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A volta do poderoso chefão

Ele jamais quis algo além de ser dono e senhor de seu Estado, o Maranhão, de escrever seus romances e de ocupar vitaliciamente um mandato parlamentar.

Por Carlos Brickmann
01/02/2009 | 00:00
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Ele jamais quis algo além de ser dono e senhor de seu Estado, o Maranhão, de escrever seus romances e de ocupar vitaliciamente um mandato parlamentar. Chegou mais longe, muito longe: foi vice-presidente da República, presidente da República, presidente do Senado, integrantes da Academia Brasileira de Letras, ganhou até uma parcela de outro Estado, o Amapá. Seu filho foi ministro, sua filha senadora, seu outro filho controla o império de comunicações da família.

 Um homem realizado, pois. Por tudo isso, poderia, aos quase 79 anos, ser poupado da triste missão de trazer de volta ao primeiro time da política seu amigo Renan Calheiros - lembre! É aquele do Collor, aquele da Mônica Velloso.

 A eleição para a presidência da Câmara define aquele que, nas ausências do presidente Lula, e devido aos problemas de saúde corajosamente enfrentados pelo vice-presidente José Alencar, ocupará a chefia do Executivo. A eleição para a presidência do Senado, esta a que Sarney concorre, tem importância bem menor: define o poder de cada grupo na disputa de cargos do governo, na ocupação das tetas públicas. Define se Renan Calheiros - já eleito líder da maior bancada do Senado, a do PMDB - retoma toda a sua influência na administração federal. Define se a palavra empenhada tem alguma importância - já que Sarney, antes de aceitar a candidatura, negou cinco vezes que pretendesse aceitá-la. Está certo, ninguém acredita muito em palavra de político, mas não precisava exagerar.

 Tudo isso para manter o império e o poder nas mãos da família e dos amigos!

DURO DE SEGURAR

As duas eleições, do Senado e da Câmara, se realizam amanhã. Michel Temer e José Sarney, ambos do PMDB, são os favoritos - mas quem puser sua mão no fogo pela vitória de ambos se arrisca a carregar, pelo resto da vida, o apelido de Capitão Gancho. No Senado, o petista Tião Viana pode chegar lá. Na Câmara, ou Michel Temer ganha no primeiro turno ou corre o risco de perder no segundo, com todos os adversários se unindo contra ele. Os compromissos publicamente assumidos não valem muito, já que o voto é secreto. E, para lembrar Tancredo Neves, "esse negócio de voto secreto dá uma vontade danada de trair!"

 RELÓGIO PARADO

Reza o antigo provérbio que até relógio parado marca a hora certa duas vezes por dia. Pois não é que, desta vez, Guido Mantega acertou? Revogou rápido aquilo que o jornal Valor Econômico chamou de "barbeiragem" - a exigência de licença prévia para as importações. As licenças paralisariam o País: praticamente todos os produtos, para consumo interno ou exportação, mesmo made in Brasil, têm sua parcela de componentes importados. E não é só isso: há encomendas já feitas, já embarcadas. Quando chegassem ao porto, até que saísse a licença o importador teria de arcar com as despesas de armazenagem. Mantega mudou tudo.

 A LEI, ORA A LEI

O presidente Lula baixou a Medida Provisória 454, em 28 de janeiro, para transferir ao Estado de Roraima terras pertencentes à União. Nada contra. Mas onde foram parar os requisitos de relevância e urgência, exigidos pela Constituição para que o Poder Executivo possa baixar medidas provisórias?

 A FALSA BOA IDEIA

O governo paulista acaba de anunciar um novo sistema para conter a violência nas escolas estaduais: é uma linha direta do diretor da escola com a Secretaria da Segurança. Em caso de ameaça de violência, por alunos, por quadrilhas, por arruaceiros, o diretor se comunica com a Polícia e recebe reforço imediato. E por que é uma falsa boa ideia? Porque, como só o diretor da escola pode pedir ajuda, ele passa a ser automaticamente o alvo das represálias dos bandidos. Passado o problema, quem vai garantir a segurança do diretor e de sua família?

NOSSA HISTÓRIA...

O Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul conseguiu, com o governo uruguaio, os documentos sobre a vida no exílio e a morte do ex-presidente João Goulart, deposto pelos militares em 1964. Os documentos mostram que o governo uruguaio seguiu permanentemente os passos de Goulart, atribuindo-lhe ligações com oposicionistas latino-americanos - alguns dos quais mortos pela Operação Condor.

...ESCONDIDA

Os documentos da SID, Servicio de Información y Defensa do Uruguai, foram entregues à imprensa brasileira pelo neto de Goulart, Christopher, e pelo militante de direitos humanos Jair Krischke. Ambos já pediram ao governo brasileiro que solicite aos americanos os documentos de que dispõem sobre João Goulart, hoje livres de sigilo. O governo brasileiro até agora nada respondeu.




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