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Falta de investimento ameaça sucatear indústria automotiva
Por Lana Pinheiro
Do Diário do Grande ABC
08/06/2006 | 08:08
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Um dia após a indústria automotiva registrar recorde de produção no acumulado do ano – com 1,080 milhão de veículos –, o vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Carlos Pastoriza, mostra preocupação com possível sucateamento do parque industrial automotivo em curto prazo.

“Nossas associadas vendem ferramentas e máquinas para os mais diversos setores industriais. Lamento avisar que montadoras e empresas de autopeças não estão comprando máquinas nem para repor aquelas que sofrem com desgaste natural de uso, quem dirá investir em modernização”.

De acordo com levantamento apresentado pelo dirigente no Encontro Empresarial & Negócios: Cadeia Produtiva Metal Mecânica, realizado quarta-feira em São Caetano, das 4 mil fabricantes de máquinas e equipamentos instaladas no Brasil, 800 estão na região metropolitana de São Paulo e 400 delas no Grande ABC. Juntas, as empresas da região faturam cerca de R$ 3 bilhões por ano, 50% provenientes de vendas à indústria automotiva.

Pelos dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) o ritmo de investimento do setor teve seu ápice por volta de 1997 – quando a indústria vendeu aproximadamente 2 milhões de unidades ao mercado interno – mas caiu drasticamente no início dos anos 2000. Em 2004, a recuperação começou e no ano passado US$ 1,180 milhões foram investidos. Projeções para este ano não são reveladas.

Para o setor de máquinas, a instabilidade no volume de recursos aplicados terá duro impacto: enxugamento do setor. “Hoje fechar uma fábrica custa muito dinheiro. Por isso muitas empresas do ABC correm o risco de manterem a fachada e terceirizarem toda a produção”, sentencia Pastoriza.

Desafios e ameaças – A situação que por si só já é crítica, fica ainda pior diante da ameaça da China. Para André Beer, consultor e presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de São Caetano, o Brasil ainda tem vantagem pela sua experiência na indústria. “Os países asiáticos são um grande desafio, mas eles levarão algum tempo para chegar ao nosso nível. Sociedade, governo e indústria precisam se unir para manter nossa vantagem competitiva”.

Para o Sindipeças, a falta de atualização tecnológica nas fábricas e modelos também preocupa. Geraldo Rinaldi, vice-presidente da entidade, lembra que a Volkswagen, por exemplo, não trouxe para o país a mais recente versão do Golf, nem a General Motors com o Vectra ou o Astra. “Enquanto isso, na China a produção saltou de 1,6 milhão de veículos em 1997 para 5,7 milhões no ano passado. Com modelos atuais.”

Na GM, o caminho encontrado para driblar essa crise foi desenvolver sua engenharia. A empresa que já exporta serviços de desenvolvimento de veículos, como o Hummer que será produzido na África do Sul, se tornou centro de desenvolvimento mundial de picapes médias.

Para José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da companhia, a inserção do país na estratégia mundial do grupo é atestado de competência. “Enfrentamos problemas de câmbio, de tributos, de pressão de custos. Mas temos inteligência, é essa ferramenta que usaremos para conquistar nosso espaço no cenário internacional”, diz.

O prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, arremata o debate e admite que a região enfrenta problemas. “São Caetano está no seu limite físico e geográfico. Precisamos repensar o futuro e, na minha percepção, o caminho passa por ser um pólo de desenvolvimento de tecnologia”, avalia.



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