A rebeldia estudantil de Maio de 1968 nas universidades de Nanterre e Sorbonne, cujas barricadas e choques entre estudantes que protestavam contra a rigidez acadêmica e a política do governo De Gaulle – que caiu um ano depois – contagiaram estudantes e trabalhadores do país e do restante do mundo. Hoje, essa rebeldia está nos protestos contra a globalização, na vontade de quebrar o modo de produção capitalista, esmagar os fascistas, atazanar a social-democracia, assustar liberais ex-stalinistas, escandalizar a classe média consumista.
O nome da coleção da Conrad, sinônimo de desordem, é o apelido assumido pelo grupo de internautas Baderna, que fornece os textos. De acordo com manifestos do grupo, eles adotaram o nome de uma lendária bailarina italiana, Marietta Maria Baderna (1828-1870), que esteve no Brasil em 1851 e agitou o Rio. O grupo usa seu nome para modificar a utilização que vinha sendo feito dele. Segundo o grupo, a palavra tem sido tão usada para definir algumas manifestações que o grupo considera “legais” que eles gostaram dela.
Os textos são um apanhado da subversão em várias formas, e sua bíblia é TAZ, escrito em 1989 por um misterioso Hakim Bey (que alguns acreditam ser o historiador Peter Lamborn Wilson, autor de Utopias Piratas, publicado pela Conrad), de quem ninguém nunca viu uma foto sequer – a revista Time tentou entrevistá-lo, mas ele desapareceu. Seus textos fazem um elo entre a rebeldia sessentista e a ação de subversivos como o grupo Provos (redução de provocadores, grupo chave na formação da contracultura), que fez de Amsterdã , na Holanda, a capital da liberdade em todos os sentidos, e o Critical Art Ensemble, um coletivo de cinco ativistas, que exploram as relações entre arte, teoria crítica, tecnologia e política radical.
Guerrilha Psíquica é dos mais interessantes: a idéia é criar uma situação aberta na qual ninguém em particular é responsável. Ou seja, Luther Blissett, o autor, não existe e pode ser qualquer um, assim como qualquer um pode ser Luther Blissett. Complicado? Alguns proponentes defendem que isto é uma maneira de analisar e botar abaixo as noções ocidentais de identidade, individualidade, valor e verdade.
O movimento, portanto, é multinacional e sem pátria. Das ruas e campus universitários de Paris em 1968 para as manifestações contra o G-8 em Gênova e para o Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Porém, a idéia de movimento antiglobalização causa arrepios no movimento, que não é formal nem estatutário. Sua característica é exatamente não ter vínculos oficiais. Em comum existe um sentimento anárquico de que algo precisa ser feito contra o monocórdio discurso dominante. Um dos nomes mais interessantes desses jovens ativistas é o da escritora canadense Naomi Klein, 32 anos. Seu livro No Logo (sem marca, em inglês), publicado em 2000 nos Estados Unidos e Inglaterra, é uma crítica às marcas e às desigualdades provocadas pela sociedade de consumo.
As formas de manifestação são autônomas, nas ruas em protestos, nas raves (ou carnaval de rua, no qual não existe ordem e todos podem ser livres), na internet. Se estão fadados a serem engolidos pela história oficial ou não dependerá de sua capacidade de articulação para que idéias voltem a ser perigosas e incitem mudanças. “Ideologia, eu quero uma para viver”, já dizia Cazuza nos anos 80.
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