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Secretária tem nova versão para cirurgia em motorista do prefeito
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
27/10/2005 | 08:20
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A Prefeitura de Santo André apresentou quarta-feira nova versão para explicar a cirurgia de redução do estômago realizada no motorista José Roberto dos Santos, o Zezinho, que serve o prefeito João Avamileno (PT). A secretária municipal de Saúde, Vânia Barbosa do Nascimento, disse que o paciente soube três meses antes que se submeteria ao procedimento, o que contradiz as primeiras justificativas para o caso. No Grande ABC, a espera para a cirurgia bariátrica é de três anos. Mais de 6 mil pessoas aguardam a operação, feita gratuitamente no Hospital Anchieta, em São Bernardo, e no Hospital Estadual de Diadema.

Quando o Diário questionou o procedimento em reportagem publicada no dia 16 outubro, a equipe médica do Centro Hospitalar – que já não faz cirurgias bariátricas desde 2003 – e a própria secretária afirmavam que o motorista passava por operação para retirada de três hérnias no abdômen quando foi detectada a necessidade de redução do estômago. A decisão teria sido tomada na mesa de cirurgia, no último dia 27. Quarta-feira, a secretária disse que Zezinho soube em junho que teria o estômago reduzido. E que os médicos sugeriram o procedimento porque o paciente tinha grande dificuldade para vencer a obesidade e o excesso de peso comprometeria o sucesso da retirada das hérnias.

"Há seis meses os médicos do SUS acompanham o caso do Zezinho. Ele precisava emagrecer para fazer a operação das hérnias. Chegou a perder 18 kg, mas tinha de emagrecer mais. Um abdômen volumoso compromete a cirurgia, os pontos esgarçam. E a retirada das hérnias era urgente, elas cresciam cada vez mais e poderia obstruir o intestino do paciente. Foi uma decisão clínica. Não administrativa. E é claro que Zezinho foi avisado, porque nada poderia ser feito sem o consentimento dele", explica a secretária.

Zezinho teve acompanhamento psicológico durante o período que antecedeu a cirurgia, segundo a secretária. A terapia é indicada aos pacientes que se submetem à redução do estômago por causa das bruscas mudanças provocadas pelo procedimento, tanto na aparência física quanto nos hábitos alimentares.

A Secretaria de Saúde há dez dias abriu sindicância para apurar o caso de Zezinho, a pedido de João Avamileno. O prefeito garante que não interviu a favor do funcionário para que passasse pela cirurgia bariátrica sem ter de amargar mais de dois anos na fila de espera.

As explicações dadas quarta-feira pela secretária fazem parte do relatório enviado pelo médico cirurgião Remo Randi, do Centro Hospitalar. O mesmo que havia dito à reportagem do Diário, publicada no dia 16, que realizou a cirurgia bariátrica em Zezinho porque "o estômago dele estava dilatado", e que o "refluxo gastro-esofágico" comprometia sua saúde. Na ocasião, ele afirmou que a redução era urgente e fora decidida na hora, já que o caso do motorista do prefeito era "atípico". Vânia diz que a versão é diferente da anterior porque, "no calor dos fatos" o "nervosismo" impediu que todos os detalhes fossem apurados. "A equipe se sentiu muito pressionada. Estão amedrontados. Fizeram pelo Zezinho o que fazem todos os dias por outros pacientes. Encaixamos cirurgias de urgência sempre que possível. Até de procedimentos que usualmente não realizamos", explica.

Dias antes de passar pela cirurgia, Zezinho se divertia num churrasco com amigos e comemorava a redução do estômago. "Vou ficar magrinho", alardeava. A vizinhança do motorista, que mora no Centreville, também tinha conhecimento de que ele faria a operação. A secretária de saúde, Vânia Barbosa do Nascimento, diz que, não fosse o problema da hérnia, o paciente não seria submetido às pressas a tal procedimento. "Ele não procurou o SUS para a cirurgia bariátrica. Foi por causa das fortes dores que sentia no abdômen."




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