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Ilhas Fiji sofrem o quarto golpe de Estado em menos de 20 anos
Por Da AFP
05/12/2006 | 10:45
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O chefe das Forças Armadas de Fiji, o contra-almirante Voreqe Bainimarama, anunciou nesta terça-feira que assumiu o controle do governo das Ilhas Fiji. "Às 18h desta tarde (4h horário de Brasília), as Forças Armadas tomaram o controle do governo e asseguram a autoridade no país, assim como sua administração", declarou em rede nacional.

O contra-almirante confirmou ter suspendido algumas cláusulas da Constituição e que passará a desempenhar o papel de chefe do Estado no lugar do atual presidente Ratu Josefa Iloilo. "Em conseqüência, está destituído o primeiro-ministro Laisenia Qarase", afirmou, acrescentando que um governo interino será nomeado à espera de eleições.

O contra-almirante, ameaçado de sofrer sanções por Nova Zelândia, Austrália e ONU (Organização das Nações Unidas), prometeu que as Forças Armadas só manterão temporariamente o controle do país. Ele também assegurou que a Constituição continua em vigência, assim como a Justiça.

Fazendo alusão ao conflito com o primeiro-ministro, o contra-almirante declarou: "O desacordo me obrigou a intervir".

O primeiro-ministro Laisenia Qarase anunciou na manhã desta terça-feira que se encontra em prisão domiciliar, já que os militares cercavam sua residência. "Seguramente vão me enviar para uma ilha próxima", disse ele à rádio australiana ABC. Não houve resistência ao Exército, que já na segunda-feira havia desarmado a única unidade policial que possuía um arsenal, assim como todos os seguranças do governo.

O golpe de Estado militar foi muito condenado pelos países vizinhos. O primeiro-ministro australiano, John Howard, citou "um sério revés para a democracia", mas disse que rejeitou um pedido de intervenção militar feito pelo primeiro-ministro de Fiji. Antes do golpe, a Austrália havia ameaçado suspender as relações militares com o arquipélago e proibir o deslocamento à Austrália dos membros do Exército e do novo governo.

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, denunciou um "escândalo". O governo neo-zelandês suspendeu imediatamente as relações militares com Fiji e proibiu o contra-almirante Bainimarama de ir à Nova Zelândia, onde tem familiares, exceto para participar em negociações para resolver a situação.

Há vários meses Bainirama denunciava a "corrupção" do governo de Qarase e exigia, em particular, o abandono de um projeto de lei que anistiava alguns dos autores nacionalistas do golpe de Estado de 2000, que quase lhe custou a vida.

O conflito entre o chefe militar e o primeiro-ministro se inscreve nas repetidas tensões entre a minoria de origem indiana e a maioria de origem fijiana. Voreqe Bainimarama se apresenta como defensor da minoria étnica indiana diante do apoio dado aos fijianos pelo SDL (Partido Unificado Fijiano) do nacionalista Qarase.

Para alguns, o contra-almirante Bainimarama é um defensor da Constituição. Outros, no entanto, o consideram um homem ávido por poder. Em 1999, Bainimarama chegou ao comando do Exército com a imagem de um homem moderado que iria despolitizar as Forças Armadas, que haviam executado dois golpes de Estado em 1987.

As ilhas Fiji, independentes da Grã-Bretanha desde 1970, é viveu nesta terça-feira seu quarto golpe de Estado em menos de 20 anos.

Maio de 1987: Dirigidos pelo coronel Sitiveni Rabuka, os militares invadem o Parlamento e derrubam o governo do primeiro-ministro Timoci Bavadra, que havia sido eleito um mês antes.

Setembro de 1987: O coronel Rabuka dá um segundo golpe de Estado, proclama a República de Fiji e assume o poder. Retira seu país da Commonwealth (Comunidade Britânica) e nomeia um governo interino, que dirige até 1990. Adota uma Constituição que consagra a supremacia política dos fijianos de origem malaia sobre a minoria indo-fijiana.

Setembro de 1997: Fiji volta para a Commonwealth depois de adotar uma Constituição que não exclui os indianos das altas funções políticas.

Maio de 1999: Pela primeira vez um fijiano de origem indiana, Mahendra Chaudhry, é eleito primeiro-ministro.

Maio de 2000: Mahendra Chaudhry e seu governo são tomados como reféns no recinto do Parlamento pelo nacionalista George Speight, um controvertido empresário. O Exército, dirigido pelo comandante Voreqe Bainimarama, declara a lei marcial. George Speight seria em seguida condenado à prisão perpétua por alta traição.

Julho de 2000: O Exército nomeia Laisenia Qarase, um ex-banqueiro, para a chefia de um governo interino. Depois ele seria democraticamente eleito em duas ocasiões, em 2001 e 2006.




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