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Cinema: como nascem os heróis
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
11/04/2005 | 11:40
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O universo vai entrar em colapso novamente, ameaçado por ditaduras siderais, por maníacos mascarados que venderam a mãe antes de desocupar o útero e por pestes que dizimam 99% da população terrestre. Isso é um trabalho para os personagens mais valorizados em Hollywood nos últimos tempos: os heróis. Este ano, para não atentar contra o filão que pôs em ordem as contas dos estúdios, uma turma nova (nem tão nova assim, é verdade) de mitos arregaçará as mangas.

O público já faz fila para assistir a Star Wars III – A Vingança dos Sith, o primeiro blockbuster de fato da temporada, e ao mesmo tempo o último dos seis capítulos da saga dos Skywalker – se George Lucas quiser. Desde a semana passada, cerca de 110 pessoas estão acampadas às portas do Grauman’s Chinese Theatre, sala em Los Angeles que deve ser a primeira a receber o filme quando de sua estréia nos Estados Unidos, em 19 de maio (o Brasil o acolhe no dia seguinte).

É possível existir quem nunca tenha assistido a um só dos cinco Star Wars anteriores. Mas não há cinéfilo que desconheça a história do Império Galáctico e da Resistência, salpicada por uma subtrama de mistério familiar que nem roteirista de novela mexicana faria melhor. A Vingança dos Sith, o elo entre a primeira e a segunda trilogias, promete ser o mais apoteótico filme da série, conforme esboça o trailer: batalhas que envolvem milhares de criaturas, planetas inteiros em chamas e a decadência dos jedis, guerreiros do heroísmo. O melhor momento do filmete de divulgação, entretanto, se apresenta como o rebite definitivo do tom pessimista do longa. Anakin Skywalker (Hayden Christensen), já na armadura de Darth Vader, estica as pernas após bandear para o lado negro da Força. Ao fundo, a voz do Imperador Sidious (Ian MacDiarmid): “Lord Vader! Rise!” (Lorde Vader! Levante!).

O autor de HQs Frank Miller é duplamente reverenciado. Primeiro, pela equipe de Batman Begins, a mais recente obra audiovisual inspirada no justiceiro dos quadrinhos, que estréia no Brasil em 17 de junho. O novo filme, dirigido pelo Christopher Nolan que cometeu o placebo técnico Amnésia, decreta total autonomia em relação à batsérie dos anos 1990, aquela que raspou graça artística quando dirigida por Tim Burton (Batman e Batman, o Retorno) e chafurdou no pecado sob Joel Schumacher (Batman Eternamente e Batman e Robin).

Batman Begins renuncia a essas influências e sonda as origens do Homem-morcego, inspirado nas páginas de Batman: Ano Um, de autoria de Frank Miller e David Mazzuchelli. Para esse recomeço, um elenco de hidratar o queixo: Michael Caine, Morgan Freeman, Liam Neeson, Gary Oldman, Ken Watanabe, Katie Holmes e Tom Wilkinson.

Frank Miller, de novo. O autor e quadrinista tem presença cervical num dos principais lançamentos do segundo semestre, o drama-aventura noir Sin City, adaptado de seu romance gráfico homônimo, e pronto para chegar ao país em 29 de julho. E o filme vem com vontade de arrebatar fãs depois de estrear nos Estados Unidos, semana retrasada, e liderar as bilheterias com US$ 29 milhões.

Não basta idealizar, tem de participar. O cineasta Robert Rodriguez (El Mariachi) fez questão de ter Miller como co-diretor de Sin City, por considerar o roteiro quase dispensável, pois encontrava-se praticamente pronto nas páginas do gibi. Sin City tem jeito de revolução audiovisual, ao estabelecer que enquadramentos, montagem e cenografia seriam a tradução inequívoca da obra impressa. Para tal, toda a ambiência do filme construiu-se em digital backlot, ou seja, cenários e elementos de fundo são virtuais, criados em computador. Bruce Willis, Clive Owen, Mickey Rourke e Benicio Del Toro interpretam habitantes da ante-sala do inferno chamada Basin City, incondicionalmente envolvidos com eventos sangrentos e musicados com o canto de sereia das femme fatales, transportadas sem escalas do cinema noir.

Também em julho, no dia 8, as salas brasileiras estão reservadas para O Quarteto Fantástico, uma das mais aguardadas e conturbadas adaptações de quadrinhos da história. Não se trata de julgamento precoce, mas recomenda-se cautela sobre o que esperar desta versão das aventuras do grupo de super-heróis dos quadrinhos da Marvel Comics. O diretor, Tim Story, tem no currículo a comédia de erros Táxi, com Gisele Bündchen. Passado pouco prodigioso.

Outros dois heróis devem se hostilizar, em virtude da briga por audiência, em 28 de outubro, quando estão previstas as estréias de A Lenda do Zorro e de Aeon Flux. O primeiro é continuação de A Máscara do Zorro (1998) e repete o time do original: o diretor Martin Campbell e os estelares Antonio Banderas e Catherine Zeta-Jones. Aeon Flux, realizado por Karyn Kusama, deriva da série animada exibida pela MTV sobre uma agente secreta que vive na única cidade poupada por uma epidemia que varreu a vida da Terra, 400 anos à frente. Uma beleza a atriz Charlize Theron caracterizada como heroína, de madeixas negras, à altura dos ombros – o figurino colante dispensa comentários.

Por fim, em 4 de novembro, chega V de Vingança, baseado na série gráfica de Alan Moore e David Lloyd. Os nomes mais ilustres por trás do projeto, que arma uma paisagem totalitarista para a Inglaterra num futuro virtual, são os dos irmãos Andy e Larry Wachowsky, da trilogia (que se bastaria em um único filme) Matrix. Em V, eles assinam como roteiristas, e o diretor é o estreante James McTeigue, que prestou assistência de direção aos Wachowsky e à George Lucas em Star Wars. Indícios de que o cinema resultante da mitologia gráfica, ao contrário do crime que ele desconjura, continuará a compensar, ainda por algum tempo.



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