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Até 70% dos pacientes da rede municipal são de cidades vizinhas

Insatisfação com o serviço ofertado motiva migração; impacto financeiro gera preocupação

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
27/05/2018 | 07:00
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Celso Luiz


Unidades de Saúde municipais da região, principalmente as que atendem urgência e emergência, recebem até 70% do total de pacientes de cidades vizinhas. Embora o SUS (Sistema Único de Saúde) assegure o acesso universal, a migração, causada pelo descontentamento com o serviço oferecido no local de residência, gera impacto aos cofres das prefeituras, que recebem verba carimbada dos governos federal e estadual para atender sua população.

A situação é observada em todas as sete cidades (veja a arte ao lado), no entanto, de forma mais intensa em Santo André. Na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Bangu, reinaugurada em abril, chega a 70% o atendimento de pessoas de Mauá e da Zona Leste de São Paulo em relação ao total de pacientes. “Quando melhora o padrão de atendimento, as pessoas procuram. Vamos fazer gestão junto aos municípios vizinhos no sentido de que eles também implementem serviços”, projeta o secretário de Saúde, Márcio Chaves.

Em São Bernardo, a procura maior de pacientes ‘estrangeiros’ é pela pediatria do PS (Pronto-Socorro) Central – o correspondente a 60% do atendimento mensal total. Já nas nove UPAs, o percentual é mais baixo, de 20%. A cidade possui 1,4 milhão de cadastros ativos de pacientes, sendo 16% de moradores de outras cidades. Entre os 232,7 mil usuários vizinhos da rede de Saúde, a maior parte – 20% – é de indivíduos de Diadema. “Isso acaba impactando diretamente no fluxo das unidades”, ressalta o secretário de Saúde, Geraldo Reple.

Em Ribeirão Pires, no Hospital e Maternidade São Lucas, entre janeiro de 2017 e abril de 2018, foram realizados 865 partos. Destes, 27% em moradoras das cidades vizinhas. A Prefeitura diz que iniciou tratativas para a repactuação de recursos destinados aos pacientes de Rio Grande da Serra, que correspondem à maioria.

MOTIVOS
A auxiliar de limpeza Cristiane da Costa, 40 anos, se deslocou do Jardim Sapopemba, na Capital, até a UPA Bangu, em Santo André, em busca de que o eletroencefalograma do filho, feito em unidade próxima à sua casa, fosse avaliado. “Já passamos outras vezes aqui.”

A também auxiliar de limpeza Maria de Fátima Oliveira, 38, de Santo André, foi até o PS Central de São Bernardo levar o filho ao pediatra. “Cada munícipe deveria passar do lado de onde mora, porque acabo tomando o lugar de outra pessoa, mas acho tudo aqui (na rede de São Bernardo) mais rápido”, confessa.

Investir na atenção básica é primordial

Investir na rede de atenção básica é essencial para reduzir a alta demanda nas unidades de urgência e emergência, que se sobrecarregam ainda mais com pacientes vindos de outras cidades. Essa é a avaliação da professora de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento.

“É a porta de entrada do sistema de Saúde, capaz de resolver 80% dos problemas”, aponta a especialista, apontando, no entanto, a necessidade de fazer essa capacidade valer. “Precisa de empenho, investimento, profissionais, capacitação e organização da rede. O gestor tem que cumprir com a obrigação de, no mínimo, prestar atenção básica de Saúde de qualidade para seus munícipes.”

A migração não só sobrecarrega a cidade que a recebe, como impacta também a que deveria prestar o atendimento. “O município só recebe a verba federal se ele atende. Se uma cidade está acostumada a atender uma quantidade de munícipe, a migração de outros pode gerar impacto negativo”, alerta o especialista em Saúde Pública Victor Hugo Bigoli.

A busca por atendimento mais rápido e eficaz pelo outro município, com menos fila e maior otimização, conta ainda com facilitadores característicos da região: a proximidade entre as cidades e a facilidade de deslocamento. “Temos municípios muito próximos e com um número de habitantes tão diferente. Exemplo: São Bernardo e São Caetano. O tamanho do território e as estruturas de Saúde ofertada geram o impacto e a transição dessa população”, pontua Bigoli. 




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