Setecidades Titulo Educação
Cerca de 164 mil
nunca foram à escola

Número corresponde a 6% da população da região;
situação é melhor que em 2000, aponta Censo 2010

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
03/05/2012 | 07:00
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A sala de aula é local desconhecido para 164.485 moradores da região. Os dados integram o Censo 2010, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O montante equivale à população de São Caetano. Em 10 anos, o número de pessoas que nunca frequentou escola teve queda de 37%. Enquanto no ano 2000 o índice correspondia a 11% da população, em 2010 a proporção caiu para 6%.

No Brasil, a parcela de pessoas que jamais pisou em ambiente escolar é de 9,82% da população. São 18,7 milhões de brasileiros, entre crianças, jovens, adultos e idosos.

Entre os sete municípios do Grande ABC, São Bernardo é o que concentra, em números absolutos, mais pessoas no grupo dos que nunca foram à escola. São 46.056 munícipes - 6% da população. Há uma década, 73.600 moradores nunca tinham estudado formalmente.

Em Santo André, 5% dos moradores estão nessa lista. São 39.023 pessoas, número 39% menor do que o registrado em 2000.

Mauá tem 31.135 moradores que nunca estiveram na escola - 7% da população. Enquanto isso, em Diadema a taxa é de 31.017 pessoas, o equivalente a 8% dos munícipes.

Na cidade de Ribeirão Pires, 7.648 pessoas nunca frequentaram instituição de ensino (7% da população). Há 12 anos, 11% dos moradores estavam nesta situação.

Cerca de 8% dos moradores de Rio Grande da Serra - 3.525 pessoas - não frequentam escola. No ano 2000, essa porcentagem era de 16%.

São Caetano representa a menor das taxas daqueles que nunca foram à escola: 6.081 moradores, ou seja, 4% da população. No levantamento de 2000, foram identificadas 7.205 pessoas nesta condição.

AVANÇO
A melhora dos índices é vista por especialistas como resultado da ampliação do número de vagas no Ensino Infantil (para crianças com idade entre zero e 6 anos) e com a oportunidade de jovens, adultos e idosos voltarem a estudar a partir do EJA(Ensino de Jovens e Adultos) e programas similares.

Atualmente, a região tem 34.319 estudantes com mais de 15 anos cursando um dos três níveis de ensino voltados a jovens e adultos (Fundamental 1 e 2 e Ensino Médio), segundo Censo Escolar do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Já na Educação Infantil, são 69.309 alunos matriculados na rede pública, sendo 27.940 em São Bernardo, 12.228 em Santo André, 4.890 em São Caetano, 9.947 em Diadema, 10.012 em Mauá, 3.197 em Ribeirão Pires e 1.095 em Rio Grande da Serra.

Para a professora de Psicologia da Educação da Fundação Santo André Ivete Pellegrino é importante ressaltar que as pessoas com idade mais avançada estão em busca do estudo. "Os idosos, por exemplo, vencem preconceitos e voltam para a escola para serem, pelo menos, semialfabetizados", diz.

A responsável pelo EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Prefeitura de São Bernardo, Adriana Pereira, afirma que é obrigação do poder público ofertar vagas na rede de ensino, mesmo que pais optem por não matricular seus filhos em idade escolar e os idosos se recusem a retomar os estudos.

Para ela, o deficit de vagas ainda é um dos fatores que contribuem para o alto índice na região.

"É importante ressaltar que esse dado diz respeito a toda a população, desde os zero anos de idade até os mais idosos", observa.


Vida longe da sala está ligada ao trabalho

Moradores que nunca frequentaram os bancos escolares estão espalhados pelas sete cidades da região. Exemplo é a dona de casa Benedita Lima de Oliveira, 67 anos. Nascida em Lins, no interior de São Paulo, a simpática moradora do Jardim Luzitano, em Mauá, abandonou a vontade de aprender para dedicar-se ao trabalho na lavoura de café desde cedo.

Apesar de analfabeta, ela garante que o fato de não saber sequer escrever seu nome nunca atrapalhou. Casou-se aos 11 anos e aos 21 mudou-se para São Paulo, onde passou a trabalhar como doméstica. A mãe de dez filhos sorri ao dizer que o dedão da mão é sua assinatura. "Depois de velha já não tinha vontade de aprender", comenta.

Para executar tarefas do cotidiano, como ir ao banco, médico e preencher documentos, Benedita depende da ajuda dos filhos. Fora isso, ela orgulha-se em dizer que sempre sabia ir para o trabalho, na Capital, sozinha, mesmo sem conseguir ler as placas dos ônibus.

Sobre os filhos, ela destaca que sempre os incentivou a ter a oportunidade que não teve. No entanto, apenas uma seguiu seu conselho e tornou-se enfermeira. Hoje, ela encoraja os 38 netos e 28 bisnetos.

Em Ribeirão Pires, a história da comerciante Aurenice Soares da Silva, 59, é parecida. Nascida em Itabuna, na Bahia, ela só aprendeu mesmo a desenhar o nome com um professor particular contratado pela comunidade para ensinar as crianças, aos 11 anos.

Para Aurenice, quem nasce no campo não tem como estudar, já que precisa se dedicar ao trabalho. A dificuldade para frequentar a escola foi reforçada com o casamento, aos 17 anos, quando mudou-se para São Paulo.

A leitura veio com o esforço e dedicação, além da ajuda dos quatro filhos. Mesmo sem saber fazer contas, Aurenice mantém bar no bairro 4ª Divisão, em Ribeirão Pires. "Ninguém me engana até porque sei bem o quanto tenho de ganhar", observa decidida.

A comerciante descarta qualquer hipótese de voltar a estudar. "Não tenho mais cabeça e também já não enxergo direito", revela.




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