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Atriz de S.Bernardo faz 'A Hora da Estrela' em SP
Por Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
10/02/2002 | 15:40
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“Macabéa tem a sutileza da poesia”, afirma a atriz Célia Borges, de São Bernardo. Com passagem pela ELT (Escola Livre de Teatro), de Santo André, Célia interpreta Macabéa, personagem principal da peça A Hora da Estrela, adaptada e dirigida por Naum Alves de Souza para o livro homônimo de Clarice Lispector. A estréia está prevista para o dia 27 deste mês no Teatro Imprensa, em São Paulo.

Cintia Abravanel, filha do apresentador e empresário Silvio Santos, assina a produção da montagem, orçada em R$ 1,4 milhão (incluído o plano de mídia para uma temporada de doze meses). A cenografia também é de Naum, um dos nomes mais importantes das artes cênicas brasileiras – é dele a concepção de O Grande Circo Místico, espetáculo baseado na poesia de Jorge de Lima que o Balé Teatro Guaíra dançou sob a música de Edu Lobo e Chico Buarque.

A atriz chegou ao papel principal de A Hora da Estrela por meio de testes. Cida Almeida, da Cia. Os Impossíveis, da qual Célia é uma das integrantes, avisou-a sobre as audições. Foram quatro baterias até surgir o elenco. “Logo que vi a Célia, percebi que ela seria o rosto ideal para Macabéa. Os testes provaram que ela é uma excelente atriz e tem a candura e a simpatia que Macabéa pede”, diz Naum.

O diretor, dramaturgo e cenógrafo queria atores com experiência de palco, mas sem a projeção da TV. “É fundamental a presença de atores desconhecidos do grande público. São personagens anônimos. Macabéa é uma das milhares de nordestinas que vêm para o Sudeste. Se colocasse em cena um ator global, haveria uma identificação imediata com a última novela”, afirma.

Personagem – “Macabéa é pura, não tem malícia nem ambição. Veste-se mal, não se preocupa se amanhã não terá o que comer. Mas não é idiota”, diz Célia. Trata-se de personagem intrigante. O narrador do livro, que Clarice chamou de Rodrigo S.M., refere-se a Macabéa desta forma: “A única coisa que queria era viver. Não sabia para quê, não se indagava”.

De início, Célia resistiu a uma aproximação com Macabéa, descrita na obra como uma nordestina feia e miserável. É um perfil no qual a atriz não se encaixa. “Preveni a Célia de que iriam chamar a Macabéa de feia e raquítica o tempo todo e falei para ela separar o teatro da vida”, afirma Naum. Encarar o desafio da interpretação motivou a atriz: “A proposta do Naum foge da minha formação, que é o teatro de máscaras, o clown, a commedia dell‘arte.” O perigo é cair na caricatura, estereotipar.

Naum define a montagem como uma comédia dramática. Ainda que uma aparente simplicidade caracterize a protagonista. “Há coisas profundas e sofisticadas no pensamento de Macabéa. Um exemplo disso é quando ela fala que vive de pouquinho para não gastar a vida”, afirma Naum.

Cintia é categórica quanto à montagem. “É um espetáculo difícil de ser feito, uma história ao mesmo tempo engraçada, triste e apaixonante. A Macabéa desperta todo tipo de sentimento. Às vezes temos vontade de chacoalhar a personagem para que ela acorde para a vida, às vezes queremos pegá-la no colo”, diz.

Marcélia Cartaxo levou o prêmio de melhor atriz nos Festivais de Berlim e Brasília por sua atuação no longa-metragem homônimo de Suzana Amaral baseado no livro. Para não se influenciar, Célia, de 27 anos, não assistiu ao filme – uma obra-prima, por sinal –, que estreou em 1985. Embora sinta a responsabilidade do papel, Célia rejeita comparações: “Não preciso ser melhor que a Marcélia, nem igual. Somos diferentes”.




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