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Serra polariza confronto na Assembleia
Por Wilson Marini
Da APJ
02/05/2010 | 07:16
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Da Agência Brasil


Na Assembleia Legislativa de São Paulo, os líderes de bancada tradicionalmente estão entre os deputados mais procurados e influentes de seus respectivos partidos.

Em entrevista, os líderes do PSDB, Celso Giglio, e do PT, Antonio Mentor, expressam a temperatura do momento no Parlamento paulista em relação à campanha eleitoral.

Interessante que o nome da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, não foi mencionado uma única vez. Ao mesmo tempo, o nome do pré-candidato tucano, José Serra, foi mencionado por ambos, nas situações opostas de elogio e crítica. O que revela que o PSDB vai explorar o prestígio do ex-governador e o PT vai bater em seus pontos vulneráveis e tentar amplificar pontos negativos. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

Qual é a prioridade do PSDB este ano?
Celso Giglio
: Eleger o Presidente da República, senadores, governadores e bancadas federal e estadual. Serra é homem muito preparado para ser Presidente do Brasil, é o mais preparado, repetindo as palavras do Fernando Henrique. Estamos num ano político e a bancada também se preocupa com as eleições dos deputados estaduais. Importante frisar que não haverá interrupção dos trabalhos na Assembleia em função das campanhas. Lógico que é um ano difícil, mas os trabalhos vão continuar correndo normalmente.

Como a bancada se organiza em relação à campanha?
A bancada é composta por integrantes de todo o Estado. Cada um em suas bases vai fazer o melhor de si para eleger nossos candidatos.

O que muda neste ano em relação às campanhas anteriores?
O eleitorado é mais exigente, ele quer saber o que o deputado fez. Se é candidato pela primeira vez, quer saber de onde ele vem, qual é a sua experiência, o que tem para mostrar e o que pretende fazer. Mudou um pouco a forma de fazer campanha. Temos agora meios eletrônicos que vão ser bastante usados, além da campanha habitual.

E como será a campanha no Interior?
Cada região tem um jeito de fazer campanha. Nas grandes, se faz de uma forma, nas pequenas de outra, nas cidades médias de outra. A mídia eletrônica vai funcionar pela primeira vez. Embora nas eleições anteriores muitas pessoas já usassem os meios eletrônicos, a preocupação em usar essa ferramenta acontece com mais intensidade agora, sobretudo nas grandes cidades, mais do que nos outros lugares. Embora no Interior todo mundo já utilize a internet. Mas nas cidades menores ainda existe o boca-a-boca, o corpo-a-corpo, que ainda são importantes.

E os comícios?
Perderam a sua validade. É muito difícil levar pessoas a um comício. Antigamente, os shows atraíam muita gente, agora estão proibidos. Os comícios geralmente são feitos às oito ou nove horas da noite, horário da novela, e as pessoas acabam não indo. O comício ficou obsoleto, tanto no Interior quanto na Capital. No Interior menos, mas nas grandes cidades sim.

Onde o PSDB está melhor?
No Interior, o PSDB está muito bem e na Capital também desta vez. Os candidatos Alckmin e Serra saem com muita vantagem nas pesquisas; acho que o partido está bem de forma uniforme nas regiões metropolitanas e no Interior.

Quais os pontos fortes de Serra?
O ponto mais alto é o currículo que ele apresenta, a sua história. O homem já foi deputado, governador, prefeito de São Paulo e ministro mais de uma vez, demonstrou em todos os cargos que ocupou muita experiência, vivacidade, audácia, inovação. Como economista, soube aumentar as receitas sem aumentar tributos e impostos à população. Através de meios modernos usa corretamente esses recursos de forma transparente e a máquina acaba sendo mais econômica e produz mais. Tem se desempenhado junto à máquina administrativa. A meritocracia está sendo aos poucos instalada junto aos quadros administrativos do Estado. Isso é correto, premiar aquele que é bom, para que a carreira seja algo agradável e valorize o que se esforça. Para acabar com a velha história de "eu sou funcionário público, estou parado e acabou" isso é ruim, sobretudo para os funcionários que acabam se nivelando e perdem o estímulo.

E os pontos fracos?
Não vejo ponto fraco, nenhum. Serra vai bem, está muito simpático, solto, faz as suas críticas em alto estilo.

A temperatura pode subir na Assembleia?
Não acredito. Esta é uma casa de discussões. Você quer mais efervescente do que tem sido? Os partidos podem mudar alguma coisa durante a campanha, inclusive em relação à base aliada, mas esta é uma casa de debates, e temos mantido um bom nível de discussão.

O que o sr. tem a dizer sobre as críticas à segurança pública?
A segurança é uma área que preocupa a todos nós, brasileiros. Temos visto coisas terríveis em muitos Estados onde a Justiça funciona muito pior que aqui e os crimes têm ocorrido com mais intensidade. Aqui em São Paulo foi feito tudo o que se podia fazer nesse campo. A construção de presídios se deu com dificuldade muito grande de locais para instalar esses presídios porque os prefeitos não querem em suas cidades. Criaram este medo nos prefeitos. Aumentou o número de vagas nos presídios, mas poderia ter aumentando mais se não tivéssemos essas dificuldades. As polícias civil e militar estão muito melhor equipadas hoje, as coisas estão acontecendo. Não vamos conseguir de uma hora para outra resolver a questão da segurança. Temos picos em que a criminalidade cai, em outros sobe, mas se computar uma década ou pouco menos, esses índices diminuíram.

