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Covid tira a vida de Tarcísio Meira, 85 anos,
ator que marcou a TV, o teatro e o cinema

Ícone da teledramaturgia estava internado em São Paulo; Glória Menezes, sua companheira havia 59 anos, soube da sua partida no hospital, na luta para superar o coronavírus

Anderson Fattori
Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
13/08/2021 | 00:01
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Divulgação/ Globo


O Brasil perdeu ontem um dos seus principais artistas. Tarcísio Meira, protagonista de mais de 50 novelas, filmes e peças teatrais, morreu, aos 85 anos, vítima da Covid. Ele estava internado e entubado desde o dia 6 de agosto no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, mas não resistiu. No mesmo centro médico, mas em outra ala, está o grande amor da sua vida, a atriz Glória Menezes, 84 anos, internada também em razão do coronavírus. Casados havia 59 anos, eles formaram casal icônico, cuja trajetória artística praticamente coincidiu com a história da televisão brasileira.

O anúncio da morte do primeiro grande galã da teledramaturgia brasileira comoveu quem estava no hospital e em instantes ganhou repercussão nas mídias e redes sociais. Glória Menezes foi informada da morte do companheiro e, de acordo com seu assistente pessoal, Tadeu Lima, que trabalha com ela há 19 anos, “recebeu a informação com muita, muita, muita tristeza”, assim como ele confidenciou ao O Globo.

Com sua morte, o cinema, o teatro e, principalmente, a televisão perdem um de seus atores mais carismáticos, especialmente na representação de papéis viris, fossem galãs ou vilões.

Tarcísio Magalhães Sobrinho nasceu em outubro de 1935, em São Paulo, e pensava em seguir a carreira diplomática. Reprovado no exame, decidiu apostar na atividade que exercia como hobby, o teatro. Começou como amador no Clube Pinheiros, nos anos 1950, quando escolheu o nome artístico que o tornaria nacionalmente conhecido – Meira era um dos sobrenomes de sua mãe.

A estreia profissional aconteceu em 1959 com o espetáculo O Soldado Tanaka, sob a direção de Sérgio Cardoso. Logo chegou à televisão onde, no mesmo ano, começou a participar do Grande Teatro Tupi, programa de teleteatro da extinta emissora. Foi lá que, em 1961, atuou pela primeira vez ao lado de Glória Menezes, na peça Um Pires Camargo. No ano seguinte, eles se casaram, dando início a uma longa parceria na ficção e na vida real.

Formavam casal moderno, capaz de comprovar que era possível envelhecer junto – mesmo rodeado de sucesso. Em setembro de 2020, Tarcísio e Glória foram demitidos da Globo, depois de 53 anos na emissora. Mas, àquela altura, Tarcísio não era mais só um ator. Virou instituição, uma persona no imaginário do público, que olhava para ele e conseguia ver a história do audiovisual, cinema e TV no País. 

Morte de paciente vacinado com duas doses é exceção, dizem médicos

A morte do ator Tarcísio Meira, 85 anos, suscitou dúvidas quanto à eficácia da vacina contra a Covid-19, uma vez que ele já havia tomado as duas doses dos imunizantes. Especialistas entrevistados pelo Diário são unânimes ao afirmar que o seu caso é uma exceção à regra e lembram que nenhuma vacina protege 100% contra qualquer doença, e que mesmo vacinadas, as pessoas devem manter todos os cuidados, como evitar aglomeração, usar máscaras e higienizar as mãos.

Epidemiologista e professora no curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Sonia Regina Pereira de Souza explica que a eficácia da vacina é estabelecida pela quantidade de pessoas que ela protege de ter a doença em um estado grave e de vir a óbito. “Mas não tenho como dizer que ninguém vai ser internado ou que ninguém vai morrer”, argumenta a docente.

Sandra lembra que pessoas idosas têm um sistema imunológico mais comprometido e que isso também vai interferir na resposta dos indivíduos ao imunizante. “Se fizermos uma comparação com acidentes de carro, não dá para garantir quer alguém não vá passar por isso. Mas se dirigir com atenção, seguir as leis de trânsito, usar cinto de segurança, reduz as chances e as sequelas no caso de acontecer”, comparou.

Chefe da infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Alexandre Naime lembra que cerca de 95% das pessoas que ainda estão morrendo em decorrência da infecção pelo coronavírus não haviam se imunizado ou não completaram o esquema vacinal. “Tarcísio Meira é uma exceção à regra.”

