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Escola ficha alunos após atentado
Por José Carlos Pegorim
Da Redaçao
24/03/1999 | 18:59
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Uma bomba caseira explodiu num quadro de força da Escola Estadual Joao Paulo I, no Parque Novo Oratório, em Santo André, abrindo um rombo na parede em que estava fixado e obrigando a paralisaçao das aulas por dois dias. O incidente aconteceu às 21h da quinta-feira da semana passada e ninguém ficou ferido. As aulas foram retomadas normalmente nesta quarta.

O caso nao seria diferente de outros episódios praticamente idênticos se, na segunda-feira, os alunos das classes do noturno nao tivessem sido constrangidos a tirar a impressao digital numa folha de sulfite em branco entregue à direçao da escola. Alguns estudantes se recusaram a pôr o dedo na almofada de carimbo e a negaçao, em vez da digital, constou na folha.

Na terça à noite, a direçao reuniu os pais para explicar o incidente e as possíveis medidas de segurança. Na reuniao, os pais começaram a discutir a contrataçao por pelo menos um semestre de uma empresa de segurança privada para contornar a situaçao. Um policial militar acompanha o movimento de entrada e saída na escola após a explosao da semana passada.

A diretora do Joao Paulo I, Ione Sampaio Briselli, 46 anos, nega, entretanto, que os alunos tenham sido constrangidos e alega que o intuito era apenas pedagógico. "Pegamos as impressoes digitais para trabalhar em sala de aula", disse a diretora. As impressoes nao têm valor legal. O objetivo seria discutir como nao deixar a situaçao virar um caso apenas policial. Mas já admite rasgar as folhas.

A bomba só nao provocou uma tragédia por sorte. A tampa do quadro foi lançada contra a parede em frente. A única pessoa próxima era o cantineiro, que varria o corredor e escapou por pouco. Seu bebê de 5 meses estava na cantina e ficou atordoado com a explosao. Do lado oposto, os destroços foram contidos por um quadro branco pendurado na parede, que rachou.

Ione veio para a escola em outubro. Em janeiro, com o apoio intenso da comunidade, recuperou as salas de aula e praticamente todo o interior do prédio, antes pichado de alto a baixo. A diretora documentou o estado em que encontrou o prédio num vídeo. As paredes das salas ainda cheiram a pintura nova. Carteiras e piso foram recuperados. "Tudo foi feito na base do mutirao."

A diretora impôs uma disciplina rígida na escola e obteve o apoio dos pais. Valter Meira, 47 anos, pai de uma aluna na 3ª série do ensino médio, apoiou as medidas tomadas. "Hoje, a gente tem prazer em entrar nas salas e antes eu tinha vergonha em vir às reunioes de pais."

O dirigente da 2ªDiretoria de Ensino de Santo André, Antônio Pupo, aceitou as explicaçoes da direçao. "A escola vem num processo de recuperaçao da auto-estima e nao houve intençao de causar constrangimento aos alunos."

Para alguns pais, entretanto, as explicaçoes nao foram convincentes. O advogado Francisco Carlos da Silva, 42 anos, que tem dois filhos no Joao Paulo I, apesar de apoiar as açoes de recuperaçao da escola empreendidas pela diretora, acha que a medida foi abusiva, mesmo depois de ouvir as explicaçoes. "O interesse da direçao foi impor novamente a autoridade dentro da escola, mas nao se pode usar uma medida ilegal para corrigir um problema", afirmou. Silva gostaria que as folhas com as digitais fossem rasgadas diante dos alunos. "Eu me obrigo a acompanhar o desenrolar do caso e a me envolver muito mais com a escola, para apoiar a direçao."




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