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50% das queixas do Visa vêm do comércio eletrônico
02/06/1999 | 12:00
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Cinqüenta por cento das queixas recebidas pelo cartao VISA, mundialmente, decorrem de transaçoes feitas na Web. Se metade das transaçoes que usam o cartao ocorressem na Web, seria uma boa notícia. Mas apenas 2% de tais negócios têm lugar na Internet, o que demonstra a fragilidade que ainda recorre sobre o comércio eletrônico.

O usuário nao corre, na rede, mais risco do que nos supermercados ou restaurantes. A maioria das disputas é causada pelos compradores e nao pelos vendedores, com os primeiros, no mais das vezes, negando que solicitaram bens e serviços que lhes foram cobrados pelos últimos. E entregues em outro endereço que nao o seu.

Se você já comprou na Internet, sabe que nome, número e a data do vencimento do cartao bastam em quase todo canto. Hoje, qualquer um que tenha estes dados pode sair gastando (seu dinheiro!) pela rede afora. E eles nao sao difíceis de obter: quem quer que "passe" seu cartao fica sabendo de tudo.

Para estes, pegar dados do cartao no restaurante ou número e senha de conta bancária grampeando o telefone é muito mais fácil do que vencer a criptografia já utilizada em comércio eletrônico para codificar os mesmos dados. É muito difícil interceptar uma transaçao e decodificar o que está acontecendo, pois a maioria dos sites usa criptografia para codificar a transmissao. Este é o significado de "transaçoes seguras" nas lojas virtuais. Mas, como o cartao nao tem senha ou uma "chave digital" para habilitar transaçoes, é muito fácil usar os dados de outrem na rede.

Para se ter uma idéia da seriedade das disputas envolvendo cartoes, quase metade das lojas de varejo norte-americanas (e em breve as brasileiras) já vende alguma coisa na rede. Também nos EUA, a propaganda na rede cresceu 90% em 1998, quando passou de US$ 1 bilhao, o tamanho da guerra, na Web, pela atençao e carteira do consumidor. Algumas empresas, como a Oracle, uma das líderes do mercado de software, têm planos de usar a rede como único canal de vendas, já no ano 2.000. Outras, como Dell e Cisco, já vendem vários milhoes de dólares por dia através da Internet.

Mas, nos EUA, apenas 5% dos consumidores confiam no comércio eletrônico, contra 57% que confiam em "home banking", 62% que acreditam estar seguros usando seus bancos pelo telefone e 77% nos caixas automáticos. Seria diferente no Brasil? O certo é que enquanto comércio eletrônico nao decolar de vez nos EUA, vai continuar engatinhando em outros lugares, inclusive aqui. E meio de pagamento confiável e imediato é uma das chaves para tal, já que, dificilmente, vamos fazer comércio eletrônico com depósito na fila do banco.

Aumentar a segurança das transaçoes eletrônicas é razoavelmente simples, mas enfrenta problemas técnicos, culturais e econômicos, já que alguém deve pagar a conta para transformar os mecanismos de comércio em algo tao ou mais seguro do que o atual software de "home banking". Um dos padroes de transaçoes eletrônicas seguras, SET (para Secure Electronic Transaction), pertence, coincidentemente, ao VISA. Sua aceitaçao por lojas e consumidores tem sido menor do que o esperado, até porque há outros padroes e o que clientes e lojas querem é que eles trabalhem em conjunto, de forma que a "chave digital" de um sistema possa ser usada em todos os outros.

Estamos precisando, aqui e nos EUA, de intervençao dos governos para articular o desenvolvimento da engenharia, operaçao e legislaçao de infra-estruturas nacionais de segurança digital, que possibilitem a utilizaçao universal, segura e eficiente de meios de pagamento como cartao de crédito, "smart card" e dinheiro digital. Sem isso, muita gente vai continuar fora dos negócios eletrônicos.

Se você quiser saber mais sobre infra-estruturas nacionais de chave pública, o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife tem um relatório preliminar para leigos.




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