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Um dia de D. Pedro

Há muito tenho dito não haver dúvidas ser o 7 de setembro uma das datas comemorativas mais bacanas de nosso calendário histórico

Por Carlos Ferrari
07/09/2011 | 00:00
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Há muito tenho dito não haver dúvidas ser o 7 de setembro uma das datas comemorativas mais bacanas de nosso calendário histórico. Primeiro por ser de fato o dia que marca em nossa memória cultural, em nossos arquivos e documentos oficiais, nos livros e na boca do povo, a conquista da Independência pelo Brasil. Segundo, por trazer uma série de controvérsias, dúvidas, e uma sede de saber histórico, fazendo com que muitas pessoas contestem o já posto, e se reencontrem com a memória de nossa Pátria mãe.

Não vou aqui entrar em qualquer das polêmicas ligadas ao tema, mesmo porque tem muita gente boa já fazendo isso por aí, vale a pena por exemplo ler 1822, de Laurentino Gomes.

Meu objetivo hoje é fazer um convite: que tal experimentar viver um dia como D. Pedro? Tranquilize-se quanto à indumentária, não será necessário comprar fantasias, muito menos repaginar o visual. Também não estou lhe convidando para viver um dia de Imperador! Logo, esqueça os compromissos com os ritos e formalidades, até porque se sabe que essa não era muito lá a cara de nosso primeiro rei.

Meu convite então nada mais é do que viver um dia de grito pela liberdade, pela independência, com uma pequena diferença: agora o território em questão será nada mais e ninguém menos que você. Assustou? Não creio que seja o caso, todos podemos nos preparar para tal, definir que é chegada a hora de dizer ‘não', gritar ‘independência ou morte', para o domínio de velhas ideias, vícios, relacionamentos. Acredito que independência neste caso signifique a morte de muitas ‘verdades e compromissos confortáveis', em nome do nascimento de decisões bem mais desafiadoras, porém infinitamente mais alinhadas com um verdadeiro projeto de vida.

Recentemente estive com um amigo que declarou independência do cigarro. Ouvi atentamente ele contando as suas estratégias pensadas para romper com o cilindro de papel, que em seu caso não se tratava de um hábito agradável, passível de dispensa no momento em que lhe fosse conveniente. Ele tinha claro que estava ‘colonizado' pela nicotina, e só uma atitude revolucionária o levaria a se livrar desse inimigo, que a cada dia botava sua vida mais em risco.

Mas como já foi dito neste texto, não só os vícios podem ser vencidos por um grito ávido de liberdade. Você também pode declarar independência de velhos preconceitos, de um casamento desgastado, ou mesmo daquele carro velho que insiste em dar manutenção, e sabe-se lá por que, algum dia você se convenceu que tinha uma relação de afeto com aquele amontoado de lata, peças e parafusos. Como dizem os cariocas, "vamos combinar" que tem muita coisa melhor para que possamos dedicar nosso carinho e nossas paixões.

Pessoalmente decretei já faz algum tempo o meu feriado pessoal, no dia em que declarei independência, ‘das verdades'. Isso não significa que a partir dessa data eu passei a abrir mão de minhas certezas/convicções. O que passou foi que, desde aquele momento, percebi que melhor do que lutar por minhas verdades, é respeitar e confrontar opiniões. Aprendi com Rubem Alves que "todas as palavras tomadas literalmente são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras". Provocador como sempre, ele ainda afirma: "Cuidado com a sedução da clareza, cuidado com o engano do óbvio!"




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