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Arte lembra atentados de 11 de setembro
Por Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
31/08/2002 | 16:56
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Se não alteraram substancialmente o cenário geopolítico mundial, os atentados de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, nos Estados Unidos, mexeram com o imaginário artístico. À comoção inicial sobrepôs-se uma posterior reflexão sobre o assunto, que gerou atividades nas variadas linguagens artísticas.

Composto por 11 episódios rodados por 11 diretores de 11 países, o filme 11/09/01, uma produção francesa, será exibido no Festival de Veneza no dia 6 deste mês, durante a mostra Eventos Especiais. A fita não endossa a postura do governo norte-americano, que usou o tacanho argumento do bem contra o mal – o mesmo dos muçulmanos mais radicais, para quem os Estados Unidos são o “Grande Satã” – para tirar tropas dos quartéis.

A maioria dos episódios demonstra pouca – ou nenhuma – amabilidade com os norte-americanos. O do egípcio Youssef Chahine fala sobre “civilizações destruídas pelos Estados Unidos” e sobre “milhões de vítimas” provocadas pela política externa norte-americana. Samira Makhmalbaf, do Irã, colocou em seu episódio o comentário de uma criança iraniana: “Os Estados Unidos querem nos bombardear, por isso temos de construir abrigo”.

O inglês Ken Loach também se refere às atividades norte-americanas nada edificantes em outros continentes e coloca a CIA na berlinda. O cineasta elegeu como alvo o Chile de 1973. O golpe de estado que derrubou o presidente socialista Salvador Allende, eleito diretamente, alçou ao poder o general Augusto Pinochet, que inaugurou uma das ditaduras mais sangrentas da América do Sul. 11/09/01 até agora não tem distribuidora para os Estados Unidos.

Solidariedade – Chris Day estava em Nova York quando as Torres Gêmeas do World Trade Center ruíram. Chris revela que viu a tragédia de perto: “Fazia um estágio no (jornal) The New York Post. Naquele dia, acompanhava um desfile de moda e por pouco não estava nas Torres Gêmeas”.

A fotógrafa abre neste domingo na academia Reebok Sports Club, em São Paulo, a exposição September Eleven. “Estava no meio do caos, e fotografar foi uma forma de me proteger dele. Mas não quis registrar os escombros, as vítimas, o horror. Quis trazer outra visão, o lado humanitário, solidário”, afirma.

Fez as fotos sob o impacto imediato dos atentados. “Registrei o que me tocava sem saber o que fazer com as fotos”, diz. Em nenhum momento, porém, pensou em mudar o enfoque do trabalho, que deve chegar às livrarias em outubro, na forma do livro 11/9. “É um trabalho sensível, que vai além da tragédia”, afirma. A mensagem é clara: “Apesar do terror, pode existir paz.”

Armas e religião – O Grupo Tapa, dirigido por Eduardo Tolentino de Araújo, se encontrava em processo de montagem de Major Bárbara quando os aviões atingiram o World Trade Center e o Pentágono.

Major Bárbara, que está em cartaz em São Paulo, aborda o fanatismo religioso na figura de Bárbara (major do Exército de Salvação) e a indústria bélica por meio de Undershaft (poderoso dono de uma fábrica de armamentos). O texto, de Bernard Shaw, é de 1905, mas nunca foi tão atual.

“A partir dos atentados decidimos verticalizar, discutir com mais rigor. Houve uma mudança na qualidade da postura do grupo. Não podíamos fugir ou nos omitir. Se a carne está exposta, vamos analisá-la, por mais cruel que seja. É preciso enfrentar os medos pequeno-burgueses”, diz o ator Zé Carlos Machado, que ganhou o Prêmio APCA pela interpretação de Undershaft.




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