Política Titulo Crise sem precedentes
Instabilidade política em Mauá marca um ano da Prato Feito

Operação, deflagrada pela PF em maio de 2018, intensificou fissuras, causou cassação de Atila Jacomussi e instalou crise sem precedentes

Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
12/05/2019 | 09:32
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Claudinei Plaza/DGABC


 A Operação Prato Feito, deflagrada em 9 de maio do ano passado pela PF (Polícia Federal) para desmontar esquema de desvios de verbas da merenda escolar, completou um ano na quinta-feira e, desde que prendeu pela primeira vez o prefeito eleito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB), hoje cassado, intensificou fissuras entre grupos políticos tradicionais na cidade e instalou crises política e financeira no Paço.

A primeira detenção de Atila e a consequente posse de Alaíde Damo (MDB), vice-prefeita eleita e atual chefe do Executivo, já deu o tom de como seriam os meses seguintes. Mesmo a então vice prometendo seguir a cartilha do governo eleito, não demorou muito para que a emedebista desconfigurasse toda a gestão montada pelo socialista e desse sua própria cara ao governo interino. Demitiu secretários nomeados por Atila, inclusive homens de confiança do então prefeito, como Israel Aleixo, o Bell (PSB). A operação, por sinal, atingiu também um dos principais aliados do socialista, o então secretário de Governo, João Gaspar (PCdoB), também detido.

partir daí, o clã Damo rachou de vez com os Jacomussi. A aliança dos dois grupos já vinha arranhada desde que Atila manteve no governo aliados de Júnior Orosco (PDT), ex-marido da ex-deputada estadual Vanessa Damo (MDB), filha de Alaíde – os dois haviam se divorciado. A própria escolha pela emedebista como companheira de chapa de Atila já não era bem digerida pelo socialista.

Atila foi solto em junho de 2018, mas o TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) o proibiu de retomar o mandato – fato que foi revertido meses depois pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Naquela ocasião, vídeo de Vanessa aparentemente comemorando nos corredores do gabinete do prefeito irritou aliados do socialista.

Durante essa novela, o governo interino explicitava dificuldades com as contas públicas. Alaíde decretou estado de calamidade financeira e pediu socorro aos governos estadual e federal. Também chegou a encerrar unilateralmente contratos milionários, como o acordo com a FUABC (Fundação do ABC). Além disso, acumulou despesas com pessoal referentes às demissões em massa de comissionados indicados pelo ex-prefeito.

Atila retornou ao cargo em setembro, mas levantou bandeira branca. A cisão, porém, já estava instalada. O clã Damo, cujo patriarca é o ex-prefeito Leonel, passou a torcer internamente pela decadência jurídica do socialista. Até que Atila foi preso novamente, em dezembro – em nova fase da operação, denominada Trato Feito. Ao tomar posse pela segunda vez, às vésperas do Natal, Alaíde escancarou o desejo de ter um governo para chamar de seu. “Se o RH estivesse aberto, mandaria embora (os comissionados do governo Atila) hoje mesmo”, disse.

Em fevereiro, o socialista conseguiu de novo o direito de voltar ao comando do Paço (novamente por decisão de Gilmar Mendes), mas à essa altura, a Câmara, que também foi alvo da Trato Feito ao ser acusada de receber Mensalinho do socialista em troca de apoio político, já havia se aproximado dos Damo e dado início a dois processos de impeachment. Em 18 de abril, por 16 votos a cinco, cassou Atila Jacomussi.

No campo jurídico, o hoje prefeito cassado sequer é réu. O MPF (Ministério Público Federal) o denunciou duas vezes por fraude de processo licitatório, corrupção (ativa ou passiva) e formação de organização criminosa, mas o TRF-3 (Tribunal Regional Federal) já desmarcou o julgamento duas vezes. Atila também trava disputa nos tribunais para anular o impeachment.




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