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Pedra, pedreira, Mauá

Sempre que se tocar com desrespeito numa pedra de Mauá estará se maculando um pedaço da história da cidade

Por Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
23/11/2009 | 00:00
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"Philadelpho é daquelas figuras públicas que não morrem porque há muito, no embate da causa, se trasladaram para o cenáculo da História".
José de Souza Martins, professor da Universidade de São Paulo.

* * *

Sempre que se tocar com desrespeito numa pedra de Mauá estará se maculando um pedaço da história da cidade. Temos o polo petroquímico, a indústria do plástico. A cerâmica e porcelana estão impregnadas no sangue dos antigos. Mas a pedra forjada pelos canteiros e escarpelinos desde tempos idos, ah, essa riqueza cultural e litúrgica não pode sofrer arranhões. E o pior é que sofre.

A pedra enterrada defronte à Prefeitura com a data 1925, a pedra que esculpe a matriz da Imaculada Conceição, a pedra da gruta Santa Luzia que abençoa o grande Rio Tamanduateí que ali nasce - mesmo que apodrecendo alguns metros depois. Tudo isso é herança dos antigos artesãos que, se deixassem, ou convidassem, fariam obras de arte como as feitas pelos Brancalion no Monumento de 1932 no Ibirapuera, ou no monumento dos jardins do Museu do Ipiranga.

E como foi bom saber que o Cruzeiro Sagrado Coração de Jesus, da Rua Almirante Taylor, em frente ao nº 11, permanece de pé, notícia recebida por Memória na última quarta-feira, em mais uma reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de Mauá. Vida longa ao cruzeiro de pedra que emoldura os nossos caminhos.

Cada calçamento de pedra que é coberto de asfalto ofusca o passado. O derivado de petróleo não sobrevive à pedra nem tem o seu charme. Os caminhos em torno da Matriz da Imaculada, cobertos pela mancha negra, machucam a herança da cidade.

Que a escola ouça os escarpelinos, recuperem a memória de um Zanella deportado, auscultem as vozes que se enfraquecem com o passar dos anos, levem ao computador as notícias centenárias das delegações sindicais que daqui partiram. Só assim a história mauaense descobrirá a sua identidade - que é fascinante.

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CLARICE MONTEIRO FERREIRA
(Rio Grande da Serra 9-8-1911 - Santo André 4-11-2009)

Dona Clarice era costureira. Aceitava encomendas e emprestava seu talento para tornar mais elegantes mocinhas e senhoras da sua terra natal, a estação Rio Grande, hoje município de Rio Grande da Serra. Nos momentos de folga, e sem nada receber financeiramente, dava aulas de reforço para crianças pobres, no que auxiliava uma colega professora.

Seu avô, Antonio Monteiro, era funcionário do governo federal e feitor de obras da Estrada de Ferro São Paulo Railway, que cortou o Grande ABC. Era casado com Elisabete Beber, austríaca.

O pai, João Monteiro, era funcionário da Prefeitura de São Paulo e tomava conta da pedreira que a Municipalidade mantinha em Rio Grande. A mãe, Analia Rosa Monteiro, morreu com 98 anos de idade.

Os irmãos, Antonio e Daniel, seguiram os passos do pai como funcionários da prefeitura paulistana.

O marido, Antonio Ferreira, era carpinteiro. Casaram na capela histórica de São Sebastião e mudaram para Vila Pires, em Santo André, onde tiveram duas filhas, Jacy e Darci.

Nos últimos 30 anos, depois da morte do marido, Dona Clarice viveu com a filha Jacy. Gostava de passear e de curtir os cinco netos, três bisnetos e um tataraneto. Partiu com a mesma idade da mãe, aos 98 anos, sendo sepultada no Cemitério Cristo Redentor, em Vila Pires.




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