Naime afirma que mesmo vacinadas, as pessoas devem manter as medidas sanitárias, como uso de máscara, evitar aglomerações e higienização constante das mãos. “A vacina protege as pessoas, mas não reduz a circulação (do vírus). Mesmo quanto tivermos boa parte da população vacinada, esses cuidados devem ser mantidos”, completou.

Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Nilton Cavalcante explica que ainda não há certezas sobre o tempo de imunidade conferido pelas vacinas, que só deve ser estabelecido futuramente. Além disso, as variantes que têm surgido do vírus representam novos desafios aos imunizantes. “Tudo isso pode acarretar em pacientes que vão ficar doentes, poderão ter que ser internados e até morrer”, relata o especialista.

Cavalcante aponta, ainda, que cada pessoa tem uma resposta diferente às vacinas, e que em todos os lugares do mundo existem casos de vacinados que vieram a óbito. “Alguns países já estão aplicando a terceira dose, como Chile e Israel. O Reino Unido também discute essa possibilidade. Aqui no Brasil, em algum momento, teremos que fazer essa discussão, mas aqui não temos ainda nem a população adulta totalmente vacinada”, pondera.

Veterano estampou capa da revista ‘Dia-a-Dia’ em outubro de 2015

Tarcísio Meira foi capa da revista Dia-a-Dia em outubro de 2015, mês do seu octogésimo aniversário – ele nasceu em 5 de outubro de 1935, na Capital. Na ocasião, o ator interrompia hiato de 20 anos e retornava aos palcos na peça O Camareiro, em exibição no Teatro Porto Seguro, na Capital. 

O veterano se mostrou rejuvenescido e fazia planos para voltar às novelas, o que aconteceu em outubro de 2016, quando deu vida ao empresário Fausto Leitão em A Lei do Amor, da Rede Globo. Depois ainda participou de Orgulho e Paixão, novela que precisou abandonar em razão de infecção pulmonar. Seu último trabalho na TV foi em série produzida pelo canal Viva, chamada Os Casais que Amamos, onde expôs na intimidade sua relação de cumplicidade com a mulher, Glória Menezes.

Ainda nas páginas da Dia-a-Dia, Tarcísio lembrou de trabalhos no estúdio Vera Cruz, em São Bernardo. “Gravei muitas coisas lá, inclusive algumas novelas: A Deusa Vencida (1965), fizemos uma versão de A Muralha, o Grande Segredo (1967), entre outras”, comentou. “É um espaço muito bom, são estúdios que se prestam para qualquer gravação”, acrescentou.

Sobre sua relação com Glória Menezes, Tarcísio se declarou. “Me casei com ela independentemente de ser artista também. Casaria de qualquer jeito.”

Sobre o futuro, Tarcísio evitava fazer muitos planos. “Não tenho nenhum sonho especial. Quero que as coisas andem bem, que tudo transcorra com alegria e com prazer”, finalizou. 

“Mais um de nós se vai, mais um ícone da nossa profissão, aquele para quem a palavra galã parece ter sido inventada” 

Miguel Falabella, ator

“Tarcísio, meu grande amigo, avô dos meus filhos e artista gigante. Você nos deixou legado enorme como artista, que honra ter te encontrado nessa encarnação”

Claudia Raia, atriz

“Que honra ter trabalhado e convivido com o Tarcísio! O set de gravação com ele adquiria ares mais elevados”

Reynaldo Gianecchini, ator

“Quero me lembrar dele com essa força e determinação e uma determinação de um brasileiro, democrata, libertário, amigo leal, discreto”

Tony Ramos, ator

“Grande! Meus sentimentos a Glória Menezes, Tarcísio Filho e família”

Fernanda Montenegro, atriz

“Foi o primeiro artista a me fazer assistir novela. Todo dia assistia Irmãos Coragem. Sua partida deixa milhões de brasileiros órfãos”

Lula, ex-presidente

“O coronavírus nos tirou um dos maiores atores do Brasil de todos os tempos. Tarcísio Meira foi ícone da cultura nacional, cuja história se confunde com a sua obra”

João Doria, governador

“Hoje a plateia se cala e lamenta a partida deste nome que fez história e deixa legado imenso para a cultura brasileira”

Paulo Serra, presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC




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