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O passado condena

Vejamos a coisa pelo lado positivo: pelo menos, de agora em diante, as sessões do Senado serão movimentadas, animadas

Por Carlos Brickmann
05/08/2009 | 00:00
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Vejamos a coisa pelo lado positivo: pelo menos, de agora em diante, as sessões do Senado serão movimentadas, animadas, e com tanta baixaria que não vão mais dar sono. E é divertido lembrar, também, que os cinco personagens principais do tiroteio - o presidente Lula, o senador Renan Calheiros, o senador Pedro Simon, o senador Fernando Collor, o presidente do Senado, José Sarney - foram alternadamente amigos e inimigos ao longo dos anos.
Não, não lhes faça a injustiça de presumir que, diante de diferentes cenários políticos, tomaram posições diferentes (como a do inglês Winston Churchill, anticomunista convicto, que se aliou aos comunistas soviéticos para enfrentar o inimigo maior, o nazismo): as posições, aqui no Brasil, só variam por interesses pessoais.
Quando Sarney era presidente, Pedro Simon foi seu ministro da Agricultura e todos os outros eram oposicionistas radicais. Lula chamou Sarney de ladrão. Collor insultou até seus ministros (incluindo o chefe do SNI, a quem se referiu como "generaleco") e acusou Lula de querer abortar a filha.
Renan, principal aliado de Collor, não conseguiu seu apoio para se candidatar ao governo de Alagoas e rompeu com ele. Mais tarde, apoiou-o, facilitando sua volta ao Senado.
Finalmente - como o amor é lindo! - todos se reuniram e são hoje amigos de infância. Houve época em que pelo menos Sarney e Lula gostavam de Pedro Simon. Hoje ninguém gosta. Para paladares do Planalto, é chato: honesto demais.

O FUTURO CONDENA
E a situação não deve melhorar. Se Sarney continuar na presidência do Senado, não terá controle sobre a situação: PSDB, DEM e parte do PT dizem claramente que não mais aceitam seu comando. Se deixar a presidência, por qualquer motivo, boa parte do PMDB rejeitará o novo presidente - e acalmar os ânimos custará muito caro. Há uma CPI da Petrobras no forno. A Petrobras e suas fornecedoras têm poder extraordinário, mas o lucro político de uma denúncia bem formulada pode fazer com que uma ala do plenário vá para o enfrentamento. O mais curioso é que políticos conciliadores, como Sarney e Lula, tenham ido à frente de combate sem a possibilidade de esboçar acordo.

E O NOSSO ESTÁ CONDENADO
É claro que falamos de políticos experimentados, hábeis, sujeitos a surtos de amnésia seletiva. Podem esquecer que fizeram ameaças a Simon e a Arthur Virgílio, da mesma forma como os oposicionistas podem perfeitamente deixar a CPI em fogo brando. Mas, se houver acordo, o caro leitor é que vai pagá-lo.

ROTEIRO ENSAIADO
A primeira reunião do Conselho de Ética deve ocorrer hoje à tarde, com transmissão pela TV Senado. O presidente do Conselho, Paulo Duque, do PMDB fluminense, recebe as denúncias contra Sarney, Virgílio e outros, e não se manifesta: pedirá prazo para estudá-las. Daí, na semana que vem, conforme a temperatura política, rejeita todas as denúncias ou apenas as referentes a Sarney (e deixa Arthur Virgílio no fogo), ou aceita algumas, para que o Conselho de Ética possa se reunir algumas vezes, com TV, antes de rejeitá-las.

PETROBRAS EM FOCO
E continua a enxurrada de emoções: amanhã, está marcada a primeira reunião da CPI da Petrobras. O relator é Romero Jucá, líder do governo no Senado (e que, coincidentemente, foi também o líder no governo Fernando Henrique). CPI, como futebol, é uma caixinha de surpresas. Mas com um juiz ligado simultaneamente aos dois times, a coisa flui mais facilmente.

O SACRIFÍCIO DA POLÍTICA
O governador José Serra, quando resolveu se dedicar à política, precisou dizer que gostava de futebol, teve de escolher um time e dizer-se torcedor desde criancinha (contam que, ao tomar um táxi para sua primeira partida, disse ao motorista: "Vamos para o estádio!" E o motorista: "Qual deles?" Serra: "Ué, tem mais de um?") Agora, como candidato à Presidência, passou a gostar de Luiz Gonzaga, de baião e de forró desde menino. E terá de lidar com mais novidades: na segunda, vai à Bahia consolidar aliança entre PSDB e DEM. Justo ele, de conciliador!




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