia. De alguma maneira, todos os veículos levantaram a questão da segurança do País que sediará a Copa do Mundo em 2014


Vasco é rebaixado em jogo tumultuado
Equipe precisava da vitória para se safar, mas acabou goleada pelo Atlético-PR, que vai à Libertadores

Não foi na última rodada que o Vasco foi rebaixado. Na verdade, o time carioca poderia ter escapado da degola caso vencesse o Atlético-PR ontem, na Arena Joinville. Porém, uma série de fatores de dentro e fora de campo culminou na segunda queda do clube carioca à Série B.

A equipe cruz-maltina, que disputou a Segundona em 2009, teve três treinadores neste Brasileirão. Primeiro foi Paulo Autuori, que demitiu-se após a sexta rodada, na derrota por 5 a 3 para o Inter. Na época, alegou estar incomodado com o atraso de salários e os problemas de estrutura.

Depois, com Dorival Júnior, a zona do rebaixamento passou a ser frequente na vida do clube e o treinador foi demitido na 31ª rodada. Por fim, Adilson Batista assumiu o comando e não conseguiu reverter a situação.
Ontem, o duelo contra o Furacão não poderia ter iniciado de maneira pior. Primeiro, logo aos quatro minutos, Paulo Baier aumentou o drama vascaíno ao abrir o placar em cobrança de falta.

Depois, aos 17, o jogo foi paralisado devido à briga entre torcedores dos dois times nas arquibancadas. Em um primeiro momento, após uma hora e dez minutos de partida parada, o Vasco parecia não ter se abalado com toda aquela situação, já que aos 40 minutos da etapa inicial, chegou ao empate com Edmílson.

Porém, antes do encerramento do primeiro tempo, o artilheiro Éderson recolocou o time paranaense à frente: 2 a 1.
A esta altura, por conta da paralisação, todos os jogos da 38ª rodada já haviam se encerrado e os times já tinham conhecimento dos resultados e do que era preciso ser feito para alcançarem seus objetivos.

Para o Atlético, a vitória confirmaria vaga na Copa Libertadores de 2014. Já para o Vasco, como o Criciúma perdera por 3 a 0 para o Botafogo, o triunfo livraria o time da degola e rebaixaria os catarinenses.

Mas o sonho do time da Colina começou a ruir aos 18 da etapa final, com o gol de Marcelo. Aos 36, Éderson voltou a marcar, ampliando a vantagem. Quatro minutos depois, o artilheiro (21 no total) fez mais um e fechou caixão vascaíno e a goleada em 5 a 1, resultado que garantiu o Furacão na Libertadores.

“Lamento esta situação e o que aconteceu hoje (ontem), que foge a qualquer condição normal de uma partida de futebol, e dizer que já estamos trabalhando para apresentar um Vasco para voltar à Primeira Divisão o mais rápido possível”, disse o presidente Roberto Dinamite.


Feridos não têm risco de morrer

Os quatro torcedores que ficaram feridos na briga generalizada que ocorreu na arquibancada da Arena Joinville foram atendidos no Hospital São José. Eles foram identificados como Estevão Viana, 24 anos; William Batista, 19 anos; Gabriel Ferreira Vitael, 29 anos; e Diogo Cordeiro da Costa Ferreira, 29 anos. Estevão e William são paranaenses, enquanto que Gabriel e Diogo são cariocas.

De acordo com o assessor de imprensa da unidade, Guilherme Duarte, os pacientes Estevão, Willian, e Gabriel inspiram mais cuidados, e passaram por exames clínicos e neurológicos. Segundo a direção do Hospital São José, Willian Batista é o que está em pior estado e passou por uma tomografia para ter uma avaliação mais minuciosa. Ele apresenta traumatismo craniano encefálico. Mesmo assim, todos os feridos deveriam ser liberados ainda na noite de ontem.

A partida estava no 17º minuto do primeiro tempo quando torcedores entraram em conflito, sem a presença de policiais para separá-los.

Do campo, os jogadores até tentaram pedir para que os torcedores parassem de brigar, mas não adiantou. Depois de chegar ao local, a polícia teve muito trabalho para conter a violência. Um helicóptero pousou no campo para socorrer duas vítimas.

O torcedor que apareceu na briga empunhando uma barra de ferro com prego na ponta foi preso pela Polícia Militar. Além dele, mais dois vascaínos e três atleticanos ficaram detidos.

Os policiais identificaram o vascaíno através das imagens feitas pela imprensa. No momento da prisão ele estava escondido no banheiro do ônibus da torcida.

Em nota, o Bom-Senso FC, grupo formado por jogadores, cobrou ações imediatas e firmes contra a violência depois do que ocorreu no jogo em Santa Catarina.




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