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Vítimas da Vila São Pedro têm medo de virar sem-teto
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
24/05/2006 | 07:24
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Quem vive no alto dos morros da Vila São Pedro, em São Bernardo, se diz apavorado. Compradores de lotes em área de risco, eles temem a remoção das famílias e a perda do dinheiro investido. Os moradores compartilham o medo de serem desalojados e os boatos sobre a demolição das moradias. Afirmam ter negociado com o mesmo grileiro e cadastrado suas casas na Sociedade Amigos de Bairro, acreditando que o documento lhes garantiria posse do imóvel.

Os moradores da rua 28 de abril – a mesma em que a reportagem negociou a compra de um lote, há um mês – dizem que o vendedor das terras "desapareceu" depois das denúncias de grilagem de terras publicadas pelo Diário. "Antes, ele vivia aqui em cima. Trazia gente para mostrar os terrenos. Agora nem dá mais as caras", conta um dos moradores, que não quis se identificar.

Pelo menos cinco famílias que vivem na rua compraram os lotes do homem conhecido por Geraldo Moreno, ou Geraldo da Chácara. E estão cadastrados na SAB, presidida por Geraldo Gomes da Silva, que seria o chefe da máfia e estaria por trás do comércio operado por grileiros como o seu xará, Geraldo Moreno. Silva é assessor do presidente da Câmara, Laurentino Hilário (PSDB).

O desempregado Enoque Ribeiro, 38 anos, comprou o lote há cinco anos. Pagou R$ 1,6 mil e gastou mais R$ 5 mil para reformar o barraco em que vive com a mulher, Adriana de Aragão, 18. "Não comprei direto do Moreno. Comprei de um sujeito que tinha negociado com ele. Agora, estamos sem saber o que fazer. Não sou invasor. Eu comprei esse terreno, com muito custo." A mulher do desempregado diz que ela e a vizinhança estão apreensivas. "Se a gente tivesse lugar melhor para ir, não morava desse jeito."

O irmão de Enoque, Paulo Ribeiro, 35 anos, vive no barraco ao lado e também não tem emprego. Mora com a mulher Ednalva, e cinco crianças, com idades entre 3 e 12 anos. Ele afirma que a Prefeitura nunca esteve no local e que a Defesa Civil não interditou a área. "Temos medo de sair daqui. Custou muito caro para mim esse terreno." Paulo diz que não pagou o lote em dinheiro, mas em "trabalho". "Como não tinha condições, o Geraldo Moreno me cobrou em serviço. Passei três meses trabalhando na construção da casa de um filho dele. Era trabalho que não acabava mais. Descarreguei mais de 20 caminhões de terra", lembra.

Outro morador, o motorista Manoel dos Santos Arruda, 31, pagou R$ 1,8 mil pelo lote. É o único que não teme perder o imóvel. "Faz um ano e sete meses que comprei. Dei o dinheiro na mão do Geraldo Moreno. Se me tirarem daqui, vão ter que me devolver. Eu comprei e paguei. Não é justo", avalia.

Todos os entrevistados da rua 28 de abril afirmaram que não tiveram dificuldade em cadastrar os imóveis na Sociedade Amigos de Bairro. Eles relatam que o presidente da entidade aparece pouco por lá. "Ele só veio aqui na época da campanha da sede, pra pedir voto", disse outro morador, que não quis se identificar por medo de represálias de Geraldo Gomes da Silva. "Quanto menos coisa a gente fala e vê por aqui, melhor."

O secretário de Habitação e Meio Ambiente de São Bernardo, Ademir Silvestre, afirmou que todos os moradores de áreas de risco, seja da Vila São Pedro ou de outros bairros da cidade, terão as casas demolidas. E que vai analisar "caso a caso" as moradias construídas na rua 28 de maio.




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