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'O Contador de Histórias' encanta no cinema
Por Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
07/08/2009 | 07:00
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Milhares passaram pela Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) enquanto funcionou, entre 1976 e 2006. A maioria não quer e não gosta nem de tocar no assunto. Outros fingem que nada significou. Pouquíssimos fazem questão de lembrar de como era a vida de quem só conseguia enxergar grades e muros através das janelas. Apenas um conta a sua história de uma maneira especial.

Esse é Roberto Carlos Ramos. A vida do menino carente de Belo Horizonte virou o filme O Contador de Histórias, que estreia hoje. Dirigido por Luiz Villaça, e produzido por Denise Fraga e Francisco Ramalho Junior, o longa conta a trajetória de Roberto Carlos. Ele foi interpretado por Marco Antonio Ribeiro, Paulo Henrique Mendes e Cleiton dos Santos com 6, 13 e 20 anos, todos meninos carentes de Minas Gerais.

Roberto Carlos foi deixado pela mãe na Febem ainda moleque, por ela acreditar que lá formavam-se médicos, engenheiros, advogados. Logo o garoto descobriu que ali, na verdade, a escola era a do crime. E, em sete anos, fugiu mais de 130 vezes. Conheceu o mundo das drogas, roubou, sofreu violência sexual, cresceu na compania do frio e da fome, mas sem perder o dom de contar casos.

Ele comparava os assaltos a verdadeiros jogos de futebol, nos quais, era sempre o centroavante. A professora de ginástica parecia um hipopótamo e tudo ficou mais fácil quando o garoto descobriu que quanto mais grave a doença, mais privilégios teria. Chegou a dizer que estava com câncer no útero para ganhar mais comida.

O garoto, considerado irrecuperável, começou a mudar depois de conhecer a pedagoga francesa Margherit Duvas, interpretada brilhantemente pela atriz franco-portuguesa Maria de Medeiros. "Devo confessar que chorei ao ler o roteiro", fala a atriz. Ela foi a primeira pessoa de quem "Robertô" (com sotaque francês) ouviu as palavras ‘por favor' e ‘com licença'. Logo a pesquisa de Margherit ultrapassou os objetivos científicos e o que era para ser uma tese, virou amor de mãe e filho.

Por mais que alguns digam que a trajetória do mineiro Roberto Carlos é igual a de muitos meninos brasileiros: miserável, sem brilho, sem jeito, o longa inspirado na sua vida é, sem dúvidas, criativo e envolvente, como só ele sabe contar.

"A transformação de Roberto decorre de sua capacidade de contar histórias. Ao criar tantas, acabou se apaixonando pela sua. Eu também sou um apaixonado por histórias. E contar a história de um contador de história como Roberto Carlos foi absolutamente encantador", ressalta o diretor, Luiz Villaça.

VIDA REAL - Hoje, com 44 anos, Roberto Carlos é educardo em Belo Horizonte, autor de livros e reconhecido como um dos melhores contadores de histórias do mundo. Também é pai de 25 meninos carentes. "Para mim, a inclusão social passa por uma questão fundamental: a família. Se ela é a causa de todos os problemas, também é a solução. Margherit e eu formávamos uma família", conta Roberto Carlos, que completa: "Margherit sempre me disse que existem duas formas de contar uma história: chorando ou vendendo lenço. Eu gosto das coisas que acabam bem. Se eu fosse Shakespeare, certamente Romeu e Julieta terminariam juntos."




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