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O ovo que a galinha ainda vai botar

Era uma vez uma menina que, pela primeira vez, ordenhou sua vaquinha. Andava toda contente, com o balde de leite nas mãos

Por Carlos Brickmann
13/06/2010 | 00:00
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Era uma vez uma menina que, pela primeira vez, ordenhou sua vaquinha. Andava toda contente, com o balde de leite nas mãos, pensando no futuro. Ia vender o leite e, com o dinheiro, comprar uma galinha. A galinha ia botar ovos, ela venderia os ovos e, com o dinheiro, compraria outra vaquinha. A produção de leite ia aumentar, e em pouco tempo ela teria dinheiro para comprar uma casa, uma granja... Mas, lembrando o poeta Drummond, tinha uma pedra no meio do caminho. A menina tropeçou, derramou o leite e se desfez seu sonho de riqueza.
Suas excelências, no Executivo e no Congresso, passaram da idade de ouvir e entender as fábulas. Já dividiram os lucros do petróleo do pré-sal. Há até quem brigue querendo mais. Só que o petróleo não está nem no balde: está no fundo do mar, bem longe, mais fundo do que o mar do Golfo do México; e, quando se chega lá embaixo, há ainda a rocha e uma grossa camada de sal meio derretido, de perfuração altamente complexa, de extração brutalmente cara.
Deve dar tudo certo: a Petrobras é uma empresa competente, de ótima reputação, e o preço do petróleo, neste momento, compensa o custo da extração. Mas, mesmo dando tudo certo, sem qualquer imprevisto, é coisa para o futuro, para daqui a alguns anos. Talvez até lá já exista um carro elétrico viável; talvez até lá já se domine a fusão do hidrogênio a frio. O petróleo continuará sendo útil e necessário, mas seu preço compensará? Nas boas granjas, recomenda-se que os ovos sejam colhidos só depois de botados. Ninguém cocorica antes da hora.

A MARCA QUE MARCA
A melhor história de nomes destas eleições aconteceu com a vodca Roskoff, produzida pela Cereser (aquela mesmo, a da sidra). Roskoff era a marca de um relógio redondo, de qualidade discutível, que foi muito vendido no interior paulista (e até hoje, em certas áreas, o nome funciona como sinônimo de uma parte do corpo não mencionável perto de senhoras distintas e crianças). Tão logo o jornalista Cláudio Tognolli, no http://twitter.com/claudiotognolli, apelidou a candidata de Dilma Roskoff, a marca da vodca foi mudada: agora é Kadov.

TUDO EXPLICADO
Agora dá para saber por que, em oito anos de Governo, o presidente Lula não confiou a Aloizio Mercadante nenhum cargo em sua área, a Economia: é que Mercadante gosta de chateá-lo. Por exemplo, o senador (e candidato ao governo paulista pelo PT) dá hoje um livro ao presidente. A obra é Brasil: a Construção Retomada - análise do Governo Lula. Mercadante anteriormente já tinha chateado Lula, ao pedir-lhe que escrevesse o prefácio do livro. Outro professor de Economia que jamais recebeu um cargo de Lula foi o senador Eduardo Suplicy. Deve, sem dúvida, ter dado ao presidente seu livro sobre Renda Mínima.

DILMA QUEM?
O PDT enviou informação à imprensa sobre a convenção que apoiaria a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Na nota, a candidata é tratada por três nomes diferentes: Dilma Roseff, Dilma Roussef e até mesmo pela versão correta, Dilma Rousseff. Ufa! Ou seria "Uffa"? Ah, sim: por favor, não desmintam. O e-mail original está guardadinho.

PESOS E MEDIDAS
A Justiça Eleitoral do Tocantins decidiu abrir processo contra o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Atlético Mineiro, por "inscrição fraudulenta de eleitor". Luxemburgo pretendia candidatar-se ao Senado por Tocantins, mas não conseguiu "comprovar residência na cidade por pelo menos três meses, como determina a lei". Tudo bem: na época em que fez o pedido, Luxemburgo morava em São Paulo e hoje mora em Belo Horizonte. Mas José Sarney, que se elegeu pelo Amapá, também não chega a ser um assíduo frequentador do Estado. Até as areias da praia de Curupu sabem que ele vive entre Maranhão e Brasília. Ciro Gomes tem domicílio eleitoral em São Paulo, onde não mora: ou está em Brasília ou no Ceará. Por que Vanderlei Luxemburgo não pode o que outros podem?

FALA QUE TE ESCUTAM
Nível da campanha: um jornalista ligou para um amigo, que trabalha para um candidato à Presidência, para bater papo. A folhas tantas, o homem da campanha perguntou ao amigo: "Você está gravando?" Não, não estava. Era tudo conversa fiada. Mas o campanheiro disse que ele, sim, estava gravando o amigo.

RESTOS DA DITADURA
A propósito, o domicílio eleitoral foi inventado pela ditadura, para impedir a candidatura do marechal Lott ao governo do Rio de Janeiro. Por algum motivo, o entulho autoritário sobreviveu. Antes disso, o Estado sempre se orgulhou de buscar políticos notáveis em outras federações e elegê-los, como o mineiro Affonso Arinos e o baiano Nelson Carneiro (ambos, diga-se, retribuíram com conduta exemplar a acolhida que tiveram). Qual é o problema, se são todos brasileiros?

LULA CÁ
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, deve vir ao Brasil dia 29, para encontro com o presidente Lula. Verá também uma das mais novas cidadãs italianas: a primeira-dama Mariza Letícia, que obteve dupla nacionalidade.




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