São Paulo está preparado para as enchentes?
Felizmente aqui no Estado não foi aquilo que aconteceu no Rio, onde a população estava muito menos preparada e a própria geografia do Rio fez com que as coisas se tornassem pior lá. Aqui há muita coisa a ser feita. Mas esses desastres ecológicos acontecem no mundo todo também. Tem que melhorar, encontrar mais saídas, construir mais piscinões, fazer drenagem, despoluir córregos, a população tem que estar educada para ajudar nessa ação.

***

Qual é a prioridade do PT este ano?
Antonio Mentor
: Do ponto de vista do processo legislativo, nós vamos insistir na democratização do orçamento, da participação do Interior na elaboração e na discussão do orçamento do Estado. Uma série de audiências públicas começou a se realizar há três anos e de lá para cá estamos fortalecendo esse procedimento de participação popular na elaboração do orçamento. Fazer isso de uma maneira institucionalizada, com a efetivação das propostas que vierem dessas audiências como emendas à peça orçamentária. Em segundo lugar, buscar mecanismos que possam dar condições para fiscalização dos atos do governo do Estado. Isso hoje não dispomos. E temos uma expectativa muito positiva em relação às eleições para Presidente da República e governo de São Paulo e pretendemos construir uma grande bancada aqui na Assembleia Legislativa.

Por que?
Porque o regimento interno da Casa exige para a apresentação de registro de CPI requerimento com mínimo de um terço das assinaturas dos deputados, num total de 32, e só temos 23 deputados que se dispõem a cumprir essa tarefa do Parlamento que é investigar. Temos um rol de temas e de denúncias que deveriam ser objeto de investigação da parte do Legislativo paulista.

Por exemplo?
Há cerca de 600 processos que receberam parecer negativo do Tribunal de Contas do Estado só relativos à CDHU. Nenhum deles foi investigado. Temos informações a respeito de obras e serviços contratados pelo Estado com valores superfaturados e qualidade rebaixada, haja vista o que aconteceu nas obras do Rodoanel. Na região de Campinas, um trecho do corredor metropolitano afundou antes da inauguração. O telhado de uma Fatec em Americana desabou 3 meses depois da inauguração. Obras caríssimas e até antigas, do governo Alckmin, como o rebaixamento da calha do Tietê, obra bilionária, e que resolveria em tese o problema das enchentes na marginal do Tietê. Não suportou a primeira chuva. Inaugurada no final do ano e com as chuvas de dezembro e janeiro, as inundações voltaram à marginal.

O único instrumento de fiscalização é uma CPI?
Tem outros instrumentos. Pode-se fazer requerimento com pedidos de informação, mas o governo não responde.

O governo não é obrigado a responder?
Sim, constitucionalmente. Mas fazer uma representação ao Ministério Público sobre uma questão como essa, não gera efeito. Pode ser feita uma diligência na Assembleia para pedir documentos e fazer a investigação, mas qualquer comissão é formada por nove integrantes e na correlação de forças, somos dois ou três. Estamos castrados.

O que fazer, então?
Temos utilizado meios de divulgação como no caso do desabamento das vigas do Rodoanel. Fizemos visita ao local, a imprensa cobriu com atenção, fizemos representação ao MP, aliás esta representação vai ter efeito com certeza absoluta, pois está bem sustentada. O governador Serra em seu discurso de despedida disse que o seu governo não era um governo de escândalos. Isso é verdade, mas é um governo escandaloso, que não se transforma num escândalo porque não há meios para investigar, para levar adiante. Do ponto de vista da probidade e da eficiência, obras caríssimas de qualidade baixíssima.

A condição minoritária da oposição se deve mais ao mérito do PSDB ou à falha do PT?
Os partidos que apoiaram Serra se submeteram ao poder de sedução que o governo tem em relação a outras bancadas. O PSB, PDT e o PMDB deveriam estar onde? Não fizemos parte dessa aliança que elegeu Serra, optamos por uma posição equidistante.

Onde o PT está melhor eleitoralmente no Estado?
O PT sempre obteve melhores resultados nas cidades maiores, região metropolitana de São Paulo, Santos, São José dos Campos, Sorocaba, Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, os pólos urbanos mais densos. Neste último período, fizemos um trabalho capilar nas pequenas e médias cidades, nós vamos trabalhar nelas. Tanto as bancadas federal e estadual como os dois senadores já sabíamos das dificuldades que tínhamos nas pequenas cidades, mas nunca tínhamos tido uma estratégia para atacar esse problema como fizemos neste último período. Nos quatro últimos anos, agimos fortemente em relação aos pequenos e médios municípios. E o governo do presidente Lula nos deu um impulso muito grande nessa relação com os pequenos e médios municípios. Atendeu a todo mundo, agiu de maneira republicana com todos os prefeitos. Se fizermos uma comparação de verbas aos municípios do período Lula com o de FHC, na grande maioria dos municípios a relação é cinco 5 por 1.

E os atrasos das obras do PAC?
Os prefeitos sabem exatamente quais são as razões que elas atrasam. A Caixa tem sido extremamente rigorosa com os projetos, com a liberação dos recursos. Os prefeitos sabem que vão receber os recursos, que vão ter a obra, ou que está em andamento, que os projetos estão aprovados. Porque com o PT dá para ter essa segurança. São quase oito anos de relacionamento com o governo federal. Demorou? Demorou. Foi complicado? Foi, mas resolveu. Não é aquele promessismo, na hora de pegar o cheque para pagar a obra não vai ter, bloqueado recurso, etc, isso não tem acontecido na relação dos prefeitos com o PT.